28/08/2024 – 18:39
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados
A Comissão Participativa de Legislação (CLP) da Câmara dos Deputados encaminhará pedido de audiência ao ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, para debater as demandas pela reinstalação da Comissão Especial de Mortes e Desaparecidos Políticos (CEDMP) , vinculado à pasta. A comissão foi criada em 1995 para buscar o reconhecimento de pessoas mortas ou desaparecidas devido a atividades políticas, incluindo a localização de corpos.
A audiência com Almeida foi sugerida pelo presidente do CLP, deputado Glauber Braga (Psol-RJ). “A estrutura que o ministério tem para atender às necessidades do CEDMP não é suficiente para chegarmos ao ano de 2026 com todos os objetivos cumpridos”, avaliou Braga, que propôs o debate na Câmara para ouvir representantes de familiares de mortos e desapareceu durante a ditadura militar no Brasil.
Presidente da Comissão Especial de Mortes e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga explicou que a comissão foi extinta em 2020 de forma não prevista na legislação e reinstalada no dia 4 de julho.
Segundo ela, o ponto de partida para o trabalho do colegiado será a conclusão da Comissão Nacional da Verdade, que reconheceu 434 casos de mortes e desaparecimentos políticos.
Ela sugeriu, porém, que o governo brasileiro e as Forças Armadas sinalizem aos seus integrantes que apoiam a revelação do destino dos corpos e que o Supremo Tribunal Federal (STF) reabra a discussão sobre a interpretação da Lei de Anistia. “Enquanto houver impunidade não temos instrumentos para chegar à verdade. O país precisa dar outro tipo de sinal a esses torturadores”, afirmou.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Ivan Seixas: “Exigimos e não desistimos das reparações”
Arquivos militares
Além de mais estrutura e recursos para o funcionamento do CEDMP, os participantes exigiram a abertura dos arquivos militares da época e mudanças na interpretação da Lei da Anistia, a fim de permitir o julgamento e punição dos responsáveis pelas torturas e mortes em o período (1964-1985).
“Não desistimos dos reparos. Não é uma opção, é uma obrigação fazer isso, porque só assim se consolidará a condenação que a sociedade democrática faz à ditadura”, destacou Ivan Seixas, representando familiares de políticos mortos e desaparecidos.
Lembrou ainda que 30 de agosto é o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados e que hoje, 28 de agosto, a Lei de Anistia completa 45 anos. Por lei, exilados e banidos retornaram ao Brasil, pessoas que estavam escondidas puderam retomar suas vidas, réus tiveram seus processos em tribunais militares anulados e presos foram libertados de prisões e delegacias.
Rogério Sotile, do Instituto Vladimir Herzog, reconheceu que a lei foi uma conquista para a redemocratização do país, mas defendeu que o Estado brasileiro assume a responsabilidade de não encerrar o processo de busca e identificação de pessoas enquanto houver um político desaparecido .
“A Lei da Anistia é uma conquista, mas precisamos passar por todo o processo de luta para ter uma nova interpretação [do Supremo Tribunal Federal] para que possam ser responsabilizados aqueles que cometeram crimes contra a humanidade”, destacou.
Reportagem – Murilo Souza
Montagem – Roberto Seabra
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