Especialistas cobram efetividade na aplicação da Lei Maria da Penha – Notícias

Especialistas cobram efetividade na aplicação da Lei Maria da Penha – Notícias


26/08/2024 – 19:55

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Reginete Bispo: não adianta ter delegacia da mulher se o atendimento não for acolhedor

Ao discutir na Câmara o Lei Maria da Penhaque completa 18 anos em 2024, os debatedores destacaram a importância desta legislação e exigiram políticas públicas que garantam a aplicação dos direitos que ela garante às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. A ouvidora do Ministério da Mulher, Graziele Carra Dias, cobrou que o Estado garanta atendimento especializado de fato às mulheres que procuram órgãos públicos. Segundo o ombudsman, a violência institucional responde por grande parte das denúncias que o órgão recebe, perdendo apenas para os casos de assédio.

Graziele Dias explica que um caso comum de violência institucional ocorre no Judiciário, quando os juízes não levam em conta as diferenças de gênero nas decisões e colocam as mulheres em situações de violência. Ainda segundo a ouvidoria, há inclusive casos recentes de juízes que negaram medidas protetivas com base em opiniões pessoais sobre a vida da vítima.

A cofundadora e vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa, também defende que o sistema de acolhimento às mulheres precisa reconhecer outras formas de agressão, como a violência patrimonial, psicológica, moral e sexual. Segundo ela, a violência física ainda é praticamente a única “evidência clara” aceita para o andamento do caso.

“Infelizmente, acabamos seguindo o mesmo caminho que Maria da Penha Maia Fernandes percorreu: sofreu duas tentativas de feminicídio, mas passou 19 anos e seis meses sofrendo violência institucional”, destacou.

Autora do pedido para a realização do debate na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, a deputada Reginete Bispo (PT-RS) concorda que é fundamental criar uma estrutura de acolhimento adequada às mulheres que sofrem violência.

“Não basta ter uma delegacia da mulher se quem a atende faz essa seletividade – se for negra, pobre, periférica, recebe assistência; se você é de classe média, branco, você recebe atendimento diferenciado. Os serviços públicos de atendimento têm que estar muito bem preparados, muito bem capacitados para acolher as mulheres, independentemente da sua condição social, da sua cor, da sua religião”, afirmou.

Segundo a diretora de Promoção de Direitos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Letícia de Almeida Peçanha, o ministério trabalha na construção de salas reservadas para mulheres, não só em delegacias, mas em institutos médicos legais e na Justiça . . Esses espaços, segundo a gestora, contarão com profissionais especializados, preferencialmente do sexo feminino, para evitar a revitimização das mulheres.

Lei Maria da Penha
Em vigor desde 2006, a Lei Maria da Penha é uma homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que sofreu violência doméstica por quase 20 anos e ficou paraplégica em decorrência das agressões. Além de classificar os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, a lei prevê atendimento especializado às vítimas e medidas de prevenção.

De acordo com a legislação, é crime “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial” à vítima.

Relatório – Maria Neves
Edição – Ana Chalub



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