O treinador Pablo Marçal está conquistando eleitores bolsonaristas do prefeito Ricardo Nunes na disputa pelo Prefeitura de São Paulo. Pesquisa interna de dois candidatos a prefeito mostra que o treinador está na margem de erro de um triplo empate com o próprio Ricardo Nunes e o candidato Guilherme Boulos.
Antes mesmo das urnas, Bolsonaro já sentia a mudança no vento. Nesta quinta-feira, em entrevista à Rádio 96 FM de Natal, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse o seguinte sobre Pablo Marçal, candidato do PRTB a prefeito de São Paulo:
“Fala muito bem, é uma pessoa inteligente, tem suas virtudes. Ele não tem experiência, mas faz parte disso.”
Disse então o seguinte sobre o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, a quem apoia oficialmente:
“Assinei com Ricardo Nunes. Ele não é o candidato dos meus sonhos, mas tenho um compromisso. Eu vou ajudá-lo sempre que possível.
Por que Bolsonaro falaria em Natal sobre a eleição em São Paulo? Porque quer alertar Nunes e o PL que poderá aumentar a candidatura de Marçal se as sondagens mudarem de rumo.
Pablo Marçal é o Bolsonarismo 2.0. Ele não fala de Bolsonaro, não tem o apoio de Bolsonaro, mas assim como seu ídolo se apresenta como um candidato antipolítico, conservador, cristão e “autêntico”, nome que os marqueteiros dão às pessoas rudes. Do ponto de vista formal, o seu desempenho nos dois debates até agora tem sido fraco. Mas quem se importa com as propostas quando elas têm repercussão?
Seria preciso ter estado em Marte para não ter assistido a um dos vários vídeos do debate da semana passada, quando Marçal sacou uma carteira de trabalho e a utilizou como instrumento de exorcismo contra o seu adversário Guilherme Boulos. Somados, só os vídeos de Marçal no Instagram acumularam mais de 4 milhões de visualizações em dois dias. Assim como Carlos Bolsonaro fez em 2018 para a campanha do pai, Marçal ganhou força através da trollagem, com vídeos curtos misturando humor de quinta série e ódio à esquerda. Funciona muito bem.
Na ciência política, o que Marçal faz é chamado de “galope de Gish”, um termo cunhado pela antropóloga americana Eugenie Scott para a estratégia retórica do criacionista americano Duane Gish. Nos debates sobre a intervenção divina na origem do universo, Gish ligava meias verdades, estatísticas fora de contexto, deturpações e mentiras com tamanha profusão e velocidade que o interlocutor não sabia por onde começar a resposta. É a retórica rotativa da metralhadora que consagrou populistas como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Millei.
A técnica consiste em garantir que, por mais que o oponente refute parte das falácias, outra parte não será respondida. A intenção não é vencer o debate, mas gerar no público a impressão de que o autor das mentiras não só é sincero, mas que enfrenta todo um sistema para dizer a verdade.
É difícil se opor a um candidato como este, como explica o programador italiano Alberto Brandolini que, em 2013, fez um axioma sobre a dificuldade de verificar e corrigir a profusão de bobagens na internet: “a quantidade de energia necessária para refutar as bobagens é um ordem de grandeza (isto é, dez vezes mais) do que o necessário para produzi-lo”.
Na pesquisa Datafolha da semana passada, Marçal apareceu em terceiro lugar com 14% das intenções de voto, atrás de Nunes, com 23%, e Boulos, com 22%. Durante a semana, o acompanhamento da campanha de Nunes mostrou que Marçal tem a preferência de 40% dos eleitores bolsonaristas.
Numa cidade onde 6 em cada 10 eleitores rejeitam Bolsonaro, Marçal tem a vantagem de poder angariar a sua simpatia sem precisar do apoio formal do ex-presidente. Enquanto Nunes carrega o ônus e o bônus, Marçal até agora só tem o bônus.
Com mais de 12 milhões de seguidores no Instagram, Marçal coloca seus seguidores para trabalhar para ele, recompensando com dinheiro os criadores dos cortes de vídeo com maior engajamento, numa espiral de repercussão sem fim.
Treinador de autoajuda, Marçal declarou à Justiça R$ 190 milhões em bens, ganhos por meio de cursos no estilo “os códigos do milhão” e “como ser um vencedor”, que custam a partir de R$ 20 mil. No ano passado, um homem que participava de um desses cursos morreu após sofrer uma parada cardíaca durante uma maratona surpresa.
Em 2022, ele colocou um grupo de 32 seguidores perdidos no Pico dos Marins, um dos mais altos do estado de São Paulo e trilha com histórico de mortes. Durante o curso, Marçal prometeu aos alunos “códigos que desbloqueiam a mente” no final da subida. O grupo teve que ser resgatado pelos bombeiros sob risco de hipotermia.
Sua ficha criminal inclui uma condenação em Goiás por furto qualificado por participação em quadrilha que criava sites falsos para bancos públicos, enviava cobranças de inadimplência aos correntistas, obtinha dados pessoais e roubava dinheiro de contas.
Eleito deputado federal em 2022 com 243 mil votos, Marçal teve a candidatura cassada por abuso de poder econômico e fraude contábil. A Polícia Federal investiga Marçal por indícios de fraude eleitoral, apropriação indébita eleitoral e lavagem de dinheiro nas eleições do ano anterior.
No mundo normal, um cara com esse histórico estaria ocupado com sua defesa jurídica. Não vivemos em um mundo normal.
No início da campanha, Marçal já disse que sua principal proposta é “tirar Nunes da prefeitura”, mas sua vítima preferida é Boulos. Assumindo o mesmo papel que Bolsonaro teve nas eleições anteriores, insinuou que Boulos usa drogas, é terrorista e não trabalha. No debate do Estadão, os dois quase trocaram socos.
Tirando votos de Nunes e desequilibrando Boulos, Marçal já é o primeiro vencedor desta eleição. Seu interesse não é ser eleito prefeito, mas romper a bolha de seus seguidores, ampliando as possibilidades de negócios e atraindo parte da extrema direita que ficou órfã desde que Bolsonaro perdeu seus direitos políticos. Ele já conseguiu isso.
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