FOLHAPRESS – A direção do Congresso avalia que há interferência direta de representantes do governo Lula (PT) nas decisões do ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), o que levou à paralisação de emendas parlamentares, abrindo uma nova frente de erosão do Legislativo com os dois Poderes.
Agora, os parlamentares discutem, em resposta à decisão de Dino, um pacote de medidas visando o Supremo e o Executivo. Parte dessa iniciativa é um apelo enviado nesta quinta-feira (15/8) pelo Congresso ao STF, com apoio de partidos, para derrubar liminares do ministro.
Dino suspendeu todas as emendas obrigatórias de deputados e senadores até que o Congresso edite novas regras que garantam transparência e rastreabilidade dos recursos.
O recurso contra a decisão teve assinaturas dos presidentes da Câmara e do SenadoArthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente, e presidentes dos partidos políticos: PP, União Brasil, Republicanos, PL, PSB, PDT, PSD, PSDB, MDB e Solidariedade.
O PT de Lula também endossou o documento. O documento foi assinado pelo líder do partido na Câmara, Odair Cunha (MG), e pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Além do recurso, dirigentes e Lira discutiram outras reações em reuniões reservadas. Uma delas é a apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para restringir quem pode apresentar ADIs (ações diretas de inconstitucionalidade, que muitas vezes questionam decisões legislativas). Segundo dirigentes da Câmara, essa é uma das reclamações recorrentes de Lira.
Outra é determinar que cada ministro do governo federal seja obrigado a apresentar bimestralmente ao CMO (Comitê Misto de Orçamento) a prestação de contas da execução orçamentária de cada departamento. Dessa forma, diz um dirigente, também seria exigida transparência do Executivo.
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Em outra frente, a oposição pressiona para que Lira inicie a tramitação da PEC que limita as decisões individuais dos ministros do STF. A matéria foi aprovada em novembro pelo Senado e, desde então, não é discutida na Câmara. Essa iniciativa, porém, não foi formalmente discutida entre lideranças e Lira – e, sim, por meio de apelos de parlamentares a Alagoas.
O desconforto dos cardeais do Congresso com a decisão de Dino foi ampliado nesta quinta-feira com uma declaração do próprio presidente Lula (PT), interpretada pelos parlamentares como um atestado de que o Executivo participou desse movimento do ministro do STF.
O presidente afirmou que não há “nenhum país no mundo em que o Congresso Nacional tenha seqüestrado parte do Orçamento para si em detrimento do Poder Executivo”, como diz ter acontecido no Brasil.
“Então agora tivemos essa decisão do ministro Flávio Dino. Acho plenamente possível estabelecer uma negociação com o Congresso Nacional, e chegar a um acordo razoável”, continuou.
Ainda nesta quarta (14), o Congresso deu duas respostas para demonstrar insatisfação com as decisões sobre emendas.
Primeiro, os deputados adiaram a conclusão da votação do segundo projeto de regulamentação da reforma tributária, prioritário para o governo. Também não votaram o projeto de lei que cria o programa Acreditar, que incentiva o crédito para empreendedores e famílias de baixa renda – o texto precisa ser votado até o dia 20, quando expira a medida provisória do Executivo.
Agora, esses projetos só deverão ser votados na última semana de agosto. Devido às eleições municipais, a Câmara não terá sessões na próxima semana.
O segundo movimento partiu da CMO, tendo como alvo o Judiciário. O colegiado rejeitou MP (medida provisória) enviada pelo Executivo que abre crédito extraordinário de R$ 1,35 bilhão ao Judiciário. A decisão precisa ser validada ou não no plenário da Câmara.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, reclamou da iniciativa em telefonema para Lira. A presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Maria Thereza de Assis Moura, pediu ajuda a Pacheco para evitar o retrocesso, que impacta diretamente nos pagamentos do tribunal.
Dois líderes governamentais minimizam a participação do Executivo neste processo, afirmando que o governo sofreu reveses com esta decisão na Câmara, citando, especificamente, o adiamento da votação dos projetos Tributário e de Crédito.
Cientes da reação do Congresso, membros do governo e da Suprema Corte tentaram agir para amenizar o atrito.
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse à reportagem que o governo quer uma solução junto com o Congresso para as emendas parlamentares. O ministro defende não bloquear recursos que já começaram a ser empenhados, por determinação de Dino.
A repercussão veio após o discurso de Lula sobre as emendas. “A orientação do discurso do presidente é clara: construir uma solução pactuada que, a meu ver, separe o joio do trigo: as emendas parlamentares, a participação dos parlamentares nas indicações orçamentárias, os projetos, tanto para a realidade local quanto para temas setoriais, são muito importante”, afirmou.
“O próprio governo, no início da semana, já entrou com pedido no sentido de que recursos já comprometidos, obras em andamento que não poderiam ser paralisadas”, continuou Padilha.
A fala do ministro vem no esforço de minimizar a animosidade com a declaração do presidente e evitar que retaliações do Congresso cheguem ao governo.
Nesta quinta, oito ministros do STF se reuniram no almoço e discutiram as decisões de Dino –a reunião foi convocada por Barroso, após conversa com Lira. O julgamento que poderá referendar a decisão monocrática do magistrado do tribunal está previsto para começar à meia-noite desta sexta-feira, em formato virtual.
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