BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Deputados e senadores rejeitaram MP (medida provisória) enviada pelo governo Lula (PT) que abre crédito extraordinário de R$ 1,35 bilhão ao Judiciário, em resposta à decisão do ministro na noite de quarta-feira (14/8) Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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A votação ocorreu na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e a decisão precisa ser validada ou não no plenário da Câmara. O parecer contrário à MP foi apresentado pelo deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) e aprovado simbolicamente.
Nesta quarta-feira, Dino decidiu suspender todas as emendas obrigatórias apresentadas por deputados e senadores até que o Congresso edite novas regras para que a liberação de recursos seja transparente e rastreável.
A decisão pegou os parlamentares de surpresa, gerando um novo foco de divergência entre o Legislativo e o Judiciário. Entre os dirigentes da Câmara há uma avaliação de que o Judiciário estaria mais uma vez ultrapassando e invadindo as prerrogativas dos parlamentares.
A resposta veio do Comitê Misto de Orçamento (CMO). Inicialmente, estava prevista a realização de uma reunião colegiada para apreciação de um PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) que estabelecerá novas regras para as “emendas do Pix”. Com a decisão de Dino, foi cancelado.
Poucos minutos depois, porém, foi convocada nova sessão do CMO com a medida provisória em pauta. Como mostrou a Folha de S. Paulo, uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) levou o governo a abrir esse crédito ao Judiciário, contrariando o Executivo e gerando críticas no Legislativo.
Na votação na CMO, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), relator do novo marco fiscal, usou argumentos técnicos para defender a rejeição da medida, que liberou recursos fora das regras fiscais. “Faça MP aumentar salário retirando teto de gastos [do arcabouço fiscal]…Quando aceitamos isto, é melhor não haver regras fiscais neste país”, disse ele.
“O governo publicou a MP para cumprir formalmente a determinação do TCU, que não deveria ter feito, por se tratar de um órgão que fiscaliza as contas públicas”, acrescentou.
O deputado Orlando Silva (PC do B-SP) disse que a derrubada da MP seria ineficaz, tendo em vista que grande parte dos recursos liberados pelo crédito extraordinário já foram comprometidos (ou seja, já começaram a ser executados) . Ele foi o único a votar contra a rejeição do texto e defendeu uma reação política à suspensão das emendas, mas com diálogo.
“O Parlamento precisa de responder à interferência”, disse Silva, considerando que é necessário estabelecer um diálogo para evitar uma escalada. “Uma resposta baseada em uma reação inoportuna não ajuda. Deveríamos ter uma resposta, se necessário, baseada na razão”, afirmou o deputado.
“É necessária uma resposta política que seja eficaz, refletida, liderada pelo presidente Arthur Lira [Câmara] e pelo presidente Rodrigo Pacheco [Senado] num diálogo que produza estabilidade”, acrescentou.
Além disso, dois dirigentes familiarizados com as negociações e que estiveram em reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na noite de quarta-feira, afirmam que outras medidas estão sendo estudadas para novas mensagens ao Judiciário – e ao governo federal.
Isso porque dizem acreditar que o movimento de Dino conta com o apoio e a participação de membros do Executivo.
Uma delas é determinar que os ministros do governo federal sejam obrigados a apresentar periodicamente ao CMO um balanço da execução orçamentária de cada departamento. Dessa forma, diz um dirigente, seria exigida transparência dos parlamentares, mas também do Executivo.
Outra medida em estudo é a apresentação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que restringe quem pode apresentar ADIs (Ação Direta de Inconstitucionalidade). Esse é um tema que já havia sido discutido por Lira e lideranças em reunião na terça-feira (13).
Pelo menos dois ministros do governo Lula disseram nesta quarta-feira que era preciso avaliar o alcance da decisão de Dino, mas admitiram que a determinação por si só piora o clima com o Congresso.
Nesta quarta-feira, a AGU (Advocacia-Geral da União) enviou petição a Dino pedindo que o governo dê continuidade ao compromisso de encomendar emendas que já estavam previstas.
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