13/08/2024 – 20:47
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Pesquisa apresentada na comissão foi encomendada pela CNTA
O caminhoneiro autônomo brasileiro é do sexo masculino em 99% dos casos, tem idade média de 46 anos, exerce a profissão há 17 anos, trabalha 12 horas por dia por R$ 39,50 a hora trabalhada, cuida pouco do seu saúde e muitas vezes faz uso de medicamentos e outras drogas para ficar acordado por mais tempo.
Esses são apenas alguns dos dados de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e apresentada nesta terça-feira (13) na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.
A pesquisa foi realizada pela AGP Pesquisas em maio deste ano com 1.006 caminhoneiros de todas as regiões do Brasil, em pontos de concentração, postos de gasolina, pontos de descanso e áreas portuárias, para abordar diferentes realidades desse profissional que transporta 80% das cargas no país. todo o país, excluindo a mineração.
O conselheiro da CNTA, Alan Medeiros, que apresentou os dados, chamou a atenção para o envelhecimento da categoria, a insegurança nas estradas, a necessidade de oferecer paradas para descanso e exames toxicológicos gratuitos, além de linhas de crédito para renovação da frota de caminhões.
“Quase metade dos caminhoneiros acredita que nunca há ações reais por parte do governo federal para incentivar a permanência da categoria na estrada”, afirmou Alan Medeiros. “Quanto a querer ou não continuar na profissão, 46% dizem que sim, mas 54% pensam em sair. Então, vocês podem imaginar, os profissionais já estão envelhecendo, a média é de 46 anos, não querem continuar na profissão, são poucos os jovens, qual será o futuro do transporte rodoviário de cargas no nosso país?” , ele perguntou.
Estima-se que no Brasil cerca de 1,9 milhão de pessoas trabalhem no transporte de cargas.
Melhores condições
Presidente da CNTA, Diumar Bueno também defendeu a oferta de condições aos caminhoneiros: renda razoável, segurança, renovação da frota e embarque direto sem intermediários.
“Não se trata de entrar em conflito com as empresas de transporte. O que precisamos é qualificar melhor os caminhoneiros”, defendeu Bueno. “Hoje são muito explorados por atravessadores, transportadores, empresas cadastradas que não têm caminhão, só usam o autônomo.”
O deputado Zé Trovão (PL-SC), que sugeriu o debate, acredita que, para perpetuar a profissão, é preciso aumentar os recursos e melhorar a qualidade das estradas brasileiras.
“O caminhoneiro no asfalto só pensa em cumprir o horário, encontrar um lugar bom para dormir e um lugar barato para abastecer. Somos responsáveis por dar a ele aquilo que ele não consegue ver diante dos olhos”, disse o parlamentar.
A valorização dos caminhoneiros também foi defendida pelo deputado Marco Brasil (PP-PR). “Eu sei da solidão, sei da luta, do abandono de familiares, eles estão desesperados para voltar para casa. Essa profissão tem que ser valorizada”, reforçou.
Governo
Representantes do governo federal presentes na audiência afirmaram que grande parte dos dados apresentados na comissão coincidem com informações do próprio governo.
O superintendente de Transportes Rodoviários e Serviços Multimodais de Cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), José Amaral Filho, chamou a atenção para a situação que um país tão dependente do transporte rodoviário poderá enfrentar nos próximos anos, especialmente no transporte de grãos.
“O Brasil vem batendo recorde após recorde. Mas a expansão dos profissionais da categoria de transportes não vem acontecendo da mesma forma”, afirmou Amaral Filho.
O coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Leonardo Rodrigues, abordou a instalação de pontos de parada e descanso nas rodovias federais. O assunto, disse ele, vem sendo discutido e é um desafio.
“Não é simplesmente fornecer um espaço. As políticas de higiene e segurança dos trabalhadores devem ser discutidas”, observou. Por outro lado, ele lembrou que hoje existem 94 pontos credenciados pelo Dnit na rede federal – o que ainda não é suficiente. Há também questões orçamentárias, segundo ele, que impedem o progresso.
A recomendação do presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens), Norival de Almeida Silva, é que o Brasil não espere um apagão no transporte para olhar a situação dos caminhoneiros autônomos.
Reportagem – Noeli Nobre
Edição – Ana Chalub
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