Lula recorre à cautela e tenta serenar os ânimos n…

A fragilidade política do governo Lula é conhecido — e reconhecido até pelo presidente da República, que cedeu espaços generosos no ministério a partidos do chamado Centrão e prefere a negociação às disputas na relação com o Congresso. O pragmatismo do petista é uma das marcas de seu terceiro mandato, mas, por mais que seja reiterado em declarações e atos públicos, não tem conseguido dissipar dúvidas dentro de sua própria base de apoio.

Na reunião ministerial da última quinta-feira, dia 8, Lula decidiu então tentar acalmar a situação na Praça dos Três Poderes. Ele declarou que não pretende realizar uma reforma ministerial ou fazer mudanças pontuais no time porque acredita na máxima de que “não se anda em time vencedor”. O presidente é um otimista inveterado e, aparentemente, não se importa com o fato de um terço do país considerar sua gestão ruim ou péssima, segundo a última pesquisa Datafolha.

A declaração de Lula é uma reação à pressão constante por reformas. Os petistas querem substituir o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Líderes do Centrão cobiçam pastas mais poderosas, com destaque para Saúde. Há muito circula a versão de que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, está por um fio. E assim por diante.

Na reunião, o presidente impôs um freio às especulações, mas nada o impede de mudar de opinião rapidamente, como fez inúmeras vezes ao sacrificar ex-companheiros. Tudo depende da conveniência e do cálculo político da ocasião.

Sucessão no Congresso

Lula também pregou cautela com as eleições para o Congresso, marcadas para fevereiro do próximo ano. Em tese, o governo não interferirá no assunto, que é de competência exclusiva do Poder Legislativo. Na prática, o comandante da Câmara, Artur Lira (PP-AL), quer fazer sucessor em acordo com o Presidente da República. Os detalhes da disputa estão em reportagem na nova edição de VEJA.

Na reunião, Lula atuou para segurar as rédeas do processo, já que diversos atores ligados a ele se movimentam no caso de sucessão na Câmara. A bancada do PT, por exemplo, tem resistido ao nome do líder do União Brasil, Elmar Nascimento, favorito de Lira. Os ministros também estão conversando e coordenando com os pré-candidatos, o que estimulou reclamações e desconfiança nos bastidores.

Esse tipo de convulsão é tudo o que Lula quer evitar. Minoritário no Congresso, ele depende de um ambiente mínimo de harmonia com Lira e com as lideranças da Câmara —a atual e a futura— para manter a governabilidade e a chance de aprovar pontos prioritários de sua agenda. Com a esquerda enfraquecida, resta ao petista negociação e cautela.