O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi o principal alvo do primeiro debate da disputa eleitoral para Prefeitura de São Pauloque começou na noite desta quinta-feira, dia 8, e durou até a madrugada de sexta-feira, dia 9. José Luiz Datena (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) fizeram perguntas entre si para criticar a atual gestão da prefeitura. Os candidatos usaram uma estratégia para isolar Tabata Amaral (PSB), enquanto Pablo Marçal (PRTB) apostou em um discurso enfático voltado aos seguidores das redes sociais. Nos estúdios da Band, as ofensas pessoais se sobressaíram às propostas sobre a cidade. Após uma discussão inicial sobre a região central da capital paulista, os ataques começaram quando Marçal questionou os ministérios do MDB no governo Lula e a saída de Marta Suplicy (PT) da gestão de Nunes para ser candidato a vice-presidente de Guilherme Boulos. O emedebista respondeu chamando o adversário de “Bla bla bla Marçal”.
Respondendo à pergunta de Datena, o candidato do PSOL aproveitou para declarar o ditado: “Diga-me com quem você anda e eu te direi quem você é. Não estou favorecendo um amigo com contrato.” Anteriormente, o psolista já havia questionado o prefeito sobre quem é Pedro José da Silva, compadre de Nunes contratado para obras emergenciais na Prefeitura, segundo o psolista. Boulos sugeriu que os telespectadores verificassem as informações no Google, inaugurando a estratégia de levar o debate para o ambiente digital. Ricardo Nunes se esquivou das acusações, apresentou seu número de gestão e adotou a imagem de trabalhador: “Minha vida era trabalhar, acordar cedo, muito diferente de você, você não é candidato?”, reagiu o prefeito, que se mostrou encorajado com o sinal de positivo do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, que acompanhava o debate nos bastidores.
Boulos fez questão de levar o debate para além da televisão e disse que foi publicada nas redes sociais uma frase de Pablo Marçal sobre um golpe envolvendo aposentados em Goiás. O anúncio gerou aplausos de apoiadores presentes na plateia, liderados pela ex-prefeita Marta Suplicy e seu marido Márcio Toledo. O primeiro bloco terminou com discurso enfático de Pablo Marçal que, no intervalo, iniciou uma transmissão ao vivo no Instagram, alcançando 135 mil telespectadores. A atitude foi denunciada nos bastidores pelo ex-secretário de Comunicação de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, que acompanhava a equipe de Nunes. “Marçal está fazendo ao vivo e você pode ouvir tudo o que eles estão dizendo ao prefeito”, queixou-se Wajngarten aos apoiadores. Um integrante da equipe do candidato do PRTB tentou repetir a estratégia no segundo intervalo, mas foi retirado do palco pelos organizadores do debate. Naquele momento, 70 mil pessoas assistiam à transmissão paralela nas redes sociais de Marçal.
O bloco dos padrinhos políticos
No início do segundo bloco, Nunes tentou colar sua imagem no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “Hoje a minha primeira agenda, às 7h, foi com o governador”, disse após discursar sobre o rigor na segurança pública, defendendo o armamento da Guarda Civil Metropolitana e criticando Guilherme Boulos por ser a favor da desmilitarização de as forças de segurança. Tabata Amaral destacou que, no ano passado, conversou com ex-prefeitos de São Paulo para entender os problemas da cidade e afirmou que tem capacidade de conversar com os governos estadual e federal. “Sou o único candidato que pode trabalhar com o governador Tarcísio e com o presidente Lula”, reafirmou o candidato do PSB.
Datena colou sua imagem no ex-prefeito tucano Bruno Covas, que não terminou o mandato após não resistir ao câncer no aparelho digestivo, que o levou à morte em 16 de maio de 2021. Ao invocar a memória do último presidente da Prefeitura, o candidato do PSDB, em mais um ato duplo com Boulos, criticou Ricardo Nunes, que herdou a Prefeitura de Bruno Covas, e segundo Datena, não conseguiu cumprir as metas da gestão —antes do debate, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, admitiu que o alvo preferencial seria o atual prefeito, mas que Datena não pouparia críticas a Boulos.
No segundo bloco, as críticas à atual gestão centraram-se no transporte público e a meta de 40 quilómetros para corredores apenas de autocarros não esteve perto de ser cumprida. Boulos disse que vai “limpar os contratos de ônibus na cidade de São Paulo”, em referência à Operação Fim da Linha, do Ministério Público, que prendeu diretores de duas empresas concessionárias de transporte público por terem ligações com o Primeiro Comando da Capital. “Para melhorar o transporte público é preciso ser transparente”, disse Datena. Nos bastidores, a esposa do prefeito, Regina Carnovale Nunes, reagiu: “Você está chamando Ricardo de criminoso”. No direito de resposta, Nunes rebateu Datena, disse que estava “brincando” com Boulos e denunciou o tucano. “O apresentador José Luiz Datena já foi condenado por imputar crimes a inocentes.”
Escalada de ataques pessoais
A primeira questão ditou o tom do terceiro bloco de debates. Marçal dirigiu seu discurso a Guilherme Boulos e fez um gesto alusivo ao consumo de cocaína. Ao candidato do PSOL, a pergunta foi direcionada à posição do deputado em relação à política externa, perguntando sobre a posição do psolista sobre o Hamas, a Nicarágua e o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Boulos respondeu lembrando de um áudio em que Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, de Marçal, diz ter influência na atuação do PCC. O líder do partido nega as acusações. O psolista disse mesmo que estávamos perante um psicopata que “mente e nem cora”.
Depois foi a vez de Tabata Amaral levar Ricardo Nunes a sério. Ela relembrou um boletim de ocorrência registrado em 2011 por Regina, esposa do prefeito, contra ameaças do marido. A Polícia Civil confirmou à Folha de São Paulo que o registro realmente ocorreu, desmentindo o prefeito que disse em entrevista à Folha e ao Uol que o documento foi falsificado. A pergunta causou indignação na esposa de Nunes, que gritou da plateia. “Deixe minha família em paz”, disse ela. “Mulher agredindo mulher”, criticou Regina, que precisou ser acalmada pelos auxiliares que acompanhavam o prefeito.
Em mais uma dupla atuação com Boulos, Datena voltou a criticar o prefeito. “Ele me acusa de brincar com você porque não tem competência”, disse ela. “Esse cidadão está sendo investigado” e disse que o prefeito tem medo do crime organizado. Nunes respondeu sugerindo que Datena estava sob efeito de ansiolíticos. “Deve estar lá num maldito Rivotril” — gaguejou o apresentador durante vários discursos, o que foi motivo de ridículo entre seus adversários na plateia — e criticado diretamente por Pablo Marçal no final do debate. Ao sair do estúdio, o candidato do PRTB acusou, sem provas, Guilherme Boulos de ser “cheirador de cocaína” e entrou em confronto com os auxiliares do psolista.
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