Anúncio de Malafaia por neutralidade causa atrito…

O anúncio do pastor Silas Malafaia de que permanecerá neutro nas eleições deste ano para a Prefeitura do Rio causou atritos com o deputado federal e também com o pastor Otoni de Paula (MDB). Um dos grandes aliados de Jair Bolsonaro nos últimos anos, Malafaia decidiu não apoiar a aposta do ex-presidente, Alexandre Ramagem (PL). A posição favorece Eduardo Paes (PSD), que lidera as pesquisas de intenção de voto e já garantiu alianças com outras lideranças evangélicas. Para Otoni, porém, a escolha de Malafaia foi feita para que ele não tivesse “constrangimento com ninguém”.

Ao marcar sua posição neste primeiro turno, Malafaia destacou que a prioridade é eleger seu candidato à Câmara local: o pastor e cantor Waguinho (PL). E lembrou sua proximidade com Paes, que ao longo de sua gestão manteve boas relações com o segmento evangélico da cidade. O pastor, porém, considerou que a decisão de ficar em cima do muro não é novidade.

“Nas últimas três ou quatro eleições para prefeito do Rio, sempre me dediquei a eleger vereadores. Não apoio nenhum candidato”, diz. Aliás, na eleição anterior, em 2020, não se posicionou no primeiro turno, disputado entre Paes e o bispo da Universal Marcelo Crivella. Em 2018, quando o agora prefeito disputava o governo do estado, Paes teve o reforço declarado de Malafaia.

Se houver segundo turno, porém, é Ramagem quem deve ter a bênção do pastor. “Pela convergência de ideias, e também para testar algo novo. Eduardo (Paes) recorreu muito ao Lula. Mas ele ainda é meu amigo”, confirma Malafaia.

Troca de farpas

A decisão fez com que Otoni de Paula comentasse o assunto nas redes. O parlamentar, antes identificado com o bolsonarismo, decidiu apoiar pessoalmente Eduardo Paes (PSD) e atualmente coordena sua campanha entre os evangélicos. Sua postura lhe rendeu críticas constantes de ex-aliados da direita, principalmente do PL, que o chamam de “traidor”. Tornou-se pré-candidato a prefeito, o que não avançou internamente seu partido.

“A decisão do pastor Silas Malafaia deve ser respeitada”, publicou Otoni, que acrescentou: “Seria Malafaia o mais novo traidor da direita? Claro. É inegável o bom relacionamento que Eduardo Paes sempre teve com a comunidade evangélica. Paes não é e nunca foi de esquerda e vale lembrar que não foi candidato de Lula nas últimas eleições municipais, e o apoio crescente de lideranças evangélicas comprova isso”, escreveu.

A declaração irritou Malafaia. Para ele, Otoni “quer justificar seus erros porque está apanhando”. “Você quer me usar. Ele sempre xingou o Eduardo (Paes), e agora vem apoiar”, disse o pastor, que também publicou uma mensagem contra o deputado nas redes.

VEJA, Otoni rebateu e disse que sua escolha foi pelo conforto. “Ele sabe que não haverá segundo turno. Portanto, ele não vai passar vergonha de ninguém”, afirmou o deputado, que também é pastor, mas da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, ramo diferente da mesma igreja de Malafaia.

Apesar da posição do pastor, nos bastidores há quem diga que uma das principais figuras políticas de Malafaia, o vereador e secretário estadual da Juventude e Envelhecimento Saudável, Alexandre Isquierdo, também ligado à igreja, já atua em nome de Eduardo Paes. reeleição. Isquierdo não tentará voltar à Câmara este ano e seus votos deverão ir justamente para o candidato de Malafaia, Waguinho.

Questionado sobre a atuação do aliado, o pastor afirma que há “muita falácia” em períodos eleitorais, e que por ser secretário de Estado, Isquierdo tem um bom relacionamento com o prefeito da capital fluminense. “Mas ninguém vai vê-lo pedindo voto”, confirma.