08/05/2024 – 14h10
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Conselho de Comunicação Social reuniu esta segunda-feira
A representante da secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Marina Pita, afirmou nesta segunda-feira (5) que a proposta que regulamenta a inteligência artificial (PL 2338/23) em análise no Senado Federal é madura e equilibrada.
“Entendemos que o texto atingiu a maturidade, equilibrando as posições dos diversos órgãos governamentais, há mais de 19 ministérios envolvidos nesta discussão, e a versão atual é menos prescritiva que as anteriores, e entendemos que esse é o equilíbrio necessário para equilibrar inovação e proteção”, avaliou.
Ela participou de audiência pública sobre regulamentação de redes sociais e inteligência artificial promovida pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional. O projeto de regulamentação da inteligência artificial define regras gerais sobre o tema e está em debate na Comissão Interna Temporária de Inteligência Artificial do Brasil.
Apresentado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o PL 2338/23 é resultado do trabalho de uma comissão de juristas e está em análise junto com outras nove propostas, incluindo uma já aprovada pela Câmara dos Deputados (PL 21/20), que elenca diretrizes para a promoção e atuação do poder público no tema.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Marina Pita entende que o texto se preocupa com a integridade das informações
Regulamentação das redes sociais
Para Marina Pita, o texto se preocupa adequadamente com a integridade das informações – conceito que ela considera essencial. O representante da Secretaria de Políticas Digitais acrescentou ainda que a regulamentação da inteligência artificial não resolve o problema da regulação das redes sociais e que esta regulação não deve afetar os conteúdos individuais.
Segundo ela, é preciso proteger a liberdade de expressão com direito coletivo e difuso, além de proporcionar transparência em torno da publicidade nas redes, e, para isso, a regulação dos mercados e serviços digitais é essencial.
O Senado já aprovou em 2020 o Projeto de Lei 2630/20que pretende regulamentar as redes sociais e combater as chamadas fake news, mas o texto aguarda análise da Câmara desde então.
Regulamentação do TSE
O presidente do conselho, Miguel Matos, destacou que o Congresso deve estabelecer regras para o uso da IA que promovam a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, protejam a sociedade dos riscos que a tecnologia pode trazer.
Ele destacou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) regulamentou, de forma inédita, o uso da IA na campanha para as eleições municipais de 2024. “Entre as medidas estão a proibição de deep fakes, obrigação de alertar sobre o uso de inteligência artificial na propaganda eleitoral, proibição do uso de robôs para mediar contato com eleitores e responsabilização de grandes empresas de tecnologia por não removerem imediatamente conteúdos que contenham desinformação, medidas anti- discurso de ódio democrático, racista e homofóbico”, apontou.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Miguel Matos destacou regulamentação do uso de IA pelo TSE
Isenção
Mas na visão da pesquisadora Marilda Silveira, doutora em Direito Administrativo, a regulamentação do uso de IA nas eleições também deve ser discutida no Parlamento, concomitantemente à discussão sobre regras gerais para regular a tecnologia. Ela explicou que, da mesma forma que foi dada às emissoras de rádio e TV a obrigação de não se posicionarem nos debates eleitorais, é preciso impor a obrigação de não tomar partido nas eleições para as grandes plataformas digitais e fiscalizar isso.
Além disso, argumentou que o impacto e o risco da utilização da IA no processo eleitoral e o impacto e o risco no processo democrático deveriam ser separados na discussão. O pesquisador avalia que o Brasil sanciona mal o tema no processo eleitoral – com sanções posteriores, por meio da cassação de mandatos. “Precisamos repensar essa forma de controle e trazer outros tipos de sanções, suspensão de atividades, sanções alternativas, publicação de comunicados, como fazemos no controle da Lei Anticorrupção, repreensão pública”, mencionou.
Órgão regulador
Advogado especialista em Direito Digital e membro do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Fabrício da Mota Alves destacou que um dos pontos cruciais da discussão é a definição de um órgão regulador para tratar do tema.
“No atual estágio de discussão no Senado, o regulador proposto pelo senador relator é a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, e mais uma vez a importância da proteção de dados para este debate, pela sua natureza e essência”, observou.
Segundo o advogado, a proposta também destaca a necessidade de priorizar os reguladores setoriais, como o próprio TSE, responsável por monitorar o uso da IA nas eleições. Segundo o advogado, tanto a regulamentação legal do TSE quanto a proposta do Senado estão intimamente relacionadas e se assemelham em termos regulatórios.
O advogado defendeu que as discussões no Parlamento levem em conta a proposta do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 divulgada em 30 de julho pelo governo, na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos planeja investir R$ 1,76 bilhão no uso de inteligência artificial para melhorar os serviços públicos.
Ele também destacou a necessidade de campanhas educativas para que os cidadãos possam identificar os conteúdos produzidos pela IA e reagir. Os conselheiros do Conselho de Comunicação Social reiteraram a defesa da educação mediática nas escolas para o reconhecimento e utilização das tecnologias.
Relatório – Lara Haje
Edição – Rachel Librelon
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