Veja medidas para dar fim ao orçamento secreto

Veja medidas para dar fim ao orçamento secreto


O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, proibiu a execução de emendas sem transparência e proibiu o envio de emendas a outros Estados, entre outros pontos. (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, impôs novas obrigações ao Legislativo e ao Poder Executivo para acabar, de uma vez por todas, com a prática da orçamentação secreta. Revelado pelo Estadão em 2021, o esquema consistia no envio de recursos públicos às bases eleitorais de deputados e senadores, sem que fossem conhecidos os autores das indicações.

Para o ministro, a proibição da prática em dezembro de 2022 pelo STF não foi integralmente cumprida, e o orçamento secreto continuou a funcionar durante o governo Lula, por meio de outros mecanismos.

Segundo o Estadão, o orçamento secreto persiste no governo Lula, através da execução dos chamados “restos a pagar” das emendas do relator; por meio da execução do “ativo” de R$ 9,85 bilhões do orçamento secreto ao longo de 2023, e nas emendas do Comitê. São fundos indicados pelas comissões temáticas da Câmara e do Senado, mas sofrem do mesmo problema das emendas do relator: o “patrocínio” dos fundos é feito de forma informal, sem que se saiba qual parlamentar é responsável por qual indicação.

“É o que acontece na mera alteração legislativa da classificação orçamental, mas mantendo a prática relativa ao incumprimento dos deveres constitucionais de transparência e rastreabilidade”, escreveu Dino. “O STF (no final de 2022) invalidou todas as práticas que viabilizam o ‘orçamento secreto’, ou seja, aquelas em que não há transparência orçamentária, como se depreende dos trechos dos votos citados”, escreveu o ministro.

A audiência de conciliação desta quinta-feira (1º) foi convocada por Dino em meados de junho deste ano. Na avaliação do ministro, não há evidências de que o Executivo e o Congresso tenham interrompido a prática da orçamentação secreta. “Até o momento, não houve plena comprovação nos autos do integral cumprimento desta ordem judicial”, escreveu Dino, referindo-se à decisão do STF de dezembro de 2022, que julgou inconstitucional a prática do orçamento secreto.

Na decisão de apenas 18 páginas, Dino traz quatro determinações para dar transparência às alterações da Comissão e à execução do “restos a pagar” das alterações do relator. Uma reunião técnica entre representantes do Legislativo e do Executivo foi marcada para a manhã desta terça-feira (6), para cumprir a decisão de Dino. Conheça abaixo os principais pontos da decisão do ministro.

*Divulgar os nomes dos “padrinhos”

O ministro deu prazo de 30 dias para que os poderes Executivo e Legislativo divulguem os nomes dos deputados e senadores responsáveis ​​pela indicação do orçamento secreto original e das emendas da comissão. Os poderes deverão ainda dizer quais mecanismos adotarão para “garantir a rastreabilidade, comparabilidade e publicidade dos dados orçamentários, para integral cumprimento da decisão deste Tribunal, que proíbe, peremptoriamente, a prática abusiva denominada ‘orçamento secreto’”.

O ministro determina ainda que, a partir de agora, a execução das emendas da Comissão e o pagamento dos “restos a pagar” das emendas do relator só serão feitos pelo Executivo “mediante prévia e total transparência e rastreabilidade”. Todas as determinações do STF relativas às emendas do relator passam a valer para emendas de comissão.

*É proibido enviar alterações para outros Estados

Os congressistas só poderão enviar emendas, de qualquer espécie, aos Estados de onde foram eleitos. A exceção, segundo Dino, é o apoio a “um projeto nacional cuja implementação ultrapassa os limites territoriais do Estado do parlamentar”.

Segundo o Estadão, deputados e senadores enviaram R$ 412 milhões para entidades, prefeituras e governos estaduais fora dos estados em que foram eleitos. O deputado amapaense Vinícius Gurgel (PL-AP) enviou 77% de suas emendas para fora de seu estado. Dos R$ 412 milhões, R$ 73 milhões foram para prefeituras de outros estados, sendo R$ 15,2 milhões por meio de “emendas Pix”, modalidade em que a prefeitura pode usar o dinheiro para qualquer finalidade (exceto pagamento de funcionários). Em São Paulo, pelo menos oito parlamentares enviaram R$ 27 milhões para fora do estado.

* As ONGs precisam ser responsabilizadas

Dino diz que, ao executar recursos provenientes de emendas parlamentares, as Organizações Não Governamentais (ONGs) e “outras entidades do terceiro setor” devem dar “transparência e rastreabilidade” aos recursos, além de respeitar “procedimentos objetivos de contratação” – ou seja, devem devem justificar como usam o dinheiro.

O ministro determina ainda que a CGU, no prazo de 90 dias, faça auditoria de todos os recursos repassados ​​às ONGs por meio de emendas parlamentares de qualquer natureza, nos anos entre 2020 e 2024. As ONGs precisam informar, na internet, sobre como utilizou o recursos das emendas.

* Auditoria nos dez municípios que mais receberam alterações

O ministro determina que a CGU faça, no prazo de 30 dias, uma auditoria das emendas recebidas pelos 10 municípios mais beneficiados pelas emendas parlamentares entre os anos de 2020 e 2023. A auditoria da CGU terá que responder, segundo Dino, às seguintes questões : como as emendas tramitaram no Legislativo e no Executivo federais e depois nas prefeituras; como ficam as obras a que se destinam essas alterações; e quais procedimentos foram utilizados pelos municípios para proporcionar transparência no uso dos recursos. A CGU também deverá fazer uma “análise de risco e eficiência” das alterações da comissão.