Governo vai recadastrar beneficiários idosos e pessoas com deficiência do BPC e apertar regras após bloqueio no Orçamento

Governo vai recadastrar beneficiários idosos e pessoas com deficiência do BPC e apertar regras após bloqueio no Orçamento


A última vez que a medida foi adotada foi em 2008 e 2009. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

O governo prepara um recadastramento das pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), após o aumento das concessões e despesas assistenciais. O objetivo da equipe econômica é iniciar esse processo em setembro. Está sendo elaborado um decreto com o calendário e regras da medida.

O BPC é um benefício de um salário mínimo (atualmente R$ 1.412) por mês para idosos com 65 anos ou mais ou para pessoas com deficiência de qualquer idade.

Para ter direito, a renda por pessoa do grupo familiar deve ser igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo (R$ 353).

A lei que criou o BPC prevê a revisão dos registros para verificar se persistem as condições que deram origem ao benefício, mas isso não é comum. A última vez que isso aconteceu foi durante o segundo governo Lula, entre 2008 e 2009.

O governo também prepara um decreto com medidas para tornar mais rigorosa a concessão e manutenção do benefício. Uma delas é a exigência de biometria do pai e da mãe da criança para solicitações em casos de autismo, o que dá direito ao BPC em quadros graves da doença. No caso de criança, é necessária certidão de nascimento ou carteira de identidade.

Ação conjunta

A medida também será exigida dos atuais beneficiários, que deverão apresentar todos os documentos para renovação da inscrição no Cadastro Único (CadÚnico) do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

As medidas exigirão atuação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e do Ministério da Previdência Social e envolverão estados e principalmente prefeituras, responsáveis ​​pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), onde os beneficiários deverão apresentar toda a documentação. Os dados obtidos pelo CRAS alimentam o CadÚnico.

Para ter acesso ao BPC, os beneficiários passam por exames médicos e avaliação social. Também é analisada a situação financeira da família, renda por pessoa de até um quarto de salário mínimo ou até meio salário, em casos mais específicos, como necessidade de cuidadores, uso de fraldas e medicamentos.

O decreto deverá ser publicado no Diário Oficial da União nos próximos dias. As medidas de fiscalização foram definidas em reunião com o presidente Lula na semana passada, que contou com a presença de representantes do Ministério da Justiça e da Polícia Federal.

Aumento de quase 20%

Técnicos económicos estimam que a taxa de fraude pode chegar aos 30%. O aumento das despesas do BPC iniciou uma trajetória ascendente no segundo semestre de 2022.

Segundo dados do INSS, os gastos com auxílios no primeiro semestre de 2024 atingiram R$ 44,076 bilhões, um aumento de 19,8% em relação ao ano anterior. O número de concessões de benefícios saltou 40% no período, passando de 786.087 em 2023 para 1,105 milhão nos primeiros seis meses de 2024.

O aumento desse tipo de gasto com BPC e benefícios previdenciários obrigou o governo a bloquear R$ 11,3 bilhões no Orçamento de 2024 para evitar o descumprimento das regras fiscais. O tamanho do congelamento de recursos chegará a R$ 15 bilhões, incluindo um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões, e afetará toda a administração pública, segundo técnicos da equipe econômica. Os detalhes serão divulgados ainda este mês.

A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Maria Thereza de Assis Moura, determinou que a greve dos servidores do INSS seja limitada a 15% das equipes de cada unidade administrativa. Moura tomou a decisão após analisar pedido do governo federal para suspensão da greve.