BH: lei que obriga divulgação de dados sobre aborto é contestada na Justiça

BH: lei que obriga divulgação de dados sobre aborto é contestada na Justiça



A Lei Municipal de Belo Horizonte nº 11.693/2024, que obriga hospitais públicos e privados da capital mineira a apresentarem relatórios mensais sobre abortos legais realizados em instituições de saúde, está sendo questionada na Justiça. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), ajuizada nesta quarta-feira (24/7) no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) pelo Psol do estado, pede a suspensão imediata e completa da legislação.

A lei estabelece que as instituições de saúde devem notificar a Secretaria Municipal de Saúde, detalhando o motivo da interrupção da gravidez, a faixa etária e a raça ou cor da mulher. Esses dados deverão ser publicados no Diário Oficial do Município (DOM) e no portal da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Na ADI, o Psol argumenta que os dados sobre o aborto legal já são publicados pelo DataSUS e estão à disposição de pesquisadores e autoridades. A vereadora Iza Lourença (Psol) acredita que a divulgação dos dados visa atender a interesses ideológicos, com o objetivo de restringir um direito garantido às mulheres pelo Código Penal Brasileiro.

O parlamentar compara a legislação ao Projeto de Lei (PL) 1.904/24, proposta que equipara a pena para aborto após 22 semanas de gravidez à pena para homicídio simples, em discussão no Congresso Nacional. “Essa lei é o ‘PL da Gravidez Infantil’ de BH. Não vamos deixar isso prosperar no nosso município”, afirma o parlamentar.

“Há um movimento nacional que quer reverter o direito das meninas e mulheres vítimas de violação de fazerem um aborto. Vimos isso no Congresso Nacional e aqui na Câmara de Belo Horizonte. Este projeto que quer expor dados sobre abortos legais realizados em maternidades faz parte desta agenda. Por isso vamos a tribunal, mulheres e crianças não merecem ter filhos de violadores”, disse ao repórter.

Para o parlamentar, publicar os procedimentos realizados não faz sentido. “É uma lei misógina e conservadora”, avalia. “Imagine se o Estado fosse obrigado a publicar todas as cirurgias realizadas, por exemplo, tratamentos de câncer de próstata. Isso nunca aconteceria se a exposição fosse masculina”, acrescenta.

Aprovação, vetos e publicação

A legislação foi aprovada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte em abril deste ano e sancionada pelo prefeito Fuad Noman (PSD) em maio. Porém, ao publicar a lei, o prefeito fez veto parcial, excluindo as seções que tratavam da divulgação de informações pelos hospitais responsáveis ​​pelos procedimentos e da publicação de relatórios no portal da prefeitura e no Diário Oficial do Município.

Segundo o Psol, os trechos vetados refletiam a preocupação da gestão municipal com a exposição de dados sensíveis, violação dos direitos à privacidade e à intimidade, além de possíveis entraves ao acesso ao direito à saúde e ao descumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A sigla afirma que a exposição de dados permite a identificação de pacientes, o que violaria a Constituição Federal e Estadual.

O partido argumenta que o Legislativo manteve a parte do veto relativa ao hospital responsável, mas rejeitou o veto referente à publicação dos relatórios. “Manter o veto é extremamente necessário para proteger os direitos fundamentais das mulheres à privacidade e à intimidade. No entanto, rejeitar o veto que impõe a publicação de dados sensíveis ainda é uma preocupação real e séria. acesso ao direito à saúde, principalmente em casos tão delicados como o do aborto legal”, afirmou a vereadora Cida Falabella (Psol).

De acordo com a lei, o objetivo é utilizar as informações coletadas para “avaliar, planejar e executar ações de saúde pública de acordo com as políticas públicas vigentes”. Contudo, especialistas em saúde da mulher, activistas dos direitos reprodutivos e sexuais, previamente consultados pelo Estado de Minas Durante a discussão da proposta, eles se manifestaram contra a lei.

Avaliaram a criação da legislação como prejudicial à garantia do direito ao aborto legal, incentivando a estigmatização da questão e a perseguição às vítimas.



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