Bolsonaristas usam desistência de Biden para atacar Lula

Bolsonaristas usam desistência de Biden para atacar Lula



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Parlamentares bolsonaristas aproveitaram a saída do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, da disputa eleitoral americana para atacar o governo Lula (PT).

“Biden EUA saiu! Quando vai sair o Biden brasileiro?”, postou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em sua conta no X (antigo Twitter).

Para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro-chefe da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a retirada de Biden “é a vitória da verdade sobre as narrativas falsas e manipuladoras da esquerda”.

“Não foi a renúncia a uma candidatura. Foi a vitória finalmente daqueles que estavam amordaçados por uma narrativa de que Trump era o mal absoluto e Biden o bem indiscutível”, escreveu o senador.

Por outro lado, os ministros do governo Lula avaliaram a decisão como um gesto de grandeza política.

“Política não é personalismo, mas sim serviço em favor de ideias e valores. Biden dá uma enorme demonstração de grandeza política ao entender que os democratas precisam de um fato novo para enfrentar o conservadorismo extremista que ameaça o mundo”, postou a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB).

O titular dos Transportes, Renan Filho (MDB), avaliou que a decisão do presidente americano demonstra distanciamento em um momento crítico e, portanto, “é um gesto de grandeza”.

O titular do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), destacou o que para ele é uma “grande decisão para derrotar a extrema direita norte-americana”.

Integrantes do Palácio do Planalto, por sua vez, comemoraram a desistência de Biden. A avaliação de pessoas próximas ao presidente Lula é que a reeleição do atual presidente era improvável e que o cenário ficou ainda pior depois das recentes gafes e do ataque a Donald Trump.

Agora, porém, dois assessores do presidente entrevistados na reserva pela Folha começaram a mostrar mais otimismo. A derrota de Trump é considerada importante para o projeto geopolítico internacional de Lula.

A vitória republicana tornou-se ainda mais preocupante para os governantes depois que Lula declarou publicamente que apoiava Biden na disputa. Há um receio, especialmente na equipa económica, de que possíveis conflitos com Trump por questões ideológicas prejudiquem a relação comercial entre os dois países.

Um integrante da equipe econômica lembra da diferença de postura do petista em relação a Biden, por exemplo, na guerra entre Israel e Hamas e acredita que em um possível governo Trump a reação dos EUA poderia ser diferente.

Segundo este membro do governo, num cenário pessimista, uma simples ameaça de Trump impor sanções ao Brasil seria suficiente para derrubar a bolsa, subir o dólar e causar uma crise no país.

Contudo, esses assessores também consideram que nos seus dois primeiros governos Lula manteve uma relação pessoal mais próxima com o republicano George W. Bush do que com o democrata Barack Obama. Além disso, afirmam que, se Trump vencer, Lula adotará uma postura pragmática, semelhante ao que fez em relação ao presidente da Argentina, Javier Milei.

No final de junho, Lula afirmou que não gosta de opinar nas eleições americanas, mas que era solidário com Biden.

“Biden é a certeza de que os EUA continuarão respeitando a democracia. Trump já deu essa manifestação quando invadiu o Capitólio. Biden sai vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo mantê-la”, disse Lula em entrevista à rádio Itatiaia.

O presidente afirmou que o resultado das eleições americanas não deverá alterar o clima político no país, mas criticou Donald Trump.

“Se Trump vencer, não sabemos o que ele fará. Sinceramente, não temos ideia. Ele chegou a dizer que se algum país quiser fugir do dólar como moeda de referência, ele vai punir o país. Ele não é presidente do país. o mundo. Essas pessoas que demonstram muita bravata não são boas para a política.”

Em fevereiro, Lula já havia declarado afinidade com a candidatura democrata às eleições americanas.

“Espero que Biden ganhe as eleições. Espero que as pessoas possam votar em alguém com quem tenham mais afinidade. Tenho visto Biden nas portas da fábrica. O discurso de Biden desde o início até agora é em defesa do mundo do trabalho”, afirmou em uma entrevista na época.

Biden tem 81 anos e desistiu da tentativa de reeleição pouco mais de três meses antes das eleições americanas, marcadas para o início de novembro. Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata para sua saída, iniciada após seu desempenho desastroso no debate realizado no final de junho.

Ele até tentou garantir aos apoiadores e eleitores que era capaz de derrotar Donald Trump, mas falhou.

“Acredito que é melhor para o meu partido e para o meu país que eu renuncie e me concentre exclusivamente em cumprir as minhas funções como presidente durante o resto do meu mandato”, disse o democrata ao anunciar publicamente a decisão.

O presidente americano apoiou a vice-presidente Kamala Harris para a eleição contra o ex-presidente republicano Donald Trump.

Agora, o Partido Democrata inicia uma corrida para formalizar um substituto, que precisa ser aprovado durante a Convenção Nacional Democrata, marcada para 19 e 22 de agosto, em Chicago.

Este evento reúne todos os delegados eleitos durante as primárias, que são votações indiretas para presidente que ocorreram em cada um dos 50 estados dos EUA e envolveram apenas candidatos do Partido Democrata.



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