A Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) aprovou, nesta terça-feira (17/7), o projeto que autoriza Minas Gerais a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), em segundo turno. Depois de pouco mais de três horas, o texto-base do pacote econômico proposto pelo governador Romeu Zema (Novo) recebeu a aprovação dos deputados do colegiado e agora segue para votação final no plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A análise da proposta sofreu forte obstrução do bloco de oposição ao Palácio Tiradentes, porém, como o grupo era minoritário na comissão, o texto foi aprovado por três votos a dois. O pacote visa adequar a dívida de Minas com a União, avaliada em cerca de R$ 160 bilhões, ao Orçamento do Estado em troca de uma série de contrapartidas, como a limitação do reajuste dos servidores públicos e a privatização de empresas estatais – neste caso a Companhia de Desenvolvimento Econômico (Codemig).
A Lei Federal que regulamenta o RRF ainda prevê um ‘teto de gastos’ que limita o crescimento das despesas primárias ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), porém, a proposta foi cindida em um projeto paralelo e permanece presa no primeiro turno, sem quórum para ser aprovado. O teto tramita na forma de Projeto de Lei Complementar (PLC), que precisa de 39 votos, enquanto a adesão ao RRF foi aprovada com apenas 33 votos.
Em resposta a Estado de Minas, o Ministério das Finanças explicou que a legislação do RRF enumera as condições de adesão, onde se inclui o limite de despesas anuais. O ministério destaca ainda que qualquer projeto aprovado pela ALMG precisa ser analisado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que observará se foram atendidos os requisitos e condições legais para adesão ao RRF.
Também ocorreram discussões do FFO em torno da suspensão do pagamento da dívida, em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). O governo de Minas tenta prorrogar até o dia 20 a liminar que concedeu a carência do parcelamento integral da dívida, pedindo duas datas possíveis: 28 de julho, quando o mérito da liminar será julgado pelo plenário da Corte; ou até que seja regulamentado o Programa de Pagamento Integral da Dívida dos Estados com a União (Propag), em tramitação no Senado Federal.
No momento, o STF aguarda resposta da Procuradoria-Geral da República (PGR) para decidir se atende ou não ao pedido do estado. O Governo Federal, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), disse que uma nova prorrogação do prazo estaria condicionada ao pagamento das parcelas da dívida como se o estado já estivesse em RRF. Neste cenário, o governo Zema solicitou audiência de conciliação.
Para o líder da oposição, deputado Ulysses Gomes (PT), a afirmação do governador é uma contradição, pois na prática o estado já é beneficiado pelo RRF e a União agora pede apenas o pagamento da parcela dos juros. “O governo está usufruindo dos seus direitos como se estivesse dentro do regime (de recuperação fiscal). Então, se ele está tecnicamente dentro do regime, beneficiando daquilo que entende como benefícios do regime, tem que cumprir a obrigação deste critério”, disse.
Segundo o governo Zema, dentro do RRF o estado pagaria o valor de R$ 1,37 bilhão em 2024, e sem o pacote a parcela subiria para R$ 8,28 bilhões. Ulysses Gomes observou que o pedido de conciliação do governo teria atrasado a decisão final do STF, que teve que recorrer ao procurador-geral Paulo Gonet para um novo parecer sobre o assunto. A PGR precisa responder até esta quarta-feira (17/7), caso contrário o Tribunal poderá decidir sobre o assunto sem consultar o titular do Ministério Público.
“O governador demorou muito para responder. Quando veio a resposta, veio com essa contradição de não aceitar o pagamento da dívida, propor uma conciliação e até mentir que estava pagando (a dívida). O ministro Fachin, com a responsabilidade que tem pelo cargo ou pelo conteúdo que está sob sua decisão, tomou uma decisão que nos fez esticar ainda mais e procurou ouvir a PGR. Diante da responsabilidade de um assunto tão importante e da contradição das manifestações, a Procuradoria-Geral da República, defensora dos interesses públicos, poderia se manifestar”, acrescentou o deputado petista.
Propaganda
A Assembleia aprovou a adesão ao RRF no primeiro turno, mesmo com declarações contrárias dos parlamentares. O Legislativo mineiro reconhece que o pacote econômico não é a melhor solução para a dívida, porém sem uma decisão favorável do STF, a avaliação é que o regime é a única solução no momento.
Os deputados também aguardam a regulamentação da Propag, construída no Congresso Nacional após meses de negociações com estados superendividados e com o Ministério da Fazenda. A proposta de Pacheco foi apresentada na semana passada, mas a expectativa é que os senadores votem na primeira quinzena de agosto, após o recesso parlamentar.
A Propag é uma medida de renegociação da dívida, considerada uma alternativa ao MRR, e que prevê medidas de ajustamento fiscal mais brandas. Em linhas gerais, o programa permite a entrega de ativos estaduais ao governo federal, como empresas de energia, saneamento e desenvolvimento de Minas Gerais (Cemig, Copasa e Codemig), além de reduzir os juros de correção da dívida de acordo com os investimentos em educação e infraestrutura .
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