09/07/2024 – 22h25
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Karine dos Santos: parte dos recursos disponíveis não é aplicada
A necessidade de aumentar os recursos para a alimentação escolar foi destacada em audiência pública da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados que discutiu, nesta terça-feira (9), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Administrado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o Pnae atende estudantes de escolas públicas. O orçamento anual do Pnae é de R$ 5,5 bilhões; desse valor, R$ 1,6 bilhão vai para a agricultura familiar – a produção de 40 mil agricultores atende 40 milhões de alunos de 150 mil escolas.
O cumprimento do programa nas escolas é monitorado por cerca de 80 mil conselheiros de alimentação escolar. São pais, professores, agricultores e os próprios alunos. Os recursos do Pnae são repassados em oito parcelas aos estados e municípios durante o ano, considerando o número de alunos de cada rede.
Transferência e uso de recursos
A coordenadora geral do Pnae, Karine Silva dos Santos, reconhece que os recursos da alimentação escolar precisariam ser reajustados, mas afirmou que, atualmente, parte dos recursos destinados ao programa não é utilizada.
“Na verdade, não conseguimos nem atingir 10% do nosso Lei de Diretrizes e Bases da Educação. No ano passado, houve um aumento de 36 para 50 centavos por aluno, mas esse é um valor adicional, pois o programa conta com a participação dos governos estaduais e municipais.
Mais de 120 projetos estão em discussão no Congresso Nacional para alterar a lei do Pnae (Lei 11.947/09). A coordenadora da Fian Brasil – Organização pelo Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas, Mariana Santarelli, defendeu projeto do Senado (PL 2754/23) que propõe reajuste automático dos valores do Pnae com base na inflação dos alimentos medida pelo IPCA. Segundo esses cálculos, entre 2014 e 2021, os valores atualizados estão desatualizados em R$ 2,33 bilhões. Por outro lado, houve reajuste de 34% em 2023.
Levantamento realizado pelo Observatório da Alimentação Escolar aponta alguns problemas na condução do programa, como o fato de 36% das escolas possuírem infraestrutura e cozinhas escolares inadequadas, número insuficiente de nutricionistas e merendeiras e baixo investimento financeiro por parte do estado ou município.
Nutrição apropriada
A preocupação com a alimentação adequada e saudável foi destacada pela coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Poliany de Souza Alves, que lembrou a tendência crescente do excesso de peso na população.
Entre 2008 e 2023, o excesso de peso aumentou em todas as faixas etárias. Em 2023, quase 15% das crianças menores de 4 anos atendidas em unidades básicas de saúde já apresentavam o problema. Entre as crianças de 5 a 9 anos, o excesso de peso é ainda maior, correspondendo a quase um terço das crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Dos adolescentes atendidos nos serviços de atenção básica do SUS, em 2023, 31,4% já apresentavam excesso de peso. E quando chegamos aos adultos atendidos nas unidades básicas de saúde em 2023, 68% já estavam com excesso de peso, lembrando que o problema está intimamente associado ao hipertensão, diabetes e câncer”, destacou.
Resolução de 2020 (Resolução 6/20 do FNDE) estabelece a aplicação de 75% dos recursos do Pnae em alimentação na natureza e até 20% para alimentos processados e ultraprocessados. A rede conta atualmente com 3.626 nutricionistas, algo próximo de 60% da necessidade atual. Mais de 70% dos institutos federais não possuíam gestor técnico.
O debate do Pnae atendeu ao pedido do deputado Daniel Barbosa (PP-AL). Ele acrescentou que serão convocadas outras audiências para discutir nutrição nas universidades e escolas públicas do país. “As políticas públicas são respostas às demandas da sociedade. Cada vez que a sociedade tem uma demanda, devemos debater, devemos nos reunir e discutir as políticas públicas para que sejam mais assertivas, e não para a gente falar sem dados, sem evidências, sem ter um rumo”, destacou.
Ao proporcionar condições para melhorar a saúde, o deputado acredita que o Programa Nacional de Alimentação Escolar tem importância direta na aprendizagem dos alunos.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Ana Chalub
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