Mulheres devem participar de decisões globais sobre crise climática, defendem parlamentares do G20 – Notícias

Mulheres devem participar de decisões globais sobre crise climática, defendem parlamentares do G20 – Notícias


01/07/2024 – 18:31

Itawi Albuquerque/Câmara dos Deputados

Encontro de Mulheres P20 conta com a participação de mais de 170 parlamentares de todo o mundo

As mulheres devem participar nas decisões relacionadas com o combate às alterações climáticas, uma vez que são as mais afectadas por fenómenos meteorológicos extremos, como inundações e secas. A defesa foi feita por participantes da primeira sessão de trabalho do I Encontro de Mulheres Parlamentares do P20, fórum Legislativo do G20, que acontece em Maceió (AL).

O tema da sessão foi “Promovendo a justiça climática e o desenvolvimento sustentável para mulheres e meninas”.

Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara, deputada Ana Pimentel (PT-MG) disse que o atual projeto de desenvolvimento global centra-se na austeridade e na exploração predatória do meio ambiente, produzindo doenças, empobrecimento, fome e mortes. Segundo ela, esses acontecimentos, como secas e enchentes, não podem ser chamados de tragédias, pois não são acidentes, mas são resultados de escolhas humanas equivocadas e perversas.

“E, sim, as mulheres são as mais afetadas. Desde perdas económicas, migração, aumento da violência, casamento infantil, abandono escolar, perda de rendimentos: estes são alguns problemas sociais causados ​​pela crise climática e que afetam as mulheres de forma desproporcional. Em todo o mundo, a perspectiva é de mais de 1,2 bilhão de moradores de rua até 2050, dos quais 80% serão mulheres”, afirmou.

Segundo a deputada, em regiões atingidas por desastres, como secas extremas, as mulheres assumem, além de cuidar da casa e dos filhos, a busca por alimentos e água. Para ela, no Brasil, por ideologia, alguns setores negam as evidências científicas das mudanças climáticas. Ela também destacou o papel do extrativismo predatório de terras e corpos na situação atual, fazendo com que terras, territórios e mulheres vivam sob constante ameaça, com aumento da fome e da pobreza feminina no Brasil e no mundo.

“É necessário outro projeto”, frisou. Ela criticou a política de austeridade fiscal e a defesa do superávit fiscal acima da defesa da vida. E defendeu um orçamento que garanta políticas públicas universais e a prevenção de crises ambientais. Entre as soluções estudadas para a justiça climática, ela citou a tributação de grandes fortunas, que serve para construir medidas de proteção ao meio ambiente e construir projetos de desenvolvimento sustentável. “Hoje os 3% mais ricos controlam 13% da riqueza mundial e são os maiores responsáveis ​​pelos desastres e crimes ambientais”, destacou.

Ana Pimentel destacou que, na Câmara dos Deputados, diversas propostas de proteção ao meio ambiente são de autoria de mulheres. “É essencial que as mulheres tenham uma posição central na decisão destas políticas, porque quanto mais forem incluídas, mais avançamos na construção de um desenvolvimento sustentável e justo”, afirmou.

Itawi Albuquerque/Câmara dos Deputados

Ana Pimentel (L): a perspectiva é que 80% das pessoas deslocadas por eventos climáticos sejam mulheres

Soluções Globais
A senadora Leila Barros (PDT-DF), líder da bancada feminina no Senado, também chamou a atenção para os deslocamentos causados ​​pelos eventos climáticos, que superaram os causados ​​por guerras, repressão e violência em 2023. O Brasil está entre os seis países com mais pessoas deslocadas por desastres naturais. Defendeu políticas integradas e sustentáveis, com abordagem global, para enfrentar a crise climática, devido à interdependência entre nações e povos.

“Nós, mulheres, sabemos o peso que recai sobre os nossos ombros quando se trata de cenários de dor, morte e perda”, sublinhou. Segundo ela, a falta de políticas públicas recai desproporcionalmente sobre as mulheres, que são as maiores responsáveis ​​pelos cuidados familiares.

“As políticas de austeridade e a redução dos serviços públicos essenciais agravam a vulnerabilidade das mulheres, especialmente daquelas que se encontram num contexto de sobrecarga social e de trabalho doméstico, como as mães solteiras e as mulheres negras e indígenas, que enfrentam disparidades de rendimento, habitação e acesso a serviços básicos “, disse o senador. Para ela, é preciso levar aos parlamentos essa visão de cuidar das pessoas e do planeta.

Itawi Albuquerque/Câmara dos Deputados

Leila Barros: falta de políticas públicas recai desproporcionalmente sobre as mulheres

Políticas de longo prazo
A representante da ONU Mulheres, Ana Claudia Jaquetto Pereira afirmou que é preciso focar, além das ações emergenciais, em políticas de longo prazo para se preparar para eventos climáticos extremos. Segundo ela, estas políticas devem ter em conta as desigualdades de género. Ela observou que as desigualdades também estão organizadas em torno de elementos de raça, etnia, geografia, capacidade e idade.

Saiba mais sobre o encontro de Maceió

“Se os piores cenários climáticos se confirmarem, até 2030, prevê-se que mais de 236 milhões de mulheres e raparigas sofrerão de insegurança alimentar, em contraste com cerca de 131 milhões de homens e rapazes”, afirmou. “As alterações climáticas e a perda de biodiversidade têm impactos intensos nas mulheres e raparigas que vivem em regiões rurais pobres porque dependem fortemente dos recursos naturais para alimentação, água e combustível”, acrescentou.

“Embora as mulheres sejam guardiãs de práticas sustentáveis ​​nos territórios, ainda enfrentam várias barreiras na defesa do ambiente, como a exclusão dos espaços de decisão nacionais e multilaterais”, acrescentou a representante da ONU Mulheres.

Felipe Sóstenes/Câmara dos Deputados

Valentina Ghia chamou a atenção para a relação entre a exploração predatória do meio ambiente e a exploração económica das mulheres

Representantes de outros países
A necessidade de as mulheres serem protagonistas nas discussões sobre a crise climática, por serem as mais afetadas, também foi defendida por representantes de diversos países.

Representante dos Estados Unidos, a congressista Sydney Kamlager-Dove foi uma das que defendeu a entrada de mais mulheres na discussão sobre mudanças climáticas, já que hoje há pouca participação entre elas. Além disso, ela disse que a resposta política à crise ambiental deve centrar-se nos grupos marginalizados, como as mulheres e raparigas pobres.

A representante do Reino Unido, Anelay de Saint Johns, observou que o rendimento das mulheres cai à medida que ocorrem fenómenos meteorológicos extremos e as crianças são mantidas fora da escola. Além disso, os sobreviventes destas catástrofes também enfrentam dificuldades adicionais, tais como violência sexual, abuso e tráfico de seres humanos.

Valentina Ghia, representante da Itália, chamou a atenção para a relação entre a exploração predatória do ambiente e a exploração económica das mulheres. Ela defendeu a discussão conjunta das questões de gênero e ambientais.

Para a representante da Índia, Kalpana Saini, as mulheres possuem competências específicas para lidar com estes desafios ambientais.

Representante de São Tomé e Príncipe, Celmira Sacramento lembrou que muitas vezes as mulheres são as guardiãs das práticas sustentáveis. Ela observou ainda que os países desenvolvidos contribuem mais para os problemas ambientais, mas os países que contribuem menos são os mais afetados pelos seus efeitos. Na sua opinião, os países mais ricos deveriam apoiar financeiramente os países mais pobres na transição para o desenvolvimento sustentável.

Para a representante da Indonésia, Vanda Sarundajang, a cooperação entre os países, inclusive na área de tecnologia, é um ponto-chave para superar o problema.

Felipe Sóstenes/Câmara dos Deputados

Kalpana Saini: As mulheres têm competências específicas para lidar com os desafios ambientais

Mulheres no poder
Representante da União Interparlamentar, Cynthia Lopes Castro destacou que apenas 11% dos presidentes e primeiros-ministros do mundo são mulheres. Além disso, destacou que as mulheres representam metade da população mundial, mas estão representadas em apenas cerca de 26% dos parlamentos mundiais. Segundo ela, ainda existem países sem deputadas, como o Iêmen, por exemplo, e apenas 22% dos parlamentos são presididos por mulheres no mundo. “As mulheres devem estar representadas, mas também participar nos processos de tomada de decisão”, reiterou.

Ela destacou a importância das cotas para assentos femininos para alcançar esta representação, garantida no México, onde 50% dos assentos no Parlamento são reservados para mulheres e onde hoje os presidentes dos três poderes do governo – Executivo, Legislativo e Judiciário – são mulheres . Ela também avalia que a violência, o cansaço e as ameaças afastam as mulheres da política.

Relatório – Lara Haje
Edição – Georgia Moraes



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