De volta a Minas Gerais pela quarta vez em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou o primeiro dia de compromissos em clima de campanha eleitoral. Ao lado da prefeita Marília Campos (PT), em Contagem, Grande BH, o chefe do Executivo nacional anunciou investimentos, elogiou aliados e deixou claro seu objetivo durante a visita ao estado: é a última oportunidade de aparecer ao lado de pré-candidatos que apoiam antes o período eleitoral.
Na verdade, a lei eleitoral não permite que candidatos e gestores subam em palanques para anunciar obras depois de 5 de agosto. E, apesar do clima eleitoral da visita à Região Metropolitana, Lula fez a afirmação após conhecer as obras da Avenida Maracanã, via que integrará Contagem a Esmeraldas, Betim e Belo Horizonte. Cerca de 220 mil pessoas serão beneficiadas.
A viagem para Contagem começou com um atraso de cerca de 2 horas. Enquanto deputados estaduais e federais aguardavam o presidente – abalados pelo Planalto desde a última visita presidencial ao estado – Lula discutia as eleições municipais em Belo Horizonte. Reunião a portas fechadas no Aeroporto da Pampulha contou com a presença do presidente; o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD); o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD); e o prefeito de BH, Fuad Noman (PSD). O candidato petista, Rogério Correia (PT), não foi convidado.
Na capital, Lula havia prometido apoiar Fuad. A decisão havia sido tomada durante o período eleitoral, quando o presidente era candidato ao Planalto. Agora, com a pré-candidatura de Correia, a situação mudou. Apesar de não apoiar publicamente o deputado federal, Lula não pode demonstrar publicamente que está com Fuad. A conversa continuou nessa direção. O presidente, que tem bom relacionamento com Pacheco, destacou que ele deveria permanecer neutro nas eleições municipais.
Se é assim em BH, o mesmo não acontece em Contagem. Ao chegar ao comício, Lula fez questão de elogiar Marília Campos, candidata à reeleição. “Marília é daquelas pessoas que, se não tivesse nascido, teria que nascer. Porque ela é uma figura, primeiro, com um grau extraordinário de maternidade, com um grau de companheirismo sem igual. E ela é uma companheira que fala mais com o coração do que com a boca. Ela age mais com emoção do que com razão. E isso é muito importante para quem cuida do povo. Porque governando, qualquer um governa. Preenchendo a lacuna, qualquer um pode fazer isso. Construa um viaduto, qualquer um pode fazer. Agora, cuidar das pessoas mais necessitadas e humildes, se não tiver coração não consegue”, disse Lula.
Segundo o presidente, Marília – que já foi prefeita de Contagem duas vezes – faz parte de sua seleta lista de companheiras que admira. Durante sua fala, Lula também mencionou o prazo eleitoral para subir aos palanques e afirmou “fez questão de vir primeiro conhecer a Marília, porque sei que ela é a melhor para Contagem”.
Rodrigo Pacheco (PSD) também foi muito elogiado pelo presidente. Líder do PSD e líder do Congresso, o senador foi citado em todos os discursos políticos feitos no palanque. Falaram sobre a visita de Lula a Contagem Alexandre Silveira; a Ministra da Saúde, Nísia Trindade; e o ministro dos Transportes, Renan Filho. Apesar dos discursos, Pacheco preferiu não falar. O fato também chamou a atenção de Lula.
Segundo o chefe do Executivo federal, foi preciso convencer o líder do Congresso a embarcar de Brasília em direção a Belo Horizonte. “Eu falei: você precisa vir tomar banho do povo de Contagem. Veja essas pessoas. Ele não quer falar, está tudo bem. Ele não precisa falar. Mas preciso agradecer ao povo mineiro, por me dar o Pacheco”, declarou Lula.
Chamar Pacheco para participar do comício faz parte da estratégia de Lula para promover o nome do presidente do Senado para o governo de Minas Gerais. O que chama a atenção é que outro candidato às eleições de 2026 dividiu o palco com o presidente: o vice-governador Matheus Simões (Novo), que é indicado como sucessor do governador Romeu Zema (Novo).
O noviço foi completamente ignorado por Lula, que nem sequer mencionou seu nome ao ler a ata cerimonial do evento. “Eu não conhecia o Pacheco. Eu o conheci quando houve aquela tentativa de golpe de 8 de janeiro, quando tentaram fechar o Congresso Nacional e destruir o Supremo Tribunal Federal. Vi que esse homem, além de ser um mineiro muito importante, tem a coragem de dizer que, enquanto fosse presidente do Senado, a democracia não estaria em risco neste país”, afirmou Lula. “E foi por isso que minha admiração cresceu. Todas as coisas que precisamos aprovar em benefício do povo brasileiro, quando preciso, vou ao Pacheco”, finalizou.
O presidente também não poupou elogios a Mário Valadares, dono do grupo empresarial Só Marcas e do Shopping Oiapoque. Lula chegou a convidá-lo para falar porque, segundo ele, o empresário bilionário fez um discurso elogiando sua campanha presidencial em 2022. “Não acreditava que alguém que não fosse do nosso meio pudesse entender tanto o que aconteceu no Brasil quanto o Mário Valadares entendeu”, disse Lula. No palco, o empresário revelou ter um patrimônio no valor de R$ 1 bilhão, que cresceu durante os governos petistas. Valadares defendeu a tributação das grandes fortunas e anunciou também que doará parte da sua fortuna para financiar a educação de jovens da periferia.
Relacionamento com a base
Além do objetivo eleitoral, Lula também queria restabelecer a relação com a base mineira. O presidente estava abalado com o grupo político desde a última visita ao estado. A plataforma do PT era formada pelos deputados estaduais Andréia de Jesus (PT), Doutor Jean Freire (PT), Leleco Pimentel (PT), Ricardo Campos (PT), Lohanna (PV) e Macaé Evaristo (PT). Os deputados federais Dandara (PT), Igor Timo (Podemos), Miguel Ângelo (PT), Padre João (PT), Patrus Ananias (PT), Reginaldo Lopes (PT) e o pré-candidato a prefeito de BH, o deputado federal Rogério Correia (PT).
Não é novidade que o relacionamento de Lula com seus aliados políticos enfrenta turbulências. A falta de diálogo entre o chefe do Executivo e o PT mineiro tem gerado conflitos não só dentro do partido, mas também entre partidos aliados. O desconforto causado pelo chefe do Executivo brasileiro – que, em sua última visita ao estado, nem sequer falou com os deputados aliados na Assembleia Legislativa de Minas Gerais – piorou ainda mais após a visita do ministro da Educação, Camilo Santana.
A foto do ministro sorrindo ao lado do governador e prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), irmão do senador Cleitinho (Republicanos) e crítico radical da gestão do presidente Lula (PT), caiu como uma bomba entre os ativistas que defendem o presidente na região. A insatisfação foi tão grande que obrigou a direção da Federação PT-PCdoB-PV a publicar nota oficial rejeitando a forma como foi feito o anúncio da parceria.
O desgaste da base mineira ainda se intensifica quando são colocadas em cima da mesa as ações da tesoureira do PT, Gleide Andrade, nos municípios. Alguns partidários têm reclamado que a petista atua em benefício próprio, excluindo candidaturas e favorecendo aliados em busca de uma base própria para 2026. Essa também será uma reclamação que será ouvida pelo presidente durante sua visita a Minas.
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