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A Editorial Sul
| 26 de junho de 2024
Após décadas de estatismo, protecionismo e clientelismo, é difícil superestimar a disfuncionalidade da economia argentina. (Foto: Reprodução)
A semana passada foi a melhor do governo de Javier Milei em seis meses, e a mais intensa. No Congresso argentino, o Senado aprovou reformas ambiciosas; Do lado de fora, ativistas queimaram carros e atiraram pedras. Um retrato da tensão que poderia quebrar seu governo ou quebrar a hegemonia peronista.
Após décadas de estatismo, protecionismo e clientelismo, é difícil superestimar a disfuncionalidade da economia argentina. Com sistemas de controlo de preços insustentáveis e incontinência fiscal alimentada pelo dinheiro impresso pelo Banco Central, o país bateu recordes de recessão, hiperinflação e incumprimentos. As reservas internacionais evaporaram.
Para seu crédito, Milei não apelou ao vício crônico do pensamento mágico. “No hay plata”, disse ela em sua posse. Em outros países, a sua “motosserra” grosseira seria irresponsável. Na Argentina era uma necessidade. Os cortes de gastos foram brutais. Milei desligou a máquina de imprimir dinheiro e desvalorizou o peso. Seguiram-se um excedente e uma queda na inflação, mas também uma recessão.
O pacote aprovado pelo Senado contém medidas de liberalização, incentivos ao investimento estrangeiro, privatizações, aumento de receitas e poderes extraordinários para cortar despesas, eliminar regulamentações e tornar os regimes laborais mais flexíveis. É bem menos do que Milei queria e ainda retornará à Câmara para análise. Mas foi a sua maior vitória política e mostrou que “El Loco” é capaz de negociar com o establishment.
Desafio à frente
A primeira fase do governo terminou com relativo sucesso. Mas o maior desafio ainda está por vir. Milei precisa decidir o futuro do Banco Central (que prometeu fechar) e do peso (que prometeu substituir pelo dólar). Há sinais de que o peso está novamente sobrevalorizado, o que afasta os turistas, encarece as exportações e dissuade os investidores. Milei inclina-se para o que chama de “dolarização endógena”: estabelecer limites à oferta de pesos e apostar que os argentinos tirarão os dólares do colchão quando a economia precisar. Esta heterodoxia dificultaria mais empréstimos por parte do FMI, que, tal como a equipa económica de Milei, favorece um sistema semelhante à “competição cambial” peruana, em que os dólares coexistem com uma moeda cuja oferta é ajustada pelo Banco Central.
Por enquanto, a incerteza permanece. Mas o maior desafio é político: manter o apoio dos centristas e da oposição moderada. Cerca de metade dos argentinos ainda apoia Milei. Mas até quando tolerarão a dor da austeridade e da recessão?
As eleições mostraram que os argentinos queriam mudanças dramáticas. E eles conseguiram. As dúvidas são se resistirão à luta, se Milei optará pelo pragmatismo em vez da ideologia e se conseguirá negociar com a comunidade política e mobilizar a sociedade para viabilizar as reformas necessárias. O caminho é longo, mas o tempo é curto. As eleições de 2025 poderão marcar endosso ou rejeição. Neste último caso, Milei será forçada a escolher entre lutar, sem força, por uma agenda liberalizadora ou acomodar os interesses dos sectores que beneficiaram de uma economia disfuncional, ou seja, escolher entre a estabilidade política e a saúde económica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Argentina: Há sinais de que o peso está novamente sobrevalorizado, o que afasta turistas, encarece as exportações e dissuade investidores
2024-06-26
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