Especialistas defendem que Imposto Seletivo siga metas qualitativas para saúde e meio ambiente – Notícias

Especialistas defendem que Imposto Seletivo siga metas qualitativas para saúde e meio ambiente – Notícias


25/06/2024 – 18:22

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Grupo de trabalho promoveu debate sobre impactos ambientais da reforma tributária

Especialistas em direito tributário afirmaram nesta terça-feira (25), na Câmara dos Deputados, que o Imposto Seletivo (IS), criado pela reforma tributária de 2023, deve se basear em metas de sustentabilidade sanitária e ambiental e nunca em fins de arrecadação de recursos.

Advogada e especialista em tributação ambiental, Denise Cavalcante destacou que a lógica dos impostos ambientais não é a mesma dos demais tributos, devendo ser revista com mais frequência para avaliar os objetivos pretendidos.

“Um imposto ambiental eficiente tem começo, meio e fim e, quando não obtém lucro ambiental, que é o esperado, tem que ser revisto”, afirmou Denise Cavalcante em debate sobre sustentabilidade e meio ambiente promovido pelo sindicato grupo que discute a regulamentação da reforma tributária na Câmara – Projeto de Lei Complementar 68/24. “Alguns países já estão a começar a retirar os impostos sobre o carbono, porque já alcançaram o seu objetivo, estão em vigor há mais de 20 anos. A Suécia é um exemplo”, acrescentou.

Doutor em direito e filosofia, Arthur Ferreira Neto reforçou a tese de que a tributação voltada à saúde e ao meio ambiente não deve focar na receita. “O legislador precisará prestar muita atenção para alcançar propósitos de proteção eficazes”, disse ele.

Mestre em teoria econômica pela Universidade de São Paulo (USP), Braulio Borges também destacou que a função do Imposto Seletivo é incentivar modelos de produção mais sustentáveis, além de restringir o consumo de determinados produtos. “É importante lembrar que a ideia do Imposto Seletivo é também incentivar mudanças nos padrões tecnológicos para reduzir a nocividade desses produtos.”

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Cristina Reis: reforma fiscal segue Plano de Transformação Ecológica

Tributação do carbono
Borges lamentou a ausência, na proposta regulatória, de um imposto para tributar o uso do carbono nas cadeias produtivas e não apenas a produção de combustíveis fósseis. “Um imposto do carbonocom um escopo muito grande em termos de cobertura de emissões e com valores adequados, certamente poderia contribuir significativamente para o Brasil acelerar a transição energética”, disse.

Doutor em ciências políticas, Francisco Tavares também defendeu a criação de um imposto sobre as operações e negócios jurídicos que emitem gases de efeito estufa. “A China, por exemplo, fez isso com resultados formidáveis. O aspecto quantitativo do mandamento desta norma preverá um valor fixo reajustado pela IPCA por cada tonelada de CO² equivalente lançada na atmosfera. Embora possa parecer muito utópico, irrealista, é constitucional. A evidência científica diz que é economicamente viável”, afirmou.

Na China, um imposto de 5 yuan – 70 cêntimos – por tonelada de carbono resultou numa queda de 4% nas emissões de combustíveis fósseis. Na União Europeia, a taxa ronda os 100 euros por tonelada. O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas recomenda entre 30 e 50 dólares americanos.

Sustentabilidade e meio ambiente
A subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda, Cristina Reis destacou que todas as ações do governo federal na reforma tributária têm se baseado no Plano de Transformação Ecológica (PTE), que, segundo ela, consiste em uma série de medidas financeiras, tributárias, medidas fiscais e regulatórias que visam mudar o modelo tecnológico-produtivo do país, promovendo o desenvolvimento baseado em relações sustentáveis ​​com a natureza.

Ela destacou como “grande novidade” a inclusão, pela Emenda Constitucional 132, da defesa do meio ambiente entre os princípios do sistema tributário nacional, além da simplicidade, transparência e justiça tributária. Entre outras medidas, citou como avanços a criação do Imposto Seletivo e a inclusão de critérios de sustentabilidade na concessão de incentivos regionais.

Pesticidas
Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, Marcos Woortmann defendeu a inclusão de alguns tipos de agrotóxicos no Imposto Seletivo. “No projeto há uma cesta onde coisas profundamente díspares são como se fossem equivalentes. E não são”, criticou. “Estamos a falar de tratar em pé de igualdade os estimulantes de crescimento e alguns dos pesticidas mais violentamente letais, proibidos em vários países do mundo”, acrescentou.

A expectativa é que o grupo de trabalho que analisa as regulamentações da reforma tributária apresente parecer sobre o Projeto de Lei Complementar 68/24 até o dia 4 de julho.

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Geórgia Moraes



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