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A Editorial Sul
| 23 de junho de 2024
A equipe econômica do governo Lula estuda uma agenda de revisão de gastos que inclui uma Proposta de Emenda à Constituição. (Foto: Marcelo Camargo/ABr)
A Desvinculação das Receitas da União (DRU), medida estudada pela equipe econômica como opção de revisão do Orçamento, tornou-se ineficaz no desenrolar das contas públicas. Trinta anos após a criação do instrumento, as receitas desvinculadas caíram e acabaram sendo consumidas por despesas carimbadas e obrigatórias.
A equipe econômica do governo Lula estuda uma agenda de revisão de gastos que inclui uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para prorrogar a DRU, criada em 1994 e com término previsto para o final deste ano. A dissociação poderia ajudar no impasse nos pisos da saúde e da educação, que pressionam o quadro fiscal – se, no entanto, trouxesse autorização para transferir 30% dos recursos amarrados nestas duas áreas para outros locais.
A DRU fica com 30% da arrecadação de determinadas taxas e contribuições e permite que o governo utilize o dinheiro livremente, e não apenas para despesas carimbadas nessa arrecadação. As taxas de fiscalização cobradas pelas agências reguladoras, por exemplo, não vão integralmente para esses órgãos, mas uma parcela é separada da destinação original para formar o Orçamento da União e custear despesas gerais do governo.
Com o passar dos anos, alguns tributos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Renda (IPI), e algumas contribuições, como o salário educação, deixaram de ser impactados pela DRU, reduzindo os efeitos da desvinculação. O tema voltou à pauta porque a medida tem data para acabar – 31 de dezembro de 2024 – e o governo discute o que fazer.
Reformular o instrumento
Mais do que simplesmente ampliar a DRU, estuda-se a reformulação do instrumento, com a possibilidade de desvincular parte dos recursos destinados à saúde e à educação. Atualmente, essas despesas estão vinculadas à receita, têm um mínimo que o Executivo é obrigado a gastar e não podem ser flexibilizadas pela DRU – ou seja, são blindadas. Sem alterações no instrumento, portanto, a prorrogação não teria impacto na liberação de recursos no Orçamento, como deseja a equipe econômica.
Em 2022, a dissociação liberou R$ 7,2 bilhões para o governo federal, segundo levantamento do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Camillo Bassi. O valor vai para uma cesta de receitas gratuitas da União, que também conta com outros tributos não relacionados que podem ser usados para qualquer despesa. Esse valor, porém, representou menos de 2% desses recursos naquele ano.
Somente as despesas obrigatórias, aquelas que o governo é obrigado a pagar, como salários e pensões – consumiram R$ 399 bilhões da cesta de receitas gratuitas em 2022. Os benefícios previdenciários representaram R$ 69,9 bilhões. Ou seja, a dissociação foi totalmente absorvida pelos recursos obrigatórios e carimbados.
A título de comparação, em 2017, a dissociação liberou R$ 119 bilhões em recursos para a União, sendo responsável por 93% das receitas livres, porque reuniu um conjunto maior de tributos federais. Em 2019, na reforma da Previdência, a DRU deixou de focar na Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) – que tinha maior peso nos recursos desvinculados.
“Em nenhum cenário a Desvinculação das Receitas da União resolveria hoje o problema do Orçamento. A rigidez não está associada à excessiva destinação de receitas, mas à abundância de despesas obrigatórias”, afirma o pesquisador. De tudo o que o governo gasta, 93% vão para despesas rígidas, que o Executivo não pode deixar de pagar.
Receitas grátis
O cenário visto em 2022 se repetiu nos anos seguintes. Em 2023, segundo levantamento, a DRU gerou R$ 7,3 bilhões em recursos para a União. As despesas obrigatórias, por sua vez, consumiram R$ 511 bilhões da cesta de receitas livres naquele ano. Em 2024, o governo espera arrecadar R$ 10,6 bilhões com a desvinculação, com gastos rigorosos previstos para consumir R$ 609 bilhões de recursos de livre aplicação.
Se afetasse recursos de saúde e educação, a dissociação de receitas poderia tirar recursos obrigatórios dessas duas áreas e levar o governo a descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), segundo o pesquisador do Ipea.
O salário educação, que reúne contribuições das empresas e é destinado a despesas setoriais, valeria R$ 4 bilhões se fosse afetado pela dissociação em 2023, sendo que as despesas obrigatórias financiadas com essa arrecadação totalizariam R$ 5,6 bilhões. Um deles é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que sofreria cortes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Entenda o que é DRU, medida que o governo quer usar para melhorar as contas públicas
23/06/2024
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