Entenda o que é a DRU, medida que o governo quer usar para melhorar as contas públicas

Entenda o que é a DRU, medida que o governo quer usar para melhorar as contas públicas


A equipe econômica do governo Lula estuda uma agenda de revisão de gastos que inclui uma Proposta de Emenda à Constituição. (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

A Desvinculação das Receitas da União (DRU), medida estudada pela equipe econômica como opção de revisão do Orçamento, tornou-se ineficaz no desenrolar das contas públicas. Trinta anos após a criação do instrumento, as receitas desvinculadas caíram e acabaram sendo consumidas por despesas carimbadas e obrigatórias.

A equipe econômica do governo Lula estuda uma agenda de revisão de gastos que inclui uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para prorrogar a DRU, criada em 1994 e com término previsto para o final deste ano. A dissociação poderia ajudar no impasse nos pisos da saúde e da educação, que pressionam o quadro fiscal – se, no entanto, trouxesse autorização para transferir 30% dos recursos amarrados nestas duas áreas para outros locais.

A DRU fica com 30% da arrecadação de determinadas taxas e contribuições e permite que o governo utilize o dinheiro livremente, e não apenas para despesas carimbadas nessa arrecadação. As taxas de fiscalização cobradas pelas agências reguladoras, por exemplo, não vão integralmente para esses órgãos, mas uma parcela é separada da destinação original para formar o Orçamento da União e custear despesas gerais do governo.

Com o passar dos anos, alguns tributos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Renda (IPI), e algumas contribuições, como o salário educação, deixaram de ser impactados pela DRU, reduzindo os efeitos da desvinculação. O tema voltou à pauta porque a medida tem data para acabar – 31 de dezembro de 2024 – e o governo discute o que fazer.

Reformular o instrumento

Mais do que simplesmente ampliar a DRU, estuda-se a reformulação do instrumento, com a possibilidade de desvincular parte dos recursos destinados à saúde e à educação. Atualmente, essas despesas estão vinculadas à receita, têm um mínimo que o Executivo é obrigado a gastar e não podem ser flexibilizadas pela DRU – ou seja, são blindadas. Sem alterações no instrumento, portanto, a prorrogação não teria impacto na liberação de recursos no Orçamento, como deseja a equipe econômica.

Em 2022, a dissociação liberou R$ 7,2 bilhões para o governo federal, segundo levantamento do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Camillo Bassi. O valor vai para uma cesta de receitas gratuitas da União, que também conta com outros tributos não relacionados que podem ser usados ​​para qualquer despesa. Esse valor, porém, representou menos de 2% desses recursos naquele ano.

Somente as despesas obrigatórias, aquelas que o governo é obrigado a pagar, como salários e pensões – consumiram R$ 399 bilhões da cesta de receitas gratuitas em 2022. Os benefícios previdenciários representaram R$ 69,9 bilhões. Ou seja, a dissociação foi totalmente absorvida pelos recursos obrigatórios e carimbados.

A título de comparação, em 2017, a dissociação liberou R$ 119 bilhões em recursos para a União, sendo responsável por 93% das receitas livres, porque reuniu um conjunto maior de tributos federais. Em 2019, na reforma da Previdência, a DRU deixou de focar na Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) – que tinha maior peso nos recursos desvinculados.

“Em nenhum cenário a Desvinculação das Receitas da União resolveria hoje o problema do Orçamento. A rigidez não está associada à excessiva destinação de receitas, mas à abundância de despesas obrigatórias”, afirma o pesquisador. De tudo o que o governo gasta, 93% vão para despesas rígidas, que o Executivo não pode deixar de pagar.

Receitas grátis

O cenário visto em 2022 se repetiu nos anos seguintes. Em 2023, segundo levantamento, a DRU gerou R$ 7,3 bilhões em recursos para a União. As despesas obrigatórias, por sua vez, consumiram R$ 511 bilhões da cesta de receitas livres naquele ano. Em 2024, o governo espera arrecadar R$ 10,6 bilhões com a desvinculação, com gastos rigorosos previstos para consumir R$ 609 bilhões de recursos de livre aplicação.

Se afetasse recursos de saúde e educação, a dissociação de receitas poderia tirar recursos obrigatórios dessas duas áreas e levar o governo a descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), segundo o pesquisador do Ipea.

O salário educação, que reúne contribuições das empresas e é destinado a despesas setoriais, valeria R$ 4 bilhões se fosse afetado pela dissociação em 2023, sendo que as despesas obrigatórias financiadas com essa arrecadação totalizariam R$ 5,6 bilhões. Um deles é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que sofreria cortes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.