Campanha antecipada | VEJA

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As declarações do presidente Lula afirmando que será novamente candidato a presidente para evitar o revés de uma possível volta do bolsonarismo ao poder, juntamente com a propaganda eleitoral do PL, em que Valdemar Costa Neto afirma que Bolsonaro é candidato — e, se for não, escolherão os nomes da chapa —, em conjunto com as eleições municipais, desencadearam a campanha pré-eleitoral de 2026.

Em longa entrevista, Lula atacou Campos Neto, presidente do Banco Central, dizendo que ele não tem autonomia, pois dependeria do mercado. Lula também o comparou ao ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, insinuando que Campos Neto tinha intenções políticas. A pressão pública de Lula não alterou o procedimento do Banco Central para definição da taxa Selic. São exemplos concretos dos movimentos típicos do período que se inicia: declarações bombásticas, propaganda partidária, articulações de bastidores e, obviamente, a disputa municipal. A campanha deste ano é um momento comparável às eliminatórias para a Copa do Mundo, onde apenas os mais fortes avançam para a final. Os partidos vencedores estão “presos” às eleições gerais de 2026 e vendem o seu apoio a um preço elevado.

Na esfera federal, Bolsonaro está confiante de que será elegível. Para alguns, ele seria um melhor colportor do que um candidato presidencial. Por outro lado, Lula mantém as cartas fechadas, não deixando espaço para movimentações internas, apesar das especulações sobre as supostas intenções de alguns ministros. Ao lado das declarações e movimentos que marcam o início do período eleitoral de 2026, as eleições para os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que ocorrerão no início de 2025, também embaralham o cenário de pré-campanha presidencial.

“As eleições para os comandos da Câmara e do Senado também mudam o cenário”

Lula, obviamente, não quer conviver com presidentes do Congresso que não sejam aliados. Já Bolsonaro quer ter comandantes do Legislativo para ajudá-lo a se eleger. A equação também é complexa porque os partidos que elegem novos presidentes no Congresso podem não estar alinhados com o atual governo. Lendas como PSD, Republicanos e União Brasil, que fazem parte da base de Lula, não deveriam apoiar uma candidatura petista, a menos que haja uma reviravolta positiva na popularidade do presidente.

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Em última análise, Lula está entre a espada e a espada: para ter governabilidade, ele precisa do apoio daqueles que talvez não o apoiem em 2026. Como modular relações de desconfiança? Mas Bolsonaro também enfrenta um dilema: conseguirá reverter sua inelegibilidade? Quem seria seu candidato presidencial? Outro desafio para Lula é iniciar uma pré-campanha eleitoral sem ter um governo organizado e com narrativas consistentes.

O fato é que a pré-campanha começa cheia de incertezas. Mesmo assim, já está em andamento. O que não é bom para o país, pois desvia a atenção da política para a luta pelo poder, e não para enfrentar os nossos desafios como nação. Os dois protagonistas têm grandes desafios. Um não sabe se será candidato e o outro ainda não organizou o governo e terá que enfrentar uma pré-campanha.

Publicado em VEJA em 21 de junho de 2024, edição nº. 2898



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