Depois de ajudar a enterrar a medida provisória (MP) que restringia o uso do crédito dos PIS/Cofins e assim enfraquecer o Ministro das Finanças Fernando Haddad, Lula decidiu mostrar solidariedade para com a equipa económica do governo. O presidente elogiou o trabalho de Haddad, até como forma de aliviar a fritura pública do auxiliar, e recebeu membros da chamada Diretoria de Execução Orçamentária para tratar de medidas que visam garantir o equilíbrio das contas públicas.
Após a reunião, Lula demonstrou pela primeira vez, após um ano e meio de seu terceiro mandato, insatisfação com a quantidade de favores fiscais concedidos pelo governo no Brasil. “Estamos fazendo um estudo muito sério sobre o Orçamento. Não gosto de gastar o que não tenho. A equipe econômica tem que me apresentar as necessidades de corte”, disse o presidente em entrevista à rádio CBN.
E acrescentou: “Quando vi a manifestação (do Ministro do Planeamento, Simone Tebet), eu disse a ela que estava perplexo. Estamos discutindo cortes de 10 bilhões de reais, 15 bilhões de reais, e de repente você descobre que há 546 bilhões de reais em benefícios fiscais para os ricos neste país. Como isso é possível?”.
Esquecimento ou conveniência?
O presidente sabe muito bem como foi possível chegar a esta situação. Os benefícios ganharam força, por exemplo, em governos anteriores do PT, que contavam com favores fiscais para impulsionar setores da economia, como o automobilístico. O problema não e novo. Ao assumir o cargo na Fazenda, o próprio Haddad disse que pretendia enfrentá-lo.
“Queremos que a sociedade discuta se esses favores são legítimos ou não, se estão resultando em coisas positivas. Sou a favor da manutenção, por exemplo, do Prouni, que concede bolsas de estudo que permitem que estudantes pobres e negros de escolas públicas frequentem a faculdade. Como vou fechar os olhos para isso?”, disse o ministro em entrevista a VEJA após a aprovação da reforma tributária pela Câmara, em junho do ano passado. “Agora, de 6% do PIB, que atualmente é o patamar para isenções tributárias apenas na esfera federal, encontraremos 1,5 ponto percentual para cortar.”
O plano do ministro, naquele momento, era cortar cerca de 150 bilhões de reais em isenções fiscais. Muito pouco foi feito nesta área desde então. Por isso o Tesouro luta por medidas que, segundo o próprio Lula, busquem 15 bilhões de reais aqui, 10 bilhões de reais ali. Sem compromisso do presidente e do governo, o cerco de favores bilionários aos “ricos deste país” só existirá nos discursos oficiais.
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