Estímulo da Covid pode ter contribuído ‘um pouquinho’ para a inflação

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse na quarta-feira que os gastos com estímulo sancionados pelo presidente Joe Biden para ajudar a recuperação dos EUA da pandemia de Covid-19 podem ter contribuído “um pouco” para os subsequentes problemas de inflação do país.

Mas o aumento generalizado dos preços que prejudicou a administração democrata foi principalmente “um fenómeno do lado da oferta” causado pela própria pandemia, disse Yellen ao “Money Movers” da CNBC numa entrevista de saída antes de deixar o seu cargo.

Houve “simplesmente enormes problemas na cadeia de abastecimento”, disse ela, acrescentando que a escassez de bens essenciais “começou a aumentar bastante os preços”.

Yellen disse acreditar que o projeto de lei de alívio da Covid de US$ 1,9 trilhão e outros gastos eram necessários, e não respondeu diretamente quando questionada se ela se arrependia disso.

Em vez disso, ela instou os americanos a lembrarem que a pandemia estava “fora de controle” quando Biden assumiu o cargo, com milhares de pessoas morrendo devido ao vírus todos os meses e uma alta taxa de desemprego ameaçando os meios de subsistência.

“Foi muito importante gastar o dinheiro para aliviar esse sofrimento”, disse ela.

Yellen também argumentou que a administração Biden priorizou a redução do défice e rejeitou os críticos que apontam para factos como o aumento do défice dos EUA que atingiu US$ 1,8 trilhão no último ano fiscal.

“Os aumentos nas taxas de juros levaram a custos mais elevados de serviço da dívida pendente. Esse é um fator que está envolvido”, disse ela. “Mas os gastos discricionários estão em níveis historicamente baixos.”

Questionada sobre o DOGE, o grupo consultivo externo co-liderado por Elon Musk e encarregado pelo presidente eleito Donald Trump de propor cortes massivos nos gastos do governo, Yellen pareceu cética.

“É difícil ver como funciona a matemática disso”, disse ela.

Ela observou que “muitos sentem que os gastos com a defesa deveriam aumentar” e que os chamados programas de gastos obrigatórios – como a Segurança Social, o Medicaid e o Medicare – são amplamente populares e seriam difíceis de cortar.

“É difícil ver como seria possível resolver o déficit dessa forma”, disse ela.

Yellen, de 78 anos, que liderou o Tesouro durante o mandato de quatro anos de Biden, será substituída pelo executivo de fundos de hedge Scott Bessent.

Yellen disse que a vasta experiência de mercado de Bessent é “uma base muito útil” para um candidato que pretende assumir o comando da agência responsável pela gestão da segurança financeira do país.

“Estou satisfeito em ver alguém com experiência que irá… assumir, presumivelmente, se for confirmado pelo Senado”, disse Yellen.

Quanto aos seus próprios planos pós-Tesouro, Yellen disse: “Vou tirar férias”.

Ela acrescentou que provavelmente retornará ao Brookings Institution, “e apenas escreverá e refletirá sobre minhas experiências nos últimos quatro anos”.