Minas espalhadas na Síria ameaçam 5 milhões de crianças, diz Unicef

Minas espalhadas na Síria ameaçam 5 milhões de crianças, diz Unicef


Na Síria, as minas terrestres e outros explosivos que sobraram de anos de conflito representam uma ameaça cada vez mais letal para as crianças.

Falando esta terça-feira desde Damasco, o coordenador de comunicações de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Ricardo Pires, disse que para estes menores “cada passo que dão acarreta o risco de uma tragédia inimaginável”.

300 mil minas espalhadas pelo país

“O futuro da Síria está em risco e ainda mais com a situação dos resíduos explosivos que não foram removidos e estão em campos espalhados por todo o país, nas diversas províncias. Só em Dezembro, mais de 100 crianças foram feridas ou mortas por explosivos. A situação é muito grave. As crianças realmente não podem sair de casa sem pensar que algo ruim pode acontecer com elas, o que causa muitos traumas, não só para elas, mas também para suas famílias.”

Ele destacou que esta é a principal causa de vítimas infantis na Síria neste momento, como tem sido há muitos anos.

O representante da Unicef ​​disse que a ameaça continuará a existir porque o solo continua infestado com mais de 300 mil minas espalhadas por todo o país. O perigo afecta cerca de 5 milhões de crianças que vivem em áreas contaminadas por explosivos.

Nos últimos nove anos, foram relatados pelo menos 422 mil incidentes envolvendo munições não detonadas nas 14 províncias da Síria, e metade das vítimas trágicas estimadas foram crianças.

Mais minas terrestres foram colocadas na Síria devido ao conflito em curso no país. (arquivo)

Ondas de deslocamento pioraram o perigo

Pires explicou que mesmo quando os menores sobrevivem a estas explosões, “o drama não acaba”. Sofrem lesões e incapacidades que mudam completamente as suas vidas e muitas vezes significam que não podem regressar à escola ou podem sofrer com a falta de cuidados de saúde adequados.

O coordenador de comunicações destacou que a ameaça só se intensificou desde a queda do regime do ex-presidente Bashar Al-Assad, em 8 de dezembro, quando muitas armas, incluindo explosivos, foram deixadas para trás, em Homs, mas também em Damasco.

Além disso, novas ondas de deslocamento agravaram o perigo. Segundo dados da Unicef, desde 27 de novembro, mais de 250 mil crianças foram obrigadas a fugir das suas casas devido à escalada do conflito.

Pires sublinhou que para os deslocados e para aqueles que tentam regressar a casa, “o perigo de engenhos não detonados é constante e inevitável”.

Preço muito baixo a pagar para salvar vidas

O representante da Unicef ​​apelou a maiores esforços de desminagem humanitária, educação sobre o risco de minas e apoio aos sobreviventes.

Ele destacou que, como parte das discussões sobre os esforços de reconstrução apoiados pela comunidade internacional, “é fundamental que os investimentos imediatos garantam que o terreno esteja seguro e livre de explosivos”.

O porta-voz da Unicef, James Elder, fez eco deste apelo, sublinhando que para financiar a desminagem são necessárias dezenas de milhões de dólares. Ele enfatizou que este investimento salvaria milhares de vidas e ajudaria a Síria a recuperar o seu antigo estatuto de país de rendimento médio.

Elder concluiu que este “é um preço muito, muito baixo que precisa ser pago”.

Pires acrescentou que além do risco de minas e explosivos, as crianças sírias sofrem com a falta de acesso à educação, segundo ele, a situação é “catastrófica”, mesmo depois da mudança política ocorrida no dia 8 de dezembro.

Mais de 7,5 milhões de crianças necessitam urgentemente de assistência humanitária e 2 milhões delas não frequentam a escola.



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