Líbano: mais de 1 milhão de pessoas fogem em meio a temores de invasão

Mais de 1 milhão de pessoas no Líbano foram deslocadas pelos contínuos e mortais ataques aéreos israelenses em todo o país. Na madrugada desta segunda-feira, foi relatado um novo ataque numa área residencial no centro da capital, Beirute, aumentando o receio de uma invasão em grande escala.

Entre as vítimas do atentado de fim de semana estava Selena al Smarah, de seis anos, que foi morta junto com seus pais em casa, na cidade de Tiro, no sábado. Sua irmã Celine, de 10 anos, sobreviveu, mas sofreu ferimentos no ataque.

Crianças entre as vítimas

As irmãs participavam regularmente de um workshop de artes organizado pela ONG Associação para as Artes, que tem centros em Tiro e Trípoli, no norte.

Nas fotos tiradas um dia antes do ataque, Selena sorri e segura um de seus desenhos em uma oficina de arte, enquanto em um pequeno vídeo sua irmã explica como as sessões a animam e permitem que ela se reúna com os amigos.

O ator e realizador Kassem Istanbouli, que lidera o grupo de voluntários, disse que continuarão “o trabalho por estas crianças e jovens nestes tempos de guerra durante o tempo que for necessário”. O objectivo da ONG é promover a educação artística em áreas marginalizadas em todo o Líbano e criar laços entre comunidades divididas.

No ano passado, Istanbouli foi co-vencedor do Prémio Sharjah para a Cultura Árabe, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, UNESCO. Em 2021, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu os esforços do ator libanês em envolver os jovens em mudanças positivas e na reabertura de teatros fechados pela guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah.

Istanbouli explicou que as irmãs participavam de oficinas enquanto seus pais vendiam milho doce e feijão em uma pequena barraca perto do Teatro Nacional Libanês, em Tiro. Ele disse que Selena ia ao projeto todos os dias e estava sempre animada com as aulas de desenho e acrescentou que “o mundo deveria garantir que haja responsabilização por esse crime horrível contra Selena”.

Êxodo para a Síria

Cerca de 100 mil libaneses deslocados chegaram à Síria, de acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR. O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que “o fluxo continua” nas passagens de fronteira entre a Síria e o Líbano.

Grandi destacou que as equipes da agência estão disponíveis em quatro pontos de passagem dentro da Síria para apoiar os recém-chegados.

O confronto entre os militares israelitas e o grupo armado Hezbollah baseado no Líbano intensificou-se dramaticamente na sexta-feira, com a morte num ataque do líder do grupo libanês, Hassan Nasrallah.

Esta segunda-feira, o Hamas anunciou que o seu líder no Líbano, Fatah Sherif al-Amin, foi morto num ataque aéreo a um campo de refugiados para palestinianos, juntamente com a sua família.

A ajuda humanitária está a ser prestada pelo ACNUR e outras agências da ONU, incluindo a Agência de Ajuda aos Refugiados Palestinianos, Unrwa, que abriu nove abrigos que acomodam 3.350 pessoas.

Apoio da ONU em abrigos

O porta-voz da agência no Líbano, Fadi El Tayyar, disse que nestes abrigos a ajuda é prestada “com base na imparcialidade e na não discriminação, acolhendo refugiados palestinianos, libaneses e sírios, apoiando todos os necessitados”.

O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, informou que 90% das pessoas deslocadas fugiram das suas casas na semana passada. Segundo a agência, “o deslocamento supera agora a guerra de 2006, desencadeada por intensos ataques israelenses e ordens de evacuação de civis”.

De acordo com o Ministério da Saúde do Líbano, os ataques israelenses mataram 105 pessoas desde domingo em todo o país.

O Programa Alimentar Mundial, PAM, lançou uma operação de emergência para fornecer assistência alimentar a um milhão de pessoas afectadas pela recente escalada do conflito no Líbano.