O secretário-geral das Nações Unidas afirmou esta quinta-feira que a “chama da esperança” que surgiu na Síria com o fim de “mais de cinco décadas de regime brutal e ditatorial” não pode ser extinta.
Em declarações aos jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque, António Guterres sublinhou que a população do país se depara com uma oportunidade histórica que não pode ser desperdiçada.
Ameaça do Estado Islâmico
Para ele, os sírios podem recuperar as aspirações que desencadearam o movimento pacífico pela mudança em 2011, antes da guerra.
O líder da ONU alertou, no entanto, que se a situação actual não for gerida cuidadosamente, pelos próprios sírios, com o apoio da comunidade internacional, “existe um risco real de que o progresso possa desmoronar”.
Guterres afirmou que embora a situação tenha estabilizado em partes da Síria, o conflito “está longe de terminar”. Lembrou que as últimas duas semanas foram marcadas por confrontos significativos no norte e que o grupo terrorista Isil “continua a ser uma grande ameaça em muitas partes do país”.
Afirmou que não devem ser criadas condições para que o grupo desenvolva actividades e amplie a sua presença.
Milhares de pessoas atravessam a Síria do Líbano através da fronteira de Masnaa
Ataques israelenses
O líder da ONU apelou também ao fim dos “extensos ataques aéreos israelitas”, que classificou como “violações da soberania e integridade territorial da Síria”.
Nas Colinas de Golã, a missão de manutenção da paz das Nações Unidas, Undof, continua a observar o pessoal e equipamento das Forças de Defesa de Israel em vários locais da área de separação e num local da área de delimitação.
O secretário-geral sublinhou que não devem existir forças militares naquele local, para além das pertencentes às Nações Unidas que devem ter liberdade de circulação.
Considerando todas estas ameaças, Guterres destacou que os civis continuam em risco de morte, ferimentos e deslocamento.
Transição política e crise humanitária
O secretário-geral defendeu uma transição política “inclusiva, credível e pacífica”, onde todas as comunidades estejam totalmente integradas e os direitos das mulheres e meninas sejam plenamente respeitados.
A longo prazo, afirmou que o país deve avançar no sentido da elaboração de uma nova constituição e da realização de eleições.
Guterres lembrou que a Síria continua a ser uma das maiores crises humanitárias do mundo, com necessidades crescentes a serem respondidas pela ONU num contexto de “condições novas e ainda em rápida mudança”.
O líder das Nações Unidas sublinhou que o financiamento adequado para respostas humanitárias e de recuperação é “fundamental” e que “gestos de solidariedade” precisam de ser levados adiante até que existam condições para que todas as sanções ao país sejam removidas.
Responsabilização por crimes
Em relação às pessoas desaparecidas, Guterres prometeu apoio da ONU para acabar com a “agonia da incerteza” que afecta muitas famílias.
O Secretário-Geral anunciou a nomeação de Karla Quintana, do México, para chefiar a Instituição Independente sobre Pessoas Desaparecidas na Síria, mecanismo criado pela Assembleia Geral em junho de 2023.
O líder das Nações Unidas apelou para que este e todos os mecanismos internacionais criados para promover a protecção dos direitos humanos na Síria e a responsabilização pelos crimes cometidos recebam os meios necessários para realizar o seu trabalho.
Ele disse que era “obrigação da comunidade internacional apoiar o povo da Síria que tanto sofreu”. Guterres disse que o futuro do país deve ser moldado “pelo seu povo, para o seu povo, com o apoio de todos”.
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