Gaza precisará de ao menos10 anos para limpar terrenos minados por explosivos

Desde o início do cessar-fogo em Gaza, no passado domingo, registou-se um aumento significativo na chegada de ajuda, permitindo melhorias na resposta humanitária, na reparação de infra-estruturas e na distribuição de combustíveis.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, afirmou que algumas prioridades neste momento são a gestão dos escombros, a recuperação de corpos e o combate à contaminação por material de guerra explosivo.

Expectativa de um fim permanente para a morte, destruição e privação

Estas medidas são consideradas fundamentais para permitir a circulação segura da população, o fluxo de assistência e o restabelecimento de serviços essenciais.

Para o chefe do Ocha no Território Palestiniano Ocupado, este “frágil cessar-fogo” precisa de durar. Jonathan Whittall afirmou que “o sucesso deste acordo será medido pelo fim permanente da morte, destruição e privação”.

Especialistas da ONU afirmam que os elevados níveis de contaminação por explosivos são um problema que só será resolvido dentro de 10 anos, se houver apoio financeiro internacional.

Estas munições não detonadas estão enterradas sob mais de 42 milhões de toneladas de detritos, criados pela destruição de edifícios, estradas e outras construções, que por sua vez contêm amianto e outros contaminantes perigosos.

Cozinhas humanitárias e padarias reabrem

O vice-diretor sénior da Agência de Assistência e Obras da ONU para os Refugiados Palestinianos, Unrwa, revelou que a quantidade de alimentos que entrou em Gaza nos últimos quatro dias será suficiente para alimentar 1 milhão de pessoas.

Sam Rose destacou que ainda há outros 4,8 mil caminhões esperando para entrar.

No centro e no sul de Gaza, foram retomadas as distribuições mensais de cabazes alimentares completos. Além disso, o volume, as porções e o conteúdo das refeições nas cozinhas comunitárias foram redesenhados e as padarias subsidiadas pela ONU estão prestes a reabrir.

O fornecimento de combustível permitiu que poços de água, usinas de dessalinização e bombas de esgoto voltassem a funcionar. Estão já em curso importantes obras de reparação de estradas e infra-estruturas hídricas.

Separação forçada traumatizou crianças

O OCHA também destaca o padrão traumático de separação forçada de crianças e famílias em Gaza e a necessidade de continuar a localizar menores não acompanhados.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, informou que crianças e famílias enfrentam “destruição total e colapso de infra-estruturas” ao se depararem com as casas que tiveram de abandonar no norte de Gaza.

PAM apoia cozinhas que servem refeições quentes

Primeira fase do acordo

O cessar-fogo entre Israel e os grupos armados palestinos entrou em vigor em 19 de janeiro através de um processo mediado pelo Egito, Catar e Estados Unidos.

A primeira fase de 42 dias inclui a libertação gradual de alguns reféns israelitas em troca da libertação de alguns detidos palestinianos e da retirada das forças israelitas dos centros populacionais, excepto das zonas tampão identificadas.

Além disso, o acordo prevê a retirada gradual das forças israelitas do corredor Netzarim, entre o norte e o sul de Gaza, e a expansão em grande escala da entrega de ajuda.

Corpos de reféns ainda estão detidos

Estima-se que 94 israelitas e cidadãos estrangeiros permanecem prisioneiros em Gaza, incluindo reféns que foram declarados mortos e cujos corpos estão detidos.

Segundo dados de fontes israelitas, existem atualmente 10.221 palestinianos na prisão, incluindo 2.025 condenados, 2.934 em prisão preventiva, 3.376 detidos administrativos sem julgamento e 1.886 detidos como “combatentes ilegais”.

Estes números não incluem os palestinianos de Gaza que foram detidos pelos militares israelitas desde 7 de outubro de 2023.