Fome se espalha e ameaça crianças na Faixa de Gaza

As recentes mortes de mais crianças palestinianas devido à fome e à subnutrição não deixam dúvidas de que a insegurança alimentar se espalhou por toda a Faixa de Gaza. A afirmação foi feita por um grupo de especialistas independentes* nesta terça-feira.

Em nota, os relatores apontam o crescente número de menores que morreram por desnutrição e falta de acesso a cuidados de saúde adequados. Para os especialistas, a morte de uma criança por desnutrição e desidratação indica que as estruturas sociais e de saúde foram atacadas e estão gravemente fragilizadas.

A fome se instalou

Na declaração, os especialistas declararam que a “campanha de fome intencional e direccionada de Israel contra o povo palestiniano” é uma forma de “violência genocida” e resultou em fome em toda a Faixa de Gaza.

Apelam à comunidade internacional para que dê prioridade à entrega de ajuda humanitária “por terra ou por qualquer meio necessário, ponha fim ao cerco de Israel e estabeleça um cessar-fogo”.

Para os relatores, o mundo inteiro deveria ter intervindo mais cedo para “parar a campanha genocida de Israel contra a fome e evitar estas mortes”. Segundo dados citados por especialistas, 34 palestinos morreram de desnutrição desde 7 de outubro, a maioria deles crianças. “Inação é cumplicidade”, avaliam.

Novas evacuações

Também na terça-feira, o Escritório de Direitos Humanos da ONU disse estar chocado com as novas ordens para evacuar as forças israelenses na Cidade de Gaza e pediu novamente um cessar-fogo imediato.

O comunicado de imprensa recorda que muitos já foram deslocados à força várias vezes e reforça que as ordens de evacuação das autoridades israelitas são confusas, instruindo muitas vezes as pessoas a deslocarem-se para áreas onde estão em curso operações militares.

O Gabinete reitera que Israel deve garantir a segurança dos civis em Gaza e manifesta preocupação com a rápida deterioração da ordem civil em toda a área, gerando um impacto negativo na protecção dos palestinianos e no espaço humanitário.

Abrigos Unrwa

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos, Unrwa, afirmou que, sem ter para onde ir, as pessoas continuam a viver em abrigos superlotados e tendas improvisadas na praia ou em edifícios danificados.

Numa das escolas da Unrwa em Deir al-Balah, a situação não permite a privacidade das pessoas, as condições de higiene são péssimas e faltam serviços e materiais essenciais.

Com as novas ordens de evacuação, a Unrwa diz que as famílias são forçadas a fugir, mas não há lugar seguro para os deslocados. À medida que os ataques continuam, as pessoas têm de regressar às áreas destruídas, apesar da ameaça de engenhos não detonados.

Saúde

Numa actualização sobre a situação dos cuidados de saúde, a Organização Mundial da Saúde afirma que as ordens de evacuação na Cidade de Gaza impedirão ainda mais a prestação de serviços essenciais que salvam vidas.

Segundo o chefe da OMS, Tedros Ghebreyesus, dois importantes hospitais da região estão fora de serviço. Os pacientes evacuados por conta própria, tiveram alta precoce ou foram encaminhados para Kamal Adwan e hospitais indonésios, que sofrem com a falta de combustível, camas e suprimentos médicos para traumas. Além disso, o Hospital Indonésio está a funcionar com três vezes a sua capacidade.

O Hospital Al-Helou está dentro dos blocos de ordem de evacuação, mas continua operando parcialmente. Os hospitais As-Sahaba e Al-Shifa estão próximos das áreas sob ordem de evacuação, mas permanecem operacionais neste momento. Seis postos médicos e dois centros de cuidados de saúde primários também estão dentro das zonas de evacuação.

*Os especialistas em direitos humanos não são funcionários da ONU nem recebem salário da organização.