Relatora da ONU elogia liberação de Julian Assange e recomenda atualização de leis americanas

Relatora da ONU elogia liberação de Julian Assange e recomenda atualização de leis americanas



A relatora especial da ONU sobre tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, Alice Jill Edwards, saudou a decisão de libertar Julian Assange, fundador do site WikiLeaks.

Em entrevista ao UN News, o mandatário elogiou o acordo negociado, avaliando que as partes chegaram a uma “solução sensata”. Segundo ela, Assange se declarou culpado de vários crimes e o total de cinco anos cumpridos na prisão de Belmarsh, na Inglaterra, deveria ser considerado punição suficiente.

Direitos humanos

Questionado se o caso poderia influenciar as sentenças de outros denunciantes, Edwards avaliou que este caso é “particularmente complexo”. Explicou que os governos têm o direito de operar com um certo nível de sigilo em relação, principalmente, à informação diplomática e militar.

No entanto, para ela, o nível de confidencialidade de que gozam para proteger a segurança pública e nacional não se estende às revelações de crimes de guerra ou quaisquer outras violações dos direitos humanos.

O relator acrescenta que os países democráticos devem ser responsáveis ​​pela sua população e isso exige liberdade de imprensa e escrutínio jornalístico, como “pilares da democracia”.

Lei de espionagem

Para Edwards, o verdadeiro desafio neste caso é a Lei de Espionagem dos Estados Unidos de 1917. Ela recomendou que o país actualizasse as suas leis de espionagem e extradição para as colocar em conformidade com os direitos humanos.

Para o relator, as pessoas não devem ser extraditadas para locais onde possam enfrentar tortura ou outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, e isso inclui penas desproporcionais a quaisquer alegados crimes que possam ter sido cometidos.

O relator acrescentou que os crimes expostos por Assange precisam ser levados a sério e devidamente investigados e processados ​​nos Estados Unidos. Na sua avaliação, a impunidade para crimes de guerra e outras violações das leis da guerra apenas encoraja os intervenientes a fazer justiça com as próprias mãos.

Papel das Nações Unidas

Para Alice Jill Edwards, a ONU possui as estruturas jurídicas aplicáveis ​​à proteção dos direitos humanos. Ela explicou que as regras são fortes no contexto da Convenção contra a Tortura, do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

Segundo o relator, é necessário introduzir algumas alterações internas para melhor reflectir as normas em matéria de direitos humanos. Concluiu manifestando solidariedade à família de Assange, que após o acordo poderá continuar a sua vida na Austrália, seu país de origem.

O caso de Assange ganhou notoriedade na década de 2010, depois de o seu site ter revelado informações confidenciais dos Estados Unidos. Ele estava preso desde 2019 no Reino Unido.

* Os relatores especiais não são funcionários da ONU e não recebem salário.



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