Opas revela obstáculos no acesso a remédios para a hipertensão na América Latina e Caribe

Uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde, OPAS, constatou diversas irregularidades prejudiciais no tratamento farmacêutico da hipertensão na América Latina e no Caribe.

As revelações do estudo, publicado no Journal of Pharmaceutical Policies and Practices, apontam para listas de medicamentos desatualizadas e práticas de fornecimento dispersas. Os pesquisadores defendem uma maior padronização dos medicamentos anti-hipertensivos para reduzir os riscos e o impacto socioeconômico das patologias cardiovasculares na região.

Tratamento da hipertensão no Brasil

A investigação utilizou uma abordagem em duas fases, com uma análise inicial das Listas Nacionais de Medicamentos Essenciais, Lnme, em 22 países envolvidos na iniciativa Hearts da OPAS. Na segunda etapa, foi realizado um estudo aprofundado dos mercados farmacêuticos em seis estados da América do Sul e do Caribe.

A primeira fase revelou “inconsistências notáveis” quanto à inclusão de medicamentos anti-hipertensivos recomendados pela Opas para o Lnme. Em particular, os investigadores destacam a exclusão de medicamentos de dose fixa. A análise de mercado, por outro lado, revelou variações substanciais nos preços e limitações significativas no registo de medicamentos.

No caso brasileiro, o estudo aponta que muitas vezes fatores econômicos determinam a não inclusão de medicamentos em dose fixa na lista nacional de medicamentos essenciais. Na versão 2022 do documento, aprovado pelo Ministério da Saúde do Brasil, dos 15 medicamentos para tratamento da hipertensão, nenhum tinha doses fixas. No entanto, 11 destes medicamentos são encontrados na Lista Padrão da OMS.

No Brasil, apontam os autores do estudo, as decisões de política de saúde são influenciadas por um ponto de vista econômico que pode ignorar os benefícios de longo prazo dos medicamentos de dose fixa. Exemplos de benefícios incluem maior adesão do paciente, melhor controle da pressão arterial e economia potencial. Por outro lado, a oferta limitada de medicamentos de dose fixa reflecte-se no seu elevado custo e no agravamento das disparidades na saúde pública.

Âmbito das doenças cardiovasculares

As doenças cardiovasculares são uma causa frequente de morte e incapacidade na região, com mais de 2 milhões de mortes por ano.

Em 2019, a prevalência de hipertensão em adultos de 30 a 79 anos era de 35,4%, segundo a Opas. Das pessoas diagnosticadas com a doença, 15% não receberam tratamento e 47% das que receberam medicação não tiveram a pressão arterial controlada. A hipertensão arterial representa o principal fator de risco em acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e doenças cardíacas isquêmicas.

Dados os efeitos da hipertensão no alcance global das doenças cardiovasculares, a implementação da iniciativa Hearts, em 33 países da região das Américas, visa desenvolver recursos técnicos para equipes de cuidados primários de saúde.

Desde 2016, a Via Clínica Hearts é a principal ferramenta de implementação da iniciativa, que promove um protocolo de tratamento padronizado.

A norma recomenda iniciar o tratamento com dois medicamentos anti-hipertensivos de classes farmacológicas complementares, preferencialmente em dose única fixa, para aumentar a adesão do paciente, reduzir a inércia terapêutica e melhorar o controle da hipertensão com mínimos efeitos adversos.