Suriyumi tem 15 anos, faz parte do povo Guarani e já é uma das muitas jovens vozes indígenas que se levantaram para combater a invisibilidade e os estigmas que cercam a cultura e a identidade dos nativos no Brasil.
Nó documentário “Mundos Cruzados”a jovem partilha o impacto diário do racismo e da xenofobia que enfrenta desde a infância.
Intimidação e desinformação
“Não passa um dia sem que não lutemos. Nascemos para lutar contra isso”, diz Suriyumi ao UN News, refletindo sobre o preconceito que os povos indígenas enfrentam no Brasil.
O filme “Mundos Cruzados”, dirigido por Daniel Abraão, ele era distinguido pelo Plural+ Youth Video Festival da Aliança das Civilizações, Unaoc, e pela Organização Internacional para as Migrações, OIM.
Ao produzir o curta-metragem, Suriyumi descreve como é alvo de críticas e intimidação por sua aparência, principalmente pela pintura corporal que utiliza como parte de suas tradições.
O diretor do filme, Daniel Abraão, fala sobre o que o motivou a compartilhar a história.
“Ela chegava na escola e conversavam sobre o motivo de ela estar suja. Porque ela se pinta. E ela não está suja. Essa é a força deles, entendeu? Tem até tudo a ver com saúde, com manifestação de um bem indígena sagrado.”
Daniel Abraão percebeu que Suriyumi poderia dar voz à falta de compreensão e respeito pela cultura indígena que contribui para a perpetuação de estereótipos e preconceitos.
“Senti essa força e, ao mesmo tempo, essa dor que ela sentia no dia a dia, quando ia para a escola e tudo mais. E aí resolvi pedir para ela cantar um dia: você quer ter a oportunidade de ter voz e falar?”
A voz da juventude indígena
O documentário “Mundos Cruzados” não é apenas um retrato da realidade de Suriyumi, mas um apelo a uma mudança mais ampla. A produção do curta denuncia a invisibilidade que impede os povos indígenas de terem acesso à igualdade de direitos e oportunidades, ao mesmo tempo em que destaca o valor de suas culturas e conhecimentos ancestrais.
O diretor Daniel Abraão acredita que é fundamental dar visibilidade aos Suriyumi e outras vozes indígenas, destacando o papel essencial de suas comunidades na preservação do meio ambiente e no combate às mudanças climáticas.
“Os indígenas sabem cuidar das matas, dos rios, das matas. Vivem de forma sustentável, em harmonia com a natureza”, diz Abraão, que também é descendente de guaranis.
Reconhecimento das Nações Unidas
Embora o documentário tenha sido premiado e selecionado pelo Festival de Vídeos Juvenis Plural+, o verdadeiro reconhecimento para Suriyumi e Daniel é a capacidade de dar voz a milhares de jovens indígenas que enfrentam diariamente a luta contra o racismo, a xenofobia e a invisibilidade.
“Fiquei muito feliz pela oportunidade de representar os povos indígenas”, disse Suriyumi.
A jovem viajou com a família e a equipa de produção para Cascais, Portugal, para ser formalmente homenageada no festival paralelo ao 10º Fórum Global da Aliança das Civilizações que decorreu de 25 a 27 de novembro.
A importância de ouvir e valorizar as vozes indígenas
A história de Suriyumi reforça a necessidade urgente de dar espaço às vozes indígenas, como é feito para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, todo dia 9 de agosto.
Em 2007, as Nações Unidas adoptaram a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, considerada “um quadro para proteger os seus direitos à terra, à língua e à autodeterminação”.
A organização destaca a importância dos povos indígenas, que representam cerca de 476 milhões de pessoas em mais de 90 países, constituindo aproximadamente 6% da população mundial.
Apesar disso, estes grupos enfrentam desigualdades significativas, representando 15% das pessoas mais pobres do mundo.
*Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.
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