A Missão Internacional Independente de Apuramento de Factos na Venezuela* emitiu esta segunda-feira um comunicado exigindo às autoridades venezuelanas que parem imediatamente com a repressão e “investiguem exaustivamente a avalanche de graves violações dos direitos humanos que estão a ocorrer”.
Segundo especialistas, o estado criou um clima de “medo generalizado” que levou a 23 mortes documentadas entre 28 de julho e 8 de agosto, a maioria delas por tiros. Em 18 casos, as vítimas eram homens com menos de 30 anos.
1.260 pessoas detidas
Após as eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela, nas quais as autoridades eleitorais declararam o atual presidente Nicolás Maduro o vencedor, surgiu uma série de mobilizações de protesto, tanto nas ruas de todo o país como nas redes sociais. Os atos foram seguidos de medidas repressivas por parte do governo.
A presidente da Missão Internacional, Marta Valiñas, disse que as acusações devem ser investigadas e que, se se confirmar o abuso da força por parte das autoridades de segurança ou de civis armados pró-governo, deve haver responsabilização.
Ela enfatizou que “as vítimas e suas famílias devem obter justiça”.
Os dados dos peritos, obtidos a partir da análise de relatórios de organizações de direitos humanos, indicam que após as eleições pelo menos 1.260 pessoas foram detidas, incluindo 160 mulheres.
A maior parte das prisões ocorreu na Capital, que responde por 18% dos casos, seguida pelos estados de Carabobo, com 16% e Anzoátegui com 9%.
Acusação de “terrorismo”
Além disso, dados fornecidos pela Procuradoria-Geral da República indicam que outras 2.200 pessoas, indiscriminadamente classificadas como “terroristas”, foram detidas.
Entre os detidos encontram-se líderes, membros e apoiantes de partidos políticos, jornalistas e defensores dos direitos humanos, considerados ou percebidos como opositores pelas autoridades.
Os peritos da missão argumentaram que a grande maioria das pessoas detidas simplesmente expressou a sua rejeição ao resultado das eleições presidenciais. Muitas das detenções ocorreram depois destas pessoas participarem em protestos ou expressarem as suas opiniões nas redes sociais, havendo relatos de que as autoridades as procuraram nas suas casas.
Prisões arbitrárias
Especialistas independentes também citaram relatos de prisões de mais de uma centena de crianças e adolescentes acusados dos mesmos crimes graves que os adultos. Esses menores não puderam contar com a presença de seus pais, mães ou responsáveis durante o processo judicial.
Os membros da missão sustentaram que as características das detenções indicam que são arbitrárias e violam o devido processo, deixando as pessoas afetadas desprotegidas perante o sistema de justiça.
Afirmaram que uma das provas é a atribuição de acusações criminais graves, como terrorismo, conspiração e crimes de ódio, sem base probatória fundamentada ou aplicadas de forma desproporcional.
Neste sentido, a Missão sublinhou que todas as pessoas detidas nestas condições devem ser libertadas imediatamente.
* Em Setembro de 2019, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas criou a Missão Internacional Independente de Apuramento de Factos sobre a Venezuela para avaliar alegadas violações dos direitos humanos cometidas desde 2014. Prorroga o mandato da Missão até Setembro de 2024.
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