A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAOsediou a 76ª sessão do Comitê de Problemas de Produtos Essenciais, CCP. A representante permanente do Brasil, Carla Barroso Carneiro, falou sobre a participação da delegação do país no encontro internacional realizado entre os dias 11 e 13 de setembro.
Um dos pontos da agenda foi a “Proposta de Dia Internacional do Café”, incluída na agenda do órgão após moção apresentada pelo Governo do Brasil.
Petição formal para a celebração do grão de café
Segundo Carla Barroso Carneiro, a fundamentação que embasou a petição formal de celebração do grão de café e dos seus fenómenos derivados, incluindo a indústria que o produz, foi desenvolvida sob a orientação de dois vetores contextuais.
Ela disse que, por um lado, houve o impacto sociocultural e económico gerado pela adopção de dias internacionais no sistema ONU. Por outro lado, inspirou o papel histórico do café como facilitador do avanço nos países em desenvolvimento.
“Quando se institui um Dia Internacional, aquele produto, aquele tema é objecto de muita atenção, de grande visibilidade, o que é, obviamente, uma oportunidade de reflexão, de acesso aos mercados quando se trata de produtos, de aumento de rendimento dos produtores. Mas é interessante pensar também que este é um produto dos países em desenvolvimento que é o resultado histórico de uma migração bem sucedida. Uma migração que deu resultados de continente para continente. Então, o café é um exemplo de como os países em desenvolvimento podem ter acesso aos mercados internacionais através justamente dessa disseminação, neste caso de um produto monosemente, mas também de práticas comuns – de práticas de produção que podem gerar renda e melhorar a vida dos produtores rurais .”
O embaixador representa o Estado Brasileiro junto a Organizações Internacionais Relacionadas, nomeadamente o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e o Programa Mundial de Alimentos.
Revisão pelo Conselho da FAO
Após a conclusão das reuniões do CCP, o diplomata confirmou nas redes sociais que o órgão aprovou a redação da moção para a comemoração anual do Dia Internacional do Café, em 1º de outubro. A proposta seguirá para revisão pelo Conselho da FAO, antes de ser apresentada à Assembleia Geral da ONU, “idealmente, em 2026”.
O embaixador destacou que a iniciativa contou com forte apoio de diversos países em todas as fases de apresentação.
“É importante lembrar que o Brasil, ao apresentar esta proposta, contou com o apoio de todos os países do grupo da América Latina e Caribe. Teve apoio, inclusive da Índia, que gostaria de co-patrocinar a proposta brasileira. Teve também o apoio dos países africanos, o que é fundamental, porque é o continente de onde veio a variedade das espécies que hoje produzimos.”
Um dos argumentos destacados no texto da proposta para o Dia Internacional do Café é a contribuição que um setor cafeeiro vibrante dá aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da Agenda 2030.
Impacto positivo na redução da pobreza extrema
O documento destaca o impacto positivo na redução da pobreza extrema prevista no ODS 1, na eliminação da fome no ODS 2, na capacitação das mulheres no ODS 5 e na ação climática no ODS 13, principalmente nos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos.
De acordo com estimativas citadas no documento, o valor global da produção de café ultrapassa os 20 mil milhões de dólares por ano. O montante apoia cerca de 25 milhões de famílias agrícolas.
Contudo, o volume do comércio mundial de frutos e produtos derivados do café é de cerca de 30 mil milhões de dólares, enquanto a receita anual da indústria cafeeira ultrapassa os 200 mil milhões de dólares.
Diante desses números, Carla Barroso Carneiro destaca que, predominantemente, o café é produzido em pequenas propriedades. No Brasil, por exemplo, das 300 mil famílias que se dedicam à atividade, 78% são pequenos produtores.
Objetivos de desenvolvimento sustentável
Na perspectiva do embaixador, a prevalência de produtores de escala modesta realça a percepção do café como um produto dos países em desenvolvimento, nos quais o progresso em direcção aos objectivos de desenvolvimento sustentável é mais urgente.
“É o produto dos países em desenvolvimento que podem melhorar as condições de vida da população rural e das pequenas famílias produtoras, reduzindo assim a pobreza. Se ajudarmos as pequenas famílias de agricultores a produzir e a obter rendimentos desta produção, reduziremos a sua escassez de alimentos e aumentaremos a sua segurança alimentar. Em termos do objetivo de desenvolvimento sustentável número cinco. As mulheres constituem a maior parte da produção no campo. Então, se permitirmos que estas mulheres produzam, produzam mais, tenham acesso aos mercados e mostrem a importância do que produzem, tendemos a melhorar a desigualdade de género.”
Além da proposta do Dia Internacional do Café, a agenda do Comitê de Problemas de Produtos Essenciais também incluiu discussões sobre outros pontos.
A sessão discutiu a relação entre comércio e nutrição que está no cerne da edição de 2024 do principal relatório da FAO sobre a situação do mercado de produtos agrícolas essenciais.
Outros tópicos incluíram negociações com a Organização Mundial do Comércio e acordos comerciais regionais e o programa de trabalho para os mercados de produtos essenciais no âmbito do quadro estratégico 2022-2031 da FAO.
Fatores que mais afetam a segurança alimentar
Para Carla Barroso Carneiro, a dinâmica comercial está entre os factores que mais afectam a segurança alimentar. Ela afirmou que, ao cumprir parte da sua missão, o PCC procurou contribuir para abordar e mitigar estes efeitos.
“Embora hoje se produza o suficiente para alimentar toda a população mundial, a forma como o comércio é realizado tem um impacto imediato nos preços e tem um impacto imediato nos níveis de inflação. Os mais afectados pela inflação são sempre aqueles que se encontram em situação de menor segurança alimentar. Aí vem a importância de abordar esta questão no comitê da FAO. A FAO olha para os alimentos de uma forma diferente da Organização Mundial do Comércio, da mesma forma que a Organização Mundial da Saúde os verá de uma forma diferente. Cada um deles tem uma perspectiva, cada um deles complementar. Então, quando você olha para o comércio e para o setor alimentício, você destaca a necessidade de você permitir uma troca que seja previsível, que seja constante e que tenha níveis que também não sejam impactados artificialmente. Então, esse me parece ser o principal elemento que trazemos da reunião que aconteceu recentemente, aqui na FAO.”
O encontro também abordou temas como desenvolvimento, regulação, sustentabilidade nos mercados internacionais e comércio agrícola.
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