Rafaela Andrade sempre se interessou por questões relacionadas com os direitos humanos, mas com o recrudescimento da violência em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, a atenção desta jovem moçambicana voltou-se especificamente para as mulheres.
De Cascais, Portugal, onde participa no 10º Fórum Global da Aliança para as Civilizações, disse que centenas de mulheres vivem diariamente o terror ao serem violadas de formas inimagináveis, ou porque têm de abandonar as suas casas, fugir e tente outras oportunidades.”
A jovem moçambicana explica que as mulheres são afectadas de forma desproporcional, não só pelos conflitos, mas também por uma situação de pobreza generalizada no país.
“São os menos instruídos, têm menos acesso aos recursos, ao financiamento, são aqueles cujas vozes são muitas vezes silenciadas”. O activista acrescenta que a igualdade já existe na legislação moçambicana, mas não é aplicada na prática.
Mulheres jovens pela paz
Rafaela Andrade fez parte de um programa piloto de 2023 para mulheres jovens e construção da paz, promovido pela ONU Mulheres, em colaboração com a Aliança das Civilizações, o Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.
A jovem moçambicana diz que a participação no programa marcou uma viragem na forma como encara a paz e o seu papel na manutenção da segurança das mulheres e raparigas.
“Levantar a voz ainda é um grande desafio no país. Portanto, jovens como eu, que tiveram a oportunidade de ter essa abertura para o mundo, somos responsáveis por fazer ouvir essas vozes também em nível de país”, argumenta.
Mais de 600 milhões de pessoas afetadas pela guerra
Segundo a ONU, 612 milhões de mulheres e raparigas são hoje afectadas pela guerra, mais de metade do número de há uma década. No caso de Moçambique, o UNFPA revela que mais de 2.500 mulheres e raparigas necessitam de cuidados básicos em resposta à violência sexual.
No que diz respeito à mediação para a paz, a participação das mulheres na tomada de decisões e na política está estagnada nos países afectados por conflitos. Ao longo da última década, a percentagem de participação feminina nas negociações de paz manteve-se abaixo dos 10% em todos os processos e abaixo dos 20% nas iniciativas lideradas ou apoiadas pelas Nações Unidas.
Mulheres na mesa de debate
É um cenário que Rafaela Andrade quer mudar, através da criação de uma associação que possa servir de base a projectos de empoderamento de mulheres e meninas, defendendo a participação activa das mulheres no espaço público moçambicano.
“Eles precisam estar na mesa de debate, precisam ser ouvidos, precisam ser compreendidos quais são as suas reais necessidades, não faladas pelos outros, mas faladas por eles próprios”, explicou ao UN News.
Projetos intergeracionais
Por enquanto, a jovem ainda está dando os primeiros passos, entendendo a aplicação das leis e como elas podem ser melhoradas. Ela espera contar com a ajuda de mulheres mais jovens, mas não só. O objectivo é trazer ao diálogo diferentes gerações, incluindo mulheres e decisores políticos.
Segundo Rafaela Andrade, são eles que um dia tomarão a decisão sobre o que realmente deve ser feito no país.
*Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.
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