A ONU contabilizou 1.525 casos de morte e mutilação infantil nos últimos dois anos no Sudão. Um novo inquérito indica que 277 menores foram recrutados pelas forças em conflito e outros 153 sofreram violações e violência sexual.
De acordo com o oitavo Relatório do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre Crianças e Conflitos Armados os números reais podem ser maiores. A análise encontrou abusos ocorridos no período entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023.
Refugiados sudaneses esperam na fila para receber comida em Adre, perto da fronteira do Chade com o Sudão
Escalada da violência contra crianças
O relatório documenta um aumento dramático nas violações, com 2.168 casos graves versus 1.913 casos menores. Os incidentes agravaram-se em Abril do ano passado com o início dos confrontos entre as Forças Armadas Sudanesas, SAF, e as Forças de Apoio Rápido, RSF.
Durante o período analisado, a violência intercomunitária levou a uma escalada de abusos contra crianças. Ocorreram frequentemente conflitos entre criadores de gado e agricultores, especialmente nos estados de Darfur e Nilo Azul.
A ONU estima que existam cerca de 14 milhões de crianças que necessitam de ajuda humanitária e assistência de proteção. As áreas afectadas não têm acesso a alimentos, água, abrigo, electricidade, educação e cuidados médicos. Além disso, cerca de 19 milhões de crianças no Sudão não frequentavam a escola nessa altura.
O Sudão tem atualmente 11 milhões de pessoas deslocadas internamente
Quadro nacional para a libertação e reintegração
Para a Representante Especial do Secretário-Geral para as Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba, a situação no Sudão é catastrófica e as vidas das crianças estão em risco.
Antes da escalada dos ataques em 2023, registaram-se progressos notáveis na sequência da implementação do roteiro adoptado em 2021 que levou à criação de um quadro nacional para a libertação e reintegração de crianças. No ano passado, ao abrigo do Acordo de Paz de Juba, cerca de 122 crianças foram libertadas pelas partes em conflito.
A guerra no território sudanês é marcada por outros abusos, incluindo ataques a escolas, hospitais, raptos de crianças e negação de acesso humanitário. Além de destacar os progressos resultantes do diálogo envolvendo as partes em conflito, o relatório recomenda medidas para pôr fim aos confrontos, prevenir violações graves contra as crianças e reforçar a protecção das crianças no Sudão.
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