Por André Fontenelle – Em seus 16 anos de carreira, o tenista belga David Goffin nunca havia sofrido nada parecido. Quando ele se levantou da cadeira após o intervalo entre os jogos, um espectador cuspiu chiclete nele. Na quadra 14 de Roland Garros isso não é impossível, pois a torcida está muito próxima dos jogadores.
“Está virando futebol. Em breve teremos sinalizadores, hooligans e brigas nas arquibancadas”, reclamou. “Nos últimos dois anos, eles se tornaram cada vez mais desrespeitosos. Aqui isso faz parte do show”, disse, após derrotar um jogador da casa, o gigante Giovanni Mpetshi Perricard, de 2,03 m, por 3 sets a 2 (4/6, 6/4, 6/3, 6/7 e 3/6), nesta terça-feira (28/5), avançando para a segunda rodada do Aberto da França.
O público francês é conhecido pelo entusiasmo em apoiar os tenistas locais, mas o comportamento tem suscitado críticas. Coincidência ou não, após o incidente no jogo do Goffin, realizado na noite de terça-feira (28/5), os juízes presidentes ficaram mais rígidos com o público, pedindo silêncio em todos os momentos durante os pontos.
Foi o caso de um ponto decisivo na emocionante partida entre a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek, e a japonesa Naomi Osaka, que já ocupava a posição de líder do ranking. “Por favor, pedimos aos espectadores que não gritem ‘bola fora’ durante os pontos”, alertou o árbitro durante o terceiro set.
Relatório da polonesa Iga Swiatek
Após vencer a partida de 2h57 em três sets (7/6, 1/6 e 7/5), em que conseguiu salvar um match point, Swiatek criticou o comportamento do público na entrevista pós-jogo. “Tenho respeito por você, ganho dinheiro graças a você. Mas às vezes, sob muita pressão, quando você está gritando durante o ponto, é muito difícil manter o foco”, disse ele. Parte do público aplaudiu a polonesa, outra parte vaiou.
“Espero que continuem a gostar de mim, porque sei que os adeptos franceses às vezes não gostam de alguns jogadores”, continuou. “Geralmente não levanto essa questão, porque quero ser o tipo de jogador focado. Mas isso é sério para nós. Lutamos a vida toda para estar aqui e às vezes é difícil aceitar isso. Há muito dinheiro em jogo aqui. Torça por nós entre os pontos, mas não durante”, finalizou.
Tricampeã do torneio (2020, 2022 e 2023), a polonesa é a grande favorita ao título – foi campeã em Madri e Roma, os dois mais recentes torneios importantes no saibro, mesmo piso de Roland Garros.
Ela se deparou com um ex-número 1 do mundo que está tentando voltar ao topo. Osaka teve dois hiatos na carreira, em 2021, por conta da depressão, e no ano passado, para dar à luz. Os japoneses pareciam prontos para surpreender o campeão, mas cometeram erros não forçados nos pontos decisivos e deram a virada no terceiro set.
O jogo poderia ser chamado de “clássico do notebook”, pois Swiatek e Osaka levam notebooks para as partidas onde fazem anotações. Ambos mantêm em segredo o que escrevem. A japonesa revelou apenas que anota aspectos do jogo em que precisa melhorar, como método de autoajuda.
Incidentes embaraçosos
Além dos problemas com o público, há incidentes constrangedores. Durante a partida contra o francês Corentin Moutet, o chileno Nicolás Jarry foi derrubado por um pegador de bola no meio da corrida.
No sorteio feminino, a russa Julia Avdeeva levou uma cabeçada na testa quando ela e o árbitro se abaixaram para verificar se uma bola havia quicado dentro ou fora da quadra. Doeu, exigiu aplicação de gelo e ela levou outro golpe: 2 sets a 0 (6/1 e 6/1) da número 3 do mundo, a norte-americana Coco Gauff.
A quarta-feira (29) teve poucas partidas em Paris, por conta da chuva que caiu o dia todo. Apenas os dois tribunais principais estão abrangidos e conseguiram manter a programação normal.
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