Rebeca Andrade: A prata que vale ouro

Rebeca Andrade: A prata que vale ouro



A cada nota projetada na tela, Rebeca Andrade obrigava seus olhos míopes a enxergar. Ela tem dificuldade em se concentrar naquele monte de casas decimais. Mas, quando percebeu o que havia conseguido, um teste após o outro, ela ficou emocionada e voltou ao estado de concentração. E assim veio a prata no individual geral, feito que se iguala ao de Tóquio, em 2021, onde também levou o ouro no salto.

Do lado oposto do palco, quem atraía, e como, as câmeras globais era a sensacional ginasta Simone Biles (“Bailíss”, na pronúncia do apresentador francês) que, dois dias antes, havia liderado a seleção dos Estados Unidos rumo ao ouro . Foi a sexta medalha de ouro do americano.

Recebida com aplausos efusivos vindos não só dos torcedores que seguravam a bandeira do Brasil, mas de todas as cores, Rebeca sempre soube o quanto seria difícil derrotar a rival (palavra que ela não gosta), cujos giros e piruetas na arena de Bercy , em Paris, na quinta-feira, 1º, ele não acompanhou muito, desviando o olhar.

Foi um belo duelo, com um e outro oscilando por cima. Sim, a Simone, a grandona, também errou, nas barras assimétricas e no salto. O suspense pairou pesado no ar até o final, decidido na última parada: o chão, onde a americana costuma reinar suprema. Primeiro veio o brasileiro. “Re-be-ca, Re-be-ca!” ela ouviu, se apresentou e esperou por Simone, cuja apresentação foi impecável. E veio como esperado: a prata, muito comemorada por Rebeca, que se cobriu com a bandeira do Brasil, sorrindo.

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Chegar à prata contra Simone Biles é o culminar de anos de sacrifício – Rebeca fez três cirurgias no ligamento cruzado anterior do joelho da perna direita –, mas também do sorriso para seguir a vida e tirar o nervosismo que pode levar a quedas do esporte. Em Paris, como uma menina de sua época, debruçada sobre o celular (e era comum vê-la esticada, mas com os olhos na tela), a vice-campeã olímpica esta noite riu com postagens e piadas nas redes sociais . Ao chegar à Vila Atleta de Saint-Denis, pediu uma fotografia sua voando diante dos anéis olímpicos e na publicação pintou cinco coraçõezinhos de cores diferentes. Ao lado da medalhista de bronze de sua equipe, Lorrane Oliveira, ela postou uma dancinha com a malha de competição antes da competição e o aviso premonitório: “Vídeozinho antes de sermos medalhistas olímpicos. Em breve você terá a medalha.” Ela riu de uma foto tirada pela colega Júlia Soares onde é possível ver a capa do smartphone contendo dinheiro e um cartão de banco. “Gente, meu celular virou o mais famoso do mundo.”

O celular e ela também, muito comemorados – embora as medalhas de Tóquio, o ouro no salto e a prata no individual geral, já tenham anunciado um atleta de ponta dos telhados. Mas Paris, e porque sempre teremos Paris, foi outra coisa, até porque ajudou a instalar o Brasil, com terceiro lugar no quinteto, dentro de um clube muito seleto. Ginástica artística? Sempre foi a modalidade dos americanos, japoneses e países do Leste Europeu que, até a década de 1990, orbitavam em torno da União Soviética. Apenas comparando, o desempenho brasileiro é como supor que a Bolívia, um país sem litoral, de repente começou a se destacar no surf. Ou que o Brasil invadiu o campo do tênis de mesa da China (mas, opa, isso aconteceu, com as lindas Olimpíadas de Hugo Calderano, e que o primeiro engraçado a dizer “ping pong” caiu na engrenagem feroz de destruir reputações na internet As estatísticas: até o início dos Jogos de Paris, ficou evidente na lista de medalhas olímpicas, entre as mulheres, o país com mais premiações foi a extinta União Soviética, seguida pela Romênia, Rússia, Estados Unidos e China. Nada que previsse, além de uma imensa esperança, o sucesso do verão parisiense no ambiente all inclusive da Arena de Bercy.

A interpretação dos juízes

Há um detalhe interessante, que escapou aos comentários dos especialistas, e que ajudou os brasileiros – como a ginástica é uma modalidade de avaliação subjetiva, apesar de determinações muito claras para os árbitros, uma visão mais generosa é sempre boa. Não que as mulheres brasileiras tenham sido privilegiadas – longe disso, muito longe. Mas o respeito que conquistaram nos últimos anos mudou a atitude de quem os avalia. Aqui está mais uma conquista de um trabalho muito bem executado, ancorado no bem equipado Centro de Treinamento da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “As meninas não são máquinas, implantamos uma gestão humanizada nos últimos anos”, afirma Juliana Fajardo, gestora esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro, que atua em conjunto com a Confederação Brasileira de Ginástica. O destaque de Daiane dos Santos, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 – e quem não se lembra do duplo carpado double twist, que mais tarde se chamaria Daiane 1 – serviu de impulso e inspiração para a trupe parisiense. “É assustador ver os companheiros torcendo quando um deles está no palco”, diz Daiane.

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E então, a estrela do grupo, Rebeca Andrade – embora a líder seja a veterana Jade Barbosa – bate à porta de um panteão restrito. Há nomes como a russa Olga Korbut, 4 ouros e uma prata nas Olimpíadas de Munique, em 1972, e Nadia Comaneci, a romena de Montreal em 1976, que deixou até o placar eletrônico perdido com a delicadeza de sua nota 10. E, claro, claro, é principalmente o lugar de Simone Biles, no duelo mais esperado deste verão. Não por acaso, e para tentar distanciar o “governante” Biles, os principais profissionais da delegação brasileira visaram uma estratégia, que hoje sabemos, parcialmente bem sucedida. “O trabalho mental foi para que Rebeca não focasse em Simone Biles”, diz Aline Wolff, psicóloga do COB. Funcionou, pelo menos até o momento em que começaram a girar pelos aparelhos em Bercy, procurando um pelo outro.

O medo de Rebeca

Biles venceu, mas teve alguns receios. Em documentário para a Netflix, o americano admitiu ter “medo” do brasileiro. A prata desta quinta, apesar de ter sido um pouco frustrante, é colossal. Em Guarulhos, onde começou a treinar no Ginásio Bonifácio Cardoso, surgiu a alegria dos grandes momentos e uma janela de luz: Rebeca Andrade influencia uma pequena legião de meninas que sonham em ser como ela. “É lindo imaginar que aqui nasceu a melhor ginasta do mundo”, diz Mônica Barroso dos Anjos, sua primeira treinadora. Ela sai de baixo, porque vem uma dancinha nas redes sociais. Poderia ser dourado, mas tudo bem. Rebeca fez história, mais uma vez. Em Tóquio, ela ficou com a prata, atrás da americana Sunisa Lee, mas sem Simone Biles na corrida, afastada. O segundo lugar agora vale seu peso em ouro – porque Biles é de outro mundo.

Com o resultado, Rebeca é a primeira mulher do Brasil com quatro medalhas olímpicas. A chance de ultrapassar ou igualar os velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, que têm cinco medalhas, é grande: o paulista segue disputando as finais de salto, solo e trave.



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