Rebeca Andrade: a menina de ouro

Rebeca Andrade: a menina de ouro



Prova após prova, até agora Simone era dona absoluta do ouro, três delas. E o destino inexorável de Rebeca Andrade nesta Olimpíada parecia ser o vice-campeonato, sempre com a prata, contra uma americana precisa, inabalável, marcando notas altas com aquela desenvoltura de quem está muito acima da curva. Mas nesta segunda-feira, dia 5, que já entrou para a história olímpica brasileira por seu caráter inédito e superação, foi o dia de Rebeca, a menina que voou de Guarulhos para pisar firme no cenário mundial e levar o ouro no solo em Bercy.

O agora detentor da medalha de ouro, que é míope e mal consegue ver o placar, movimentava-se, inquieto e sorridente, como se não acreditasse na merecida reviravolta na lógica de todos os confrontos recentes realizados naquela arena. Simone contou seus ouros e Rebeca, duas pratas e um bronze. E tudo indicava que a vida seguiria seu curso. Ela não o seguiu.

Foi uma atuação precisa e graciosa no chão, marca registrada de Rebeca, que a levou para o canto superior direito desde o início. Porém (baque-baque, essa é a trilha sonora da arena) faltava Simone, uma das últimas a entrar em cena. E ela veio com tudo, na força máxima, mas, opa, ela saiu do palco uma, duas vezes. Um acertou, o outro errou e desta vez o ouro foi para Rebeca. “Fiz meu trabalho e fiquei leve, feliz, sem medo”, disse ela. “A questão nunca foi vencer Simone, mas vencer a mim mesmo.”

No esporte, as casas decimais que outros mortais tendem a arredondar para facilitar a contagem marcam trajetórias. Hoje, a diferença era de 0,34 décimos entre as duas ginastas que sempre chamaram a atenção em Bercy. A cena de Rebeca no topo e Simone no nível inferior chocou os olhos pelo seu inesperado. Tocado o hino do Brasil, tanto Simone quanto seu companheiro, Jordan Chiles, que ficou com o bronze, fizeram uma linda reverência ao vencedor da tarde, uma daquelas imagens para ficar. “Uma honra”, agradeceu Rebeca.

ME IRRITOU?

Mais tarde, perguntaram a Simone se ela estava triste, chateada. “Eu, chateado? Assim? Ganhei quatro medalhas.” E expandiu sobre Rebeca: “Ela é incrível, sempre me faz ir mais alto, tentar ser ainda melhor”, disse ele rapidamente, com os olhos marejados. “Vamos ver o que ela ainda tem reservado para nós, e vai ser muito. Ele já é uma lenda.”

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Muito impulsionada pelo fenômeno Biles, a ginástica encheu as arquibancadas todos esses dias com um tipo de público que cobre o corpo com uma bandeira e solta gritos vigorosos a cada salto ou giro. As que mais foram ouvidas foram “Simone, Simone!”, vindo de uma arquibancada cheia de celebridades que estavam ali para vê-la, como Steven Spielberg, Spike Lee, Nicole Kidman, uma longa lista. Mas Rebeca também subiu em Paris. Anunciaram o nome dela, e ele ecoou na arena, com os mais variados sotaques – “RRRRRebeca”, com muitos r’s, é o jeito francês.

Muitas vezes parecia que eram só elas, Simone e Rebeca, que competiam, embora houvesse outros talentos no palco. Na prova da trave, que aconteceu pouco antes, os dois foram aplaudidos – mesmo tendo saído sem medalhas neste, que não é seu aparelho preferido. Do começo ao fim, esta Olimpíada foi embalada pela “extraterrestre” Simone, como a brasileira se refere a ela, e pela “excepcional” Rebeca, como disse outro dia a americana.

“EU TORNEI UM GIGANTE”

Nas declarações pós-medalha, Rebeca, de 25 anos, parecia lúcida. No dia do salto, ela chegou a pensar em fazer uma pirueta tripla que viria com nome e tudo – “Andrade”. Mas no xadrez, onde cada escolha é cuidadosamente calculada, ela sentiu que não valia a pena correr o risco. O prêmio pode ser alto, mas a queda é profunda. Ela queria garantir a medalha e conseguiu. “Senti que ainda não era a hora, mas um dia darei esse salto. É muito legal”, disse ela em seu estilo sem frescuras e pompas, direto e simples.

Outro dia, ao refletir sobre sua evolução no palco, sentiu-se, sem nariz levantado, naturalmente, com uma confiança que surgiu em Paris. “Ayrton Senna inspirou muita gente. Percebo que isso está começando a acontecer comigo. Estou ficando gigantesca”, disse a garota de 1,55 metro.

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O ouro de hoje se soma às duas pratas que já conquistou em Paris, além de um bronze, firmando seus pés na história: ela se tornou a única brasileira a acumular quatro pódios seguidos. Com os de Tóquio, são seis no total, outro recorde. Não há dúvida de que esta Olimpíada colocou Rebeca no epicentro da ginástica e a consagrou como uma atleta de porte internacional, que seus colegas já conhecem e respeitam muito bem.

Rebeca, e também Simone, deixaram dúvidas sobre as próximas piruetas que farão na vida. Simone, que havia sinalizado que bastava, já vem dizendo que quem sabe-talvez participe dos próximos Jogos, em Los Angeles. Rebeca diz que quer ser mais seletiva (“o solo é cansativo, prefiro não fazer mais”), mas tudo vai depender. Esperamos que haja mais duelos como este.

No final da festa, uma garotinha fantasiada de Estátua da Liberdade, que comprava um copo de refrigerante com a mãe pelo equivalente a estratosféricos 40 reais, ainda na área da arena, resumiu bem o clima de Bercy: “Eu sou Simone Biles, dos EUA, mas adoro Rebeca. Ela voa muito! E ela voa para longe.



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