Quem é Renato Valentim? Empresário fundou Boston City ao lado de ídolo do Cruzeiro

Quem é Renato Valentim? Empresário fundou Boston City ao lado de ídolo do Cruzeiro


Quase 2 milhões de brasileiros residem nos Estados Unidos, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do governo federal. O sonho de alcançar a independência financeira na principal potência económica mundial é o que motiva a maioria das pessoas a abandonar os seus países. Em muitas ocasiões, os imigrantes aceitam empregos que os nativos recusam e poupam os dólares que recebem para, pouco a pouco, aumentar o seu nível de vida. Foi o que aconteceu com o empresário mineiro Renato Valentim, 54 anos, dono do Boston City Futebol Clube.

Renato chegou a Boston, capital do estado de Massachusetts, em 1998. O mineiro de Manhuaçu, na Zona da Mata, não sabia falar inglês quando chegou aos EUA. Ele começou a trabalhar lavando pratos em um restaurante. Aos poucos, ele foi subindo na hierarquia do estabelecimento e combinou suas funções com aulas de culinária para aprender o idioma local. Até que em 2004, já consolidado financeiramente, decidiu abrir o seu próprio negócio, o Tavern In The Square, em parceria com dois amigos.

A “taverna” prosperou. Hoje, são 23 unidades espalhadas pelos estados de Massachusetts, Connecticut e Rhode Island, onde vivem milhares de brasileiros. O sucesso no restaurante transformou a vida de Valentim, casado com Erika e pai de dois filhos, Benjamin e Noah. Com os lucros, ampliou os investimentos para os setores de construção e educação. Finalmente, em 2014, decidiu vivenciar os desafios do mundo do futebol.

“Serão 27 anos que estou aqui nos Estados Unidos. Cheguei novo. Tenho 54 anos. Comecei aqui trabalhando como muitos imigrantes que chegam aqui, num trabalho que os americanos, talvez, não gostariam de fazer: lavar louça. Estudei inglês inicialmente, cozinhei por dois anos, estudei administração e cresci dentro do restaurante onde trabalhava. Trabalhei seis anos em restaurante”, relatou o empresário, em entrevista ao No ataque.

“Em 2004, me senti preparado e financeiramente bem para abrir um negócio aqui. Foi quando abri o primeiro restaurante. Hoje, tenho 23 restaurantes nos EUA com parceiro irlandês e quase 4 mil funcionários na rede. Invisto em construção, investimento imobiliário e escolas infantis. Tudo em Boston. No Brasil, tenho uma construtora. Também tenho um centro esportivo em Alphaville, São Paulo, que já está alinhado com o que fazemos. Uma escola de futebol da cidade de Boston”, acrescentou Valentim.

“Cresci assistindo (futebol), minha infância e juventude foram todas no Brasil (em Manhuaçu). Então, foi um dos motivos pelos quais comecei a investir no futebol. E também, na época, não havia clube aqui em Boston. Há o Revolution (Nova Inglaterra), que é da MLS, mas está aqui a uma hora e meia de Boston, fora da grande Boston. Acompanho principalmente o futebol brasileiro e apoio, claro, primeiro os clubes mineiros, depois os brasileiros e, por fim, os sul-americanos”.

Renato Valentim

O surgimento da cidade de Boston

O futebol está longe de ser o esporte mais popular nos Estados Unidos. Embora os americanos tenham gostado mais do esporte, eles ainda preferem futebol americano, basquete, beisebol e hóquei no gelo. Com os brasileiros a história é diferente. A paixão de Valentim pelo futebol motivou a criação do Boston City FC no final de 2014.

Até 2018, ele teve um parceiro muito importante nesse empreendimento. Trata-se do ex-jogador Jorge Ferreira da Silva, conhecido como Palhinha, criado pelo América, titular do São Paulo comandado por Telê Santana no início dos anos 1990 e camisa 10 do Cruzeiro na conquista da Copa do Brasil de 1996 e da Copa Libertadores. 1997 (marcou 36 gols em 103 jogos em 1 ano e 7 meses).

“Sempre joguei com ele porque o ‘Palha’ é meu ídolo. Um cara espetacular, adoro Palhinha. Amigo pessoal e, para mim, na época, foi interessante porque vi a oportunidade de negócio aliada à paixão pelo futebol, e o Palha chegou aqui então. Quando tive o projeto no papel, conheci o Palhinha, que veio passear aqui em Boston. Ele estava trabalhando no Corinthians EUA, na Califórnia, e eu apresentei o projeto. Ele disse: ‘Cara, estou com você. Vamos tirar isso do papel e iniciar o projeto. Foi muito interessante quando trabalhei com ele.”

Renato Valentim

Palhinha e Renato Valentim - (foto: Arquivo pessoal)
Palhinha e Renato Valentim(foto: arquivo pessoal)

Palhinha e Valentim trabalharam juntos durante quatro anos. Até que o ex-jogador deixou os Estados Unidos e foi para Portugal, onde presidiu o União Almeirim, que na época disputava a quinta divisão nacional. Enquanto isso, a cidade de Boston se preparava para expandir sua área de atuação. Renato recebeu propostas de empresários de outros continentes, mas preferiu focar na estruturação da “filial” brasileira, que disputa a terceira divisão do Campeonato Mineiro.

“Quando o projeto estava no papel, tínhamos um projeto de ir para três continentes. Na época, todos investiam no futebol chinês. E havia um plano de ir para a América do Sul. Íamos estruturar o clube aqui, construir o centro de treinamento, o estádio nos EUA. Mas, devido à dificuldade, a Revolução quer construir em Boston e não consegue encontrar terreno. Estamos trabalhando para construir um centro de treinamento aqui, mas demorou muito para acontecer. Com isso, vamos inverter essa ordem. Primeiro, vamos construir uma estrutura no Brasil. Enquanto isso, trabalhamos localmente aqui para voltar e fazer o mesmo aqui em Boston.”

O dirigente explicou a escolha de Manhuaçu para sediar o complexo esportivo com centro de treinamento e arena multiuso com 12 mil lugares. “Conversamos com diversas cidades de São Paulo, fomos a Itabirito e cidades da região de Belo Horizonte. Estávamos conversando com os prefeitos da cidade. No final, escolhi a cidade de Manhuaçu por ser minha cidade natal, bem como por ter grandes investimentos no setor imobiliário. Então, eu queria oferecer esta oportunidade às pessoas da região.”

Atenção voltada para o Brasil

A partir de 2025, segundo o diretor, o Boston City terá uma equipe para brigar pelo acesso ao Módulo II. A meta é estar na Série A ou B do Campeonato Brasileiro em 10 anos. Nos Estados Unidos, o clube seguirá na USL League Two, quarto nível do futebol do país e com caráter semiprofissional.

“Hoje estamos focados no Brasil. Queremos finalizar a obra, focamos muito nessa área de estrutura física, construímos o centro de treinamento e tem mais dois campos de CT para serem construídos, além do estádio. Com uma base forte no Brasil, é hora de voltar e fazer o mesmo aqui. Então, hoje, o foco é investir no futebol no Brasil. Nos EUA disputamos o campeonato americano, mas sem grandes investimentos para desenvolver o futebol no Brasil”, finalizou Renato Valentim.

Imagens do projeto Boston City Arena



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