Quem disse que era apenas futebol?

Quem disse que era apenas futebol?


Não é como contar o final do filme, numa postura desmancha-prazeres, nada spoilerentão aqui vai: basta rir e chorar de emoção durante os 2 minutos Pele no final do documentário PLACAR – Revista Militante, que será exibido em janeiro na TV Cultura e já começa a ser procurado pelos canais de streaming. O ano é 2019. O rei, convidado a gravar em vídeo uma frase sobre o cinquentenário da publicação esportiva mais antiga do Brasil – “PLACAR, 50 anos de paixão pelo futebol” – se confunde e erra as palavras. “Cinquenta anos de amor”, diz ele, e depois olha para a câmera e completa: “Coloquei esse amor aí, obrigado?” Você tenta uma, duas, três vezes, até que o slogan saia certo – e então os créditos rolam.

É o casamento ideal, do maior de todos, o mito que morreria em dezembro de 2022, com o periódico que reinventou o jornalismo esportivo e fez do futebol um planeta de amores e desgostos, de elogios aos gols e defesas, da glória dos títulos, mas de vigília permanente com o que sempre andou nas trevas das tocas – daí o “militante” no título. O filme é dirigido por Ricardo Corrêa, um dos mais consagrados repórteres fotográficos da PLACAR, que iniciou sua carreira como garoto de escritóriopara usar a expressão em voga até muito recentemente. A direção é de Sérgio Xavier Filho, ex-diretor editorial no início dos anos 2000. A direção de conteúdo é de Alfredo Ogawa, outro nome importante na trajetória jornalística de um canto da imprensa sem medo de cutucar as onças com um bastão curto. A direção e assistência fotográfica ficam por conta de Alexandre Battibugli, ainda hoje presente. A reunião de colegas de trabalho e amigos sugeriria um tom de colarinho branco, mas não. O Revista Militanteuma celebração de uma época de ouro do jornalismo, com doses de romantismo intenso, consegue rir de si mesmo, dos exageros datados da época de pouca diversidade, da postura destemida de quem via a planície da torre de marfim.

O roteiro tem o formato clássico de imagens de arquivo (recortes de páginas, capas, fotografias de um acervo inigualável), costuradas com uma série de entrevistas destinadas a unir a narrativa. Um alerta: como editor-chefe da PLACAR entre 2020 e 2002, durante a pandemia, sou um dos entrevistados – e conhecendo os bastidores da revista, desde criança, quando a colecionava, até tive o privilégio de tocá-lo na companhia de jornalistas extraordinários, todos amantes do SCOREBOARD, posso garantir: isso não é um elogio bobo, basta ver como foi feito e como é feito aqui. Não.

É uma pequena aula de história do Brasil, um belo passeio pelo período da democratização, um mergulho nas malandragens que mancharam o esporte em tempos de ópio para o povo. A PLACAR, lançada dois meses antes da Copa do Mundo de 1970, no México, no auge da ditadura, nasceu amarrada ao seu tempo. Agora publicado pela Editora Score e não mais pela Editora Abrilonde saiu em 2022, a revista só sabe manter relevância se souber conversar com o cotidiano – das estrelas, sem dúvida, mas também das mudanças que estão passando pelo esporte, com o surgimento do SAF, as Sociedades Limitadas de Futebol, e a proliferação de casas de apostas, apostas que causam tanto barulho. O mérito do documentário é iluminar as primeiras pedras do caminho. Ou seja: como a PLACAR se tornou uma marca tão relevante?

Diretas Já e a Democracia Corinthiana

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A resposta: a coerência permanente, e os depoimentos de seu mais simbólico diretor editorial, Juca Kfouri, comprovam essa postura. Você poderá assistir ao longa-metragem (1 hora e 40 minutos de duração) como se estivesse caminhando pelas transformações do país. No início, resistência ao quartel, com destaque para reportagens com João Saldanha, técnico do Botafogo e da Seleção que nunca escondeu que era comunista de carteirinha. Destaca-se a campanha do “passe livre”, liderada pelo médio Afonsinho, barbudo de uma época em que usar barba era como um sinal de marcha. Depois, no início dos anos 1980, a bandeira foi desfraldada em favor das Diretas Já e da Democracia Corinthiana, o movimento liderado por Sócrates e Casagrande – Casagrande, aliás, que cruza os planos do documentário com um ponto de vista interessante e inédito. , a do jogador que se viu e aos colegas nas páginas impressas, sabendo, sim, que havia participado de um movimento político e cultural.

Há espaço para gênios da bola, como Pelé, claro, e Zico. Há terreno nos bastidores de um dos mais comentados relatórios de investigação e denúncia, o da máfia das loterias esportivas, de 1985. Há uma janela para um mea culpa sincero sobre a postura sexista e misógina – embora coerente com a década de 1990 – com que tratou as mulheres no mundo do futebol. Contudo, Placar – Revista Militante é filme necessário. É o jornalismo e a história opostos à velocidade efêmera das redes sociais de hoje. A produção, com edição precisa, como “a elegância sutil do Bobo”, para usar um trecho da conhecida canção de Caetano, faz pensar. Nas palavras do jornalista Carlos Maranhão, em um dos textos publicados na edição especial da PLACAR em comemoração aos 50 anos, em 2020, ao descrever o ambiente da redação nos primeiros tempos: “Ah, sim. A área, o caos, a cantoria e o futebol com bolas de páginas – que desapareceu junto com as máquinas de escrever e o telex – desapareceram lentamente, sem que a PLACAR perdesse o que era fundamental: a alma apaixonada que a trouxe até aqui”.

A gravação do depoimento de Juca Kfouri: a revista esportiva como instrumento de posicionamento político (//Divulgação)
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Veja o trailer:



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