Léo Batista não se chamava ‘Léo Batista’; entenda

Léo Batista não se chamava ‘Léo Batista’; entenda


Léo Batista não se chamava ‘Léo Batista’; entenda (Léo Batista, a ‘Voz Notável’ do jornalismo esportivo brasileiro)

MÁRVIO DOS ANJOS – Léo Batista já foi chamado de João Baptista Bellinaso Neto. Filho de um casal de imigrantes italianos formado pelo pedreiro Antonio e pela dona de casa Maria, entendeu desde cedo que precisava trabalhar para ajudar uma casa sem luxo em Cordeirópolis, perto de Limeira, no interior de São Paulo. Quando Dona Maria ganhou do marido uma pequena barra para complementar a renda da família, cabia a ele e à irmã Leonilda entregar, de casa em casa, o pão que chegava de trem nas manhãs frias, antes da escola.

“Certa vez perguntei à minha irmã, pouco antes de ela morrer: ‘Nilda, naquelas manhãs frias de quatro graus que atravessávamos descalços, você às cinco, eu às sete, levando pão para as pessoas, você se lembra de alguém? nos ofereceu café quente? Nunca” – disse Léo, guardando um rancor que, aos 92 anos, ainda soava fresco. “Eu não tive infância. Não sei como é jogar.”

Enquanto os meninos de rua jogavam futebol, João Baptista, de 11 a 13 anos, ajudava o pai como pedreiro. A adolescência se mostraria muito mais auspiciosa, mesmo depois que o jovem abandonou o seminário em Campinas para ajudar na pensão da família, aos 15 anos, como garçom.

Nessa idade, iniciaria também uma das mais longas carreiras do jornalismo esportivo brasileiro, que durou 76 anos, dividindo-se entre o rádio e a TV, onde sua “voz marcante” – epíteto dado pelo colega e narrador Luís Roberto de Múcio – seria se concretize. tornar-se íntimo de gerações e gerações de fãs e espectadores.

Como surgiu o pseudônimo ‘Léo Batista’?

Tudo começou em 1947, quando, por recomendação de um primo, o jovem de queixo pontudo tentou a sorte no concurso de locutor de uma emissora de rádio que se espalhava por 12 alto-falantes de Cordeirópolis. Depois de aprovado, apresentou-se como Bellinaso Neto, nome com o qual foi contratado seis meses depois pela Rádio Birigui, já com o sonho de um dia narrar um jogo de futebol. Em 1950, assistiu a uma final de Copa do Mundo, no Maracanã, representando a Rádio Difusora de Piracicaba, mas não conseguiu narrar o gol de Ghiggia, que enterrou o sonho do primeiro título do Brasil.

“Eles erraram na distribuição dos fios telefônicos de transmissão e eu não consegui narrar o jogo porque não consegui encontrar minha linha”, disse ele, em 2019. “Aí o jogo acabou e eu chorei”.

Dois anos depois, Bellinaso Neto se viu um dia criticado pelos jogadores do XV de Piracicaba, seu time preferido, após um jogo em que o time, em suas palavras, “venceu, mas não convenceu”. Para sua surpresa, o dono da rádio se aproximou e provou que os jogadores estavam certos. O apoio veio do veterano atacante carioca Santo Cristo, que o convidou para ir ao Rio tentar a carreira na cidade.

Bateu nas portas da Rádio Mayrink Veiga e do Rádio Clube do Brasil e acabou contratado pela Rádio Globo, que incluía Luiz Mendes, os irmãos Wolner Doalcei Camargo e Raul Brunini de São Paulo, que já tinham ouvido um jogo narrado pelo menino do Cordeirópolis. Foi a vez do Café Nice, na Avenida Rio Branco, frequentado por nomes como Noel Rosa, Lamartine Babo e Ataulfo ​​Alves.

Porém, Mendes se confundiu ao tentar pronunciar “Bellinaso” e, por isso, ordenou que o jovem mudasse de nome com urgência. Pensou rápido: pegou emprestado o “Léo” de Leonilda –que odiava esse nome- e simplificou o Baptista que já carregava.

“O engraçado é que, em casa, eu também virei Léo. Nunca mais me chamaram de João.”

Léo Batista se imortalizou no jornalismo

Foi com o nome Léo Batista que o locutor se tornou marca no jornalismo esportivo e também protagonizou momentos importantes: foi o primeiro jornalista a anunciar o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. No ano seguinte, teve seu primeiro experiência na televisão, apresentando diariamente o jornal Pirelli e narrando futebol na TV Rio, onde permaneceu até 1968, quando foi sucedido por Cid Moreira. No meio do caminho, adotou o Botafogo como time preferido.

Seus primeiros passos na TV Globo foram dados em 1970, como narrador substituto na Copa do México. Num dia em que Cid Moreira pediu dispensa da edição do Jornal Nacional, Léo ficou satisfeito e acabou contratado. Depois, participou da estreia do Jornal Hoje, em 1971, e do primeiro programa esportivo diário da Globo, a Copa Brasil. Em agosto de 1978, assumiu a apresentação do Globo Esporte, do qual se tornou praticamente sinônimo, integrando o quadro até 2014. Aos domingos, foi voz do Gols do Fantástico até 2007, quando cedeu o cargo a Tadeu Schmidt.

“O doutor Roberto Marinho foi um grande chefe, um grande chefe. É uma pena, porque eu já deveria ter mandado rezar uma missa por ele”, disse este católico angustiado ao repórter em novembro passado.

Os últimos anos de Léo foram difíceis

O locutor sofreu duros golpes nos últimos três anos. Em janeiro de 2022, o apresentador estava em casa, no bairro de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) quando sentiu falta da esposa, Leyla. Encontrou-a boiando na piscina, após um infarto aos 84 anos. Foi o fim trágico de um casamento que começou de forma cômica: os noivos tiveram que esperar a chegada ofegante de Dom Helder Câmara, que chegou bastante atrasado para a cerimónia na igreja de Santa Margarida Maria, em Lagoa.

No ano passado, Léo também perdeu o amigo Cid Moreira, com quem se cruzava profissionalmente desde 1968, e a perplexidade no velório gerou uma das imagens mais agridoces de 2024. Léo ainda frequentava esparsamente a redação esportiva da Globo até o ano passado, sem sempre se considerando um aposentado. Tive um certo medo de perder o emprego, como se estivesse ignorando o símbolo que ele era para a emissora – em 2024, foi tema de uma série de quatro episódios no Globoplay, dirigida por Kizzy Magalhães.

Léo Batista morreu aos 92 anos, após dar entrada no hospital Rios d’Or, na Freguesia, zona oeste do Rio de Janeiro, com complicações causadas por um tumor no pâncreas. Ele deixa uma filha.

A notícia Léo Batista não se chamava ‘Léo Batista’; entender foi publicado pela primeira vez em No Attack por No Attack



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