Gigante do futebol da China vive colapso financeiro e é expulso da liga local

O Guangzhou FC, que já foi o principal clube de futebol profissional da China e um símbolo das aspirações esportivas do país, foi excluído da liga nacional após uma longa saga relacionada ao colapso da incorporadora China Evergrande, que comprou o time em 2010.

O clube – que conquistou oito campeonatos nacionais de 2011 a 2019, foi duas vezes campeão da Liga dos Campeões asiáticos e atraiu nomes como os brasileiros Robinho e Ricardo Goulart, além do técnico italiano Marcello Lippi e, mais recentemente, Fabio Cannavaro – não conseguiu. atender aos requisitos financeiros da liga.

Num comunicado que nomeou Guangzhou e dois outros clubes inelegíveis (Cangzhou Mighty Lions e Hunan Billows), a Associação Chinesa de Futebol citou atrasos salariais e questões relacionadas com dívidas.

A inelegibilidade de Guangzhou é o mais recente golpe para o futebol chinês, que o presidente Xi Jinping procurou desenvolver quando chegou ao poder em 2012. Nos últimos anos, o desporto tem enfrentado escândalos de corrupção e problemas financeiros nas empresas que apoiam as equipas.

O Guangzhou FC, anteriormente chamado de Guangzhou Evergrande, culpou nesta segunda-feira (01/06) sua “carga histórica da dívida” e “fundos insuficientes” para lidar com os problemas. “A todos os que se preocuparam e apoiaram o clube, expressamos as nossas sinceras desculpas”, disse a equipa num comunicado.

Após a sua compra pela incorporadora Evergrande em 2010, o clube embarcou em uma onda de gastos que incluiu uma série de contratações de grandes nomes, ecoando os anos de expansão do vasto e altamente endividado setor imobiliário da China. Várias outras grandes construtoras também tiveram equipes com seus nomes.

Mas o fracasso de seu proprietário majoritário no final de 2021 atrapalhou os planos do clube para um novo estádio de 12 bilhões de renminbi (US$ 1,6 bilhão) em Guangzhou, no sul da China, considerado um dos maiores do mundo, e relegou o clube para a Segunda Divisão de a liga chinesa.

No início de 2021, o clube retirou Evergrande de seu nome sob uma nova regra que proíbe o uso de nomes de empresas para times de futebol. No seu relatório anual mais recente, relativo ao ano de 2022, Evergrande não mencionou o clube, exceto para afirmar que devolveu os direitos de uso do terreno do estádio às autoridades de Guangzhou.

Evergrande, com mais de 300 mil milhões de dólares (R$ 1,8 biliões) em passivos em 2022, procurou freneticamente alienar ativos não essenciais após o incumprimento da dívida internacional no final de 2021.

As autoridades chinesas concentraram-se em fazer com que a empresa concluísse projectos habitacionais inacabados.

Evergrande e o futebol

O clube de futebol foi o principal foco do fundador da Evergrande, Hui Ka Yan, anteriormente o homem mais rico da China, que está sob investigação após o colapso da sua empresa.

Evergrande investiu 1,9 mil milhões de renminbi para construir a Evergrande Football School, uma das maiores academias residenciais de futebol do mundo, com a ajuda dos treinadores do Real Madrid em 2012, informou a mídia estatal na altura.

As dificuldades do Guangzhou FC seguem-se à dissolução do Jiangsu FC em 2021 pelo seu proprietário Suning Appliance Group, também devido a problemas financeiros. A Suning, que até maio passado controlava o Inter de Milão, foi afetada por um investimento numa subsidiária da Evergrande que não estava cotada.

Questões de corrupção também atormentam a liga de futebol do país. Em Setembro passado, a Federação Chinesa de Futebol baniu 43 pessoas para sempre depois de uma investigação ter descoberto a manipulação de resultados.