Episódio 8: Flanar não é vagabundagem

Episódio 8: Flanar não é vagabundagem


Este blog segue a ideia original de buscar uma história de 100 anos atrás, da época das Olimpíadas de 1924, e costurá-la com um evento ou competição de agora em diante. A cada postagem, uma piscadela para ontem e outra para hoje.

Um evento de 1924…

Ó flaneur é uma entidade parisiense. Na pergunta da escritora americana Lauren Elkin, que mora no bairro de Belleville desde 2004: “Onde encontrei essa palavra pela primeira vez, flaneurtão peculiar, tão elegante e francês, com seu O arqueado e seu EUR ondulado?”. Do verbo francês flanerÓ flaneur“aquele que vagueia sem rumo”, nasceu na primeira metade do século XIX, em ingressos de Paris revestida de aço e vidro, época em que o Barão George-Eugène Haussmann, prefeito da cidade, “o artista da demolição”, reinventou o desenho urbano da metrópole, com a abertura de imensas e belas avenidas. Ó flaneur, o andarilho, figura do lazer e do privilégio masculino, e aqui volto novamente para Lauren Elkin, “compreende a cidade como poucos, pois a memorizou com os pés”. Na década de 1860, Charles Baudelaire retratou o sujeito dado à peregrinação como um artista-poeta da cidade moderna: “A multidão é o seu universo, como o ar é o dos pássaros, como a água é o dos peixes. Sua paixão e profissão é casar com a multidão. Para o perfeito flaneurpara o observador apaixonado, é uma alegria imensa residir no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugaz e no infinito”.

De Charles Baudelaire, sobre os andarilhos: “a multidão é o seu universo, assim como o ar é para os pássaros” (Arquivo de História Universal/Getty Images)

Mas, afinal, quem em 1924 perambulava por Paris, o herdeiro de Baudelaire? Louis Aragon, poeta, romancista e ensaísta, então com 27 anos, do grupo surrealista, mas sempre incomodado, um passo à frente. Naquele ano olímpico começou a rabiscar um livro que publicaria em 1926 O Camponês de Paris, uma viagem onírica pela cidade destruída por andaimes. Um dos mais belos capítulos da obra, A Passagem da Ópera, é de 1924. É como um manifesto da beleza, da força das artérias da cidade como organismo vivo, “a alma encantadora das ruas”, como o carioca João do rio do seu lugar no mundo. De Aragão: “’O Boulevard Haussmann chegou, hoje, à Rue Laffitte’, disse outro dia L’Intransigeant. A poucos passos do grande roedor e, tendo engolido a massa de casas que o separa da Rue le Pelletier, virá a estripar o arbusto que atravessa a Passagem da Ópera com a sua galeria dupla, para terminar obliquamente no Boulevard Italiano. É quase ao nível do café Luís XVI que ele se ligará a este percurso através de uma espécie de beijo singular, cujos efeitos nem a ressonância no vasto corpo de Paris não podem ser previstos. Pode-se perguntar se boa parte do rio humano, que diariamente transporta da Bastilha para La Madeleine incríveis torrentes de devaneio e langor, não transbordarão nesta nova saída e assim modificarão todo o curso do pensamento de um bairro e, talvez, de um mundo”.

Também passeando por Paris, nas pistas do moderníssimo estádio Colombes, em Yves-du-Manoir, estava o finlandês Paavo Nurmi, estrela indiscutível dos Jogos, mais que Johnny Weissmuller. Nurmi – o “homem do relógio”, pelo hábito de correr olhando as horas, cronometrando-as com precisão suíça – venceu num espaço de seis dias as provas de 1.500 metros, 3.000 metros por equipe, 5.000 metros e ambas as provas de cross country. No cross country, aliás, os atletas pisaram no solo às margens do Sena, em pouco mais de 10 quilômetros, até a chegada em frente às arquibancadas de Colombes. Eu estava sempre na frente, vagando como Baudelaire, como Aragão.

…e um de agora

Troque os finlandeses pelos quenianos e etíopes, as mecas das corridas de longa distância. Um conselho: siga com atenção, como um flaneur romântica, na final dos 10 mil metros nesta sexta, a sensacional Beatrice Chebet, do Quênia, que já conquistou o ouro nos 5 mil. Em maio ela quebrou o recorde mundial de distância com o tempo de 28m54s14, sendo a primeira mulher a derrubar a casa dos 29 minutos nos 10 quilômetros. O tempo foi 7 segundos mais rápido que a marca anterior, do etíope Letesenbet Gidey, acertada em 2021. Entre os homens, nos 5 mil deste sábado, então, sim, você pode apostar em um “primo” de Nurmi, o norueguês Jakob Ingebrigtsen, que em Tóquio venceu os 1.500 metros. E não há como evitar uma pergunta e resposta do ganhador do Prêmio Nobel Jon Fosse, conterrâneo de Ingebrigtsen, em entrevista a Alessandro Giannini, nas páginas amarelas de VEJA: “Na maioria de seus livros, os personagens são assombrados pelo passado. Porquê isso? É vida. Cada ser humano tem seu passado, que está com ele o tempo todo. Não sabemos a capacidade do cérebro, não sabemos quão grande é. De certa forma, nos lembramos de tudo. Não nos lembramos das coisas conscientemente, mas elas estão em algum lugar. E eles continuam a nos impactar, desta ou daquela forma.”

No episódio final de domingo, 11 de agosto, a embriaguez de Zelda e F.Scott Fitzgerald leva à próxima Olimpíada, em Los Angeles



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