Por André Fontenelle
“Novak Djokovic sofre a primeira eliminação no Aberto da França desde 2009.” “Cerúndolo elimina Djokovic, e Sinner é o novo número um do mundo”. “Djokovic, fisicamente diminuído, cai diante de Cerundolo”.
Na cabine de imprensa de Roland Garros, às vezes é inevitável ler os textos dos colegas ao seu redor, e muitos já tinham o epitáfio pronto para o tenista número 1 do mundo, que perdeu o quarto set por 4/2. Visivelmente com problemas físicos, o sérvio esteve a dois jogos de ser eliminado nas oitavas de final pelo argentino Francisco Cerúndolo.
“Já vi esse filme outras vezes e Djokovic acaba vencendo em cinco sets”, ponderou outro jornalista. A voz da experiência prevaleceu. Servindo para fazer 5/3, aos 30 a 30, o argentino mandou um cruzamento de backhand, e o sérvio devolveu com outro backhand, em paralelo, em cima da linha.
A partir desse momento, a dinâmica do jogo mudou, e Djokovic, de 37 anos, conseguiu mais uma de suas fugas dignas do ilusionista Harry Houdini, para vencer por 6/1, 5/7, 3/6, 7/5 e 6/3 . Cerúndolo, de 25 anos, número 27 do ranking, jogou muito bem, mas caiu de produção nos dois últimos sets.
Foi uma partida dramática, em que Djokovic chegou a pedir atendimento médico no segundo set; às vezes reclamava de barulhos (bebê chorando, assobio, celular tocando) durante os pontos; e levou um susto no quinto set ao sofrer uma queda feia e cair sobre o cotovelo direito.
“A única explicação que encontro são vocês”, disse o sérvio, em francês, ao público de Roland Garros, extasiado após a partida, enquanto os jornalistas trocavam manchetes: “Djokovic avança após mais um feito épico”. “Djokovic, com problemas físicos, vence Cerúndolo em cinco sets”.
O recorde
Com a vitória, Djokovic se tornou o tenista com mais triunfos na carreira nos quatro torneios do Grand Slam (Aberto da Austrália, França e Estados Unidos e Wimbledon): 370, um a mais que o suíço Roger Federer e três a mais que a americana Serena Williams.
Das três partidas mais longas do torneio deste ano, o sérvio disputou duas: 4h39 contra Cerundolo e 4h29 contra o italiano Lorenzo Musetti, na rodada anterior – partida que terminou às 3h em Paris, outro recorde de Roland Garros. No total, foram mais de nove horas na quadra central em um período de 48 horas.
A organização do torneio foi criticada por submeter jogadores e público a um atraso tão grande. Djokovic teria ficado sem treinar entre os dois jogos – e ainda teve que comparecer a um evento promocional, uma partida de petanca, a versão francesa da bocha, no Bois de Boulogne, parque vizinho ao clube de tênis Roland Garros.
Caso perdesse, Djokovic cederia o primeiro lugar do ranking mundial ao italiano Jannik Sinner – que também avançou às quartas de final de Roland Garros.
A notícia de que Djokovic vai às quartas de final e bate recorde em Roland Garros foi publicada pela primeira vez no No Attack da Folhapress.
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