Esta quarta-feira, o comissário-geral da Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos, Unrwa, disse que a intenção de Israel de enfraquecer a agência tem “motivação política”.
Falando aos jornalistas na sede da ONU em Nova Iorque, Philippe Lazzarini disse que a Unrwa tem sido um “alvo fácil para qualquer pessoa que perceba a sua presença e atividades como uma ameaça”.
Desinformação de ambos os lados
Ele disse que este também foi o caso nos últimos anos com o Hamas, que considerou a agência um risco devido ao seu sistema educacional, aos esforços de igualdade de género e ao estabelecimento de códigos de ética para os funcionários.
O comissário-geral explicou que eram frequentes as acusações de conluio da Unrwa com Israel, tal como hoje há alegações de que a agência foi infiltrada pelo Hamas.
No mês passado, o parlamento israelita aprovou legislação que poderá encerrar as operações da agência até Janeiro de 2025. Lazzarini disse que a Unrwa “continuará a prestar serviços até ser forçada a interrompê-los”. Ele disse que espera que esse dia nunca chegue.
Uma agência insubstituível
O responsável da Unrwa afirmou que o que torna a agência “insubstituível” é a natureza das atividades desenvolvidas em áreas como a educação. Ele questionou “quem trará milhares de meninos e meninas que hoje vivem nos escombros para um ambiente de aprendizagem” se a agência for impedida de agir.
Além disso, cerca de 80% da população dependia dos serviços primários de saúde da Unrwa antes da guerra. Atualmente, o órgão realiza 16 mil atendimentos por dia. O chefe da agência disse que a única alternativa na ausência da Unrwa seria se a potência ocupante, Israel, assumisse estes serviços.
Anteriormente, num debate na quarta comissão da Assembleia Geral, Lazzarini disse que o potencial colapso da Agência ameaça “a vida e o futuro dos indivíduos e das comunidades, a estabilidade da região e a integridade do sistema multilateral”.
“Desafio aberto à Carta da ONU”
Para Lazzarini, Israel está a agir unilateralmente para “mudar os parâmetros há muito estabelecidos para a resolução do conflito Israel-Palestina”.
Segundo ele, isto representa um “desafio aberto à Carta das Nações Unidas, às resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança e às ordens vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça”.
Com características únicas entre as agências das Nações Unidas, a Unrwa tem o mandato de fornecer serviços públicos, como educação para mais de meio milhão de crianças e cuidados de saúde primários, na ausência de um Estado Palestiniano.
Unrwa é “uma vítima da guerra em Gaza”
Durante os conflitos, a Unrwa também presta assistência humanitária aos necessitados. Contudo, o comissário-geral declarou que a agência é hoje “uma vítima da guerra em Gaza”.
Pelo menos 243 funcionários foram mortos, outros foram detidos e teriam sido torturados. Até à data, mais de dois terços das instalações da Unrwa foram danificadas ou destruídas.
Lazzarini citou alegações de que grupos armados palestinos, incluindo o Hamas, e as forças israelenses usaram as instalações da agência para fins militares.
Enfatizou que condena veementemente estas alegadas violações e apelou a investigações independentes, com a devida responsabilização pelos ataques ao pessoal, instalações e operações da ONU.
O Comissário Geral esclareceu que a Unrwa não é uma parte no conflito, mas sim o mecanismo através do qual as Nações Unidas são encarregadas, pela Assembleia Geral, de ajudar os refugiados palestinianos.
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