Hortas florestais restauram terras e esperanças na África Subsaariana

A criação de hortas florestais na África Subsariana está gradualmente a ajudar a diversificar as fontes de alimentos e rendimentos, tornando as famílias mais resilientes e combatendo a degradação dos solos na região.

A iniciativa da organização sem fins lucrativos Trees for the Future, conhecida como Trees, foi recentemente designada como Referência da Restauração Mundial pelas Nações Unidas.

“Oásis verde”

Os jardins florestais são concebidos para fornecer às famílias um abastecimento durante todo o ano de frutas, vegetais e outros recursos, incluindo madeira e lenha, para uso próprio e para venda.

Jeandarque Sambou é um dos beneficiários e disse que cada vez que entra na sua horta no centro do Senegal, região que luta contra a desertificação, a visão deste “oásis verde dá um impulso ao seu espírito”.

Nos canteiros de sua horta bem organizada, Sambou cultiva vegetais como repolho, batata e cebola, além de hibisco, uma flor vermelha amplamente utilizada na África Ocidental para dar sabor a geléias e bebidas.

Ela afirmou que “cuida da horta como eu cuido dos meus próprios filhos”, pois o local oferece tudo o que a família precisa e funciona como um seguro contra as incertezas que o futuro traz.

Combater a desertificação

A degradação dos solos afecta comunidades em toda a África Subsariana. Como consequência daquilo que também é conhecido como desertificação, o declínio da fertilidade do solo está a prejudicar o rendimento das culturas e os meios de subsistência, bem como a capacidade dos países de alimentar populações em rápido crescimento.

O modelo de horta florestal de árvores combina a agrossilvicultura, ou seja, a incorporação de árvores e arbustos em sistemas agrícolas, com práticas de cultivo sustentáveis.

O objetivo é aumentar a fertilidade do solo e a produtividade dos pequenos agricultores. Os especialistas argumentam que isto é crucial para combater a pobreza e ajudar as comunidades a tornarem-se mais resilientes aos impactos das alterações climáticas, incluindo secas, inundações e tempestades.

50 mil famílias apoiadas

Durante um período de quatro anos, as famílias que participam no programa Árvores recebem formação, sementes e ferramentas para as ajudar a estabelecer hortas florestais nas suas pequenas parcelas de terra.

A organização informou que desde 2014 apoiou 50 mil famílias no Quénia, Mali, Senegal, Tanzânia e Uganda.

Depois de ser considerada uma Iniciativa de Referência Mundial para Restauração, a Trees será elegível para receber apoio técnico e financeiro da ONU. A instituição disse que pretende restaurar 2.290 quilômetros quadrados até 2030.

À medida que as árvores removem o dióxido de carbono do ar, a iniciativa também deve capturar 80 milhões de toneladas métricas de gases de efeito estufa ao longo de 20 anos.

Milhões de pessoas na região africana do Sahel enfrentam insegurança alimentar causada pela falta de chuva, desertificação e violência

Prevenção de migração

O Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA, disse que iniciativas como as Árvores estão desempenhando um papel importante na reversão de décadas de degradação dos ecossistemas, especialmente no Sahel.

Inger Andersen acrescentou que o projecto contribui para “reduzir a desertificação, aumentar a resiliência climática e melhorar o bem-estar dos agricultores e das suas comunidades”.

Segundo o coordenador regional da Trees, Fatoumata Diehiou, a iniciativa também está a ajudar a travar a migração de jovens das comunidades rurais do Senegal. Segundo ela, quem encontra trabalho na sua região ou país não irá para outro lugar.