Com a Cúpula do Futuro, a ONU procurou promover ações para garantir um planeta habitável para todas as espécies. Em meio a esses debates, uma voz do Brasil destacou a crise causada pelo tráfico de animais, que enfraquece a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas, com impactos inclusive nas mudanças climáticas.
O delegado de polícia e ambientalista Guilherme Dias, chefe da Secretaria de Proteção Ambiental do Paraná, afirmou que esta é a terceira atividade criminosa mais lucrativa do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas e armas.
Tubarões, sapos e araras entre os principais alvos
Em entrevista ao UN News, ele afirmou que o Brasil ocupa posição central no abastecimento de diversas espécies da vida selvagem, devido à riqueza de sua biodiversidade. Isso ocorre tanto para fins de biopirataria quanto para pesquisas ilegais. Tubarões, espécies amazônicas e aves estão entre os alvos mais visados.
“No Brasil o tráfico de barbatanas para uso na culinária é muito presente, o tráfico de sapos venenosos da Amazônia, usados para pesquisa e fins estéticos, devido ao seu veneno, também é muito presente. Tráfico de Araras. Veja que tem muitas araras que são levadas, os ovos dessas araras em coletes nos aeroportos para que esses animais sejam destinados ao tráfico internacional”.
Outro problema relatado pelo policial é o fato de muitas pessoas quererem ter um animal silvestre como animal de estimação em casa, por influência das redes sociais.
Grupo criminoso nas redes sociais
Segundo Dias, a espécie mais traficada no mundo é o pangolim, de origem africana, pois a sua carne é utilizada para alimentação em muitos países asiáticos e as suas escamas são utilizadas para fins medicinais e para fazer jóias.
Sobre as operações recentes no Brasil, o delegado afirmou que foram apreendidas mais de 28 toneladas de barbatanas. Ele também compartilhou detalhes da investigação que liderou para prender um grupo criminoso formado por mais de 20 mil membros, que traficava animais nas redes sociais.
“Foi preciso viajar até o meio da selva amazônica para conhecer os fornecedores desses animais. Foram utilizadas diversas técnicas investigativas, como quebra de sigilo de dados, interceptação telefônica, análise de movimentos financeiros para identificar lavagem de dinheiro. Assim, diversas técnicas foram utilizadas para prender os líderes desta organização criminosa e mais de 3.000 animais ao longo desta operação já foram recuperados e enviados para santuários e soltos na natureza”.
Recepção de animais resgatados
Tão importante quanto resgatar animais é dar-lhes uma nova vida. Nesse sentido, Guilherme Dias também atua como embaixador do Conservatório Onça Pintada, maior criadouro conservacionista da América Latina. O local abriga mais de 3.000 animais de 193 espécies.
“O objetivo é retirar esses animais do tráfico, reproduzi-los e depois promover a sua soltura na natureza. Então, esse é um projeto muito ambicioso, muito bacana, que já promoveu a soltura de animais em diversas regiões do país, inclusive na Argentina. Existem projetos, parcerias com outros países, porque a riqueza da biodiversidade está sendo perdida devido ao tráfico de animais.”
Depois de partilhar o seu trabalho no combate ao tráfico de animais e na sua preservação na Cimeira do Futuro, Dias considera que é necessária mais unidade para lutar pela proteção do planeta. Para ele “os animais ocupam uma posição central nesta luta”.
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