Investigação aponta repressão sem precedentes e crimes contra a humanidade na Venezuela

Investigação aponta repressão sem precedentes e crimes contra a humanidade na Venezuela


A violência contra opositores das autoridades venezuelanas atingiu níveis sem precedentes, segundo uma investigação independente sobre direitos humanos divulgada esta terça-feira. O relatório aponta casos de detenções, abusos sexuais e tortura como métodos utilizados pelo governo do presidente Nicolás Maduro para permanecer no poder.

Num novo relatório, investigadores nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos descreveram como as forças de segurança invadiram dezenas de casas de alegados críticos do governo, usando apenas vídeos das redes sociais como prova para efetuar detenções.

Assembleia Nacional da Venezuela em Caracas

Crise dos direitos humanos

Os testemunhos das vítimas, recolhidos antes e depois das eleições presidenciais de 28 de julho, que devolveram Maduro ao cargo pela terceira vez, indicam “uma das crises de direitos humanos mais agudas da história recente”, como afirmou a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre Venezuela.

Em declarações aos jornalistas em Genebra, a presidente da investigação, Marta Valiñas, destacou que as descobertas mais recentes foram “alarmantes”. Segundo ela, não só não houve melhorias, como as violações se intensificaram, atingindo níveis de violência sem precedentes.

A especialista em direitos humanos descreveu uma “intensificação da máquina repressiva do Estado” contra os seus críticos. Para o grupo, a situação representa “uma continuação de padrões anteriores” que a comissão independente já tinha condenado como possíveis crimes contra a humanidade.

Eleições na Venezuela

Após a reeleição de Maduro, cuja vitória levou a protestos generalizados em toda a Venezuela, Valiñas informou que a investigação confirmou 25 mortes. A maioria das vítimas eram “jovens com menos de 30 anos de bairros populares”. Segundo ela, havia dois filhos entre eles.

Uma das vítimas era membro da Guarda Nacional Bolivariana. Valiñas acrescentou que 24 pessoas “morreram devido a ferimentos à bala e outra foi espancada até a morte”.

O relatório mais recente da Missão de Apuração de Fatos examina a situação dos direitos humanos na Venezuela entre setembro de 2023 e agosto de 2024.

O documento aponta para uma nova deterioração do Estado de direito após as eleições presidenciais, enquanto as autoridades públicas “abandonaram qualquer aparência de independência”, deixando os cidadãos “desprotegidos” contra o “exercício arbitrário” do poder.

Praça Bolívar em Caracas, Venezuela

Praça Bolívar em Caracas, Venezuela

Prisões

Um dos membros da missão de averiguação criada pelo Conselho de Direitos Humanos em 2019, Francisco Cox Vial, explicou que foram documentados mais de 40 casos em que as forças de segurança invadiram casas privadas sem mandados. Eles usaram apenas vídeos de redes sociais como única prova para prender pessoas que acreditavam terem participado de protestos ou que expressaram críticas nas redes sociais.

Segundo investigadores independentes, mais de 120 pessoas foram detidas em Julho em eventos relacionados com a campanha da oposição. Na primeira semana de protestos após as eleições, mais de 2.000 pessoas foram detidas, segundo as autoridades.

Entre os detidos estavam mais de 100 crianças, algumas com deficiência, acusadas de terrorismo e incitação ao ódio, bem como de graves violações do devido processo.

Tratamento cruel

A missão afirma ainda que entre as pessoas detidas durante este período, muitas foram sujeitas a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, bem como a violência sexual, perpetrada contra mulheres, meninas e homens.

Há relatos de choques elétricos, espancamentos com objetos contundentes, asfixia com sacos plásticos, imersão em água fria e privação forçada de sono. A missão constatou que pelo menos 143 destas detenções envolveram membros de sete partidos da oposição, incluindo 66 líderes de movimentos políticos.

De acordo com a investigação, de dezembro de 2023 a março de 2024, pelo menos 48 pessoas foram encarceradas sob alegações de “supostas teorias da conspiração” contra o governo, com mandados de prisão emitidos para outras pessoas.

Entre eles estavam militares, defensores dos direitos humanos, jornalistas e representantes da oposição política.

Francisco Cox Vial afirma que as violações não podem ser ignoradas e representam uma linha de conduta clara e deliberada das autoridades numa perseguição com motivação política. Para ele, muitas dessas denúncias constituem crimes contra a humanidade.



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