Num inquérito divulgado esta quinta-feira, a Organização Mundial da Saúde, OMS, relatou os impactos a longo prazo dos ferimentos causados pela guerra em Gaza. A agência estima que pelo menos 22.500 do número total de pessoas feridas no enclave em 23 de julho sofreram lesões que terão impactos duradouros.
Estes casos exigirão serviços de reabilitação imediatamente e durante anos. Com base nos dados recolhidos pelas equipas médicas de emergência, a análise concluiu que as lesões graves nos membros, estimadas entre 13.400 e 17.500, são a principal causa da necessidade de reabilitação.
Amputações, lesões cerebrais e queimaduras
Muitos dos feridos apresentam mais de uma lesão. Segundo o relatório, também ocorreram entre 3.105 e 4.050 amputações de membros.
O estudo também menciona um elevado número de lesões medulares, lesões cerebrais traumáticas e queimaduras graves, que afetam milhares de mulheres e crianças.
O representante da OMS nos Territórios Palestinianos Ocupados, Richard Peeperkorn, disse que “o enorme aumento nas necessidades de reabilitação ocorre em paralelo com a destruição contínua do sistema de saúde”.
Actualmente, apenas 17 dos 36 hospitais permanecem parcialmente funcionais em Gaza. Os cuidados de saúde primários e os serviços comunitários são frequentemente suspensos ou tornados inacessíveis devido à insegurança, aos ataques e às repetidas ordens de evacuação.
Ataque em escola mata seis funcionários da ONU
Um dos ataques mais recentes em Gaza matou seis funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados Palestinianos, Unrwa. Eles estavam em uma escola transformada em abrigo que foi atingida por dois ataques aéreos israelenses nesta quarta-feira.
Este é considerado “o maior número de mortes de membros da equipe em um único incidente”. Segundo agências de notícias, pelo menos 34 pessoas morreram nos atentados.
Num comunicado, o Secretário-Geral da ONU afirmou que “o que está a acontecer em Gaza é totalmente inaceitável”. António Guterres disse também que “estas violações dramáticas do direito humanitário internacional devem acabar agora”.
A escola Unrwa em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, albergava cerca de 12 mil pessoas deslocadas, principalmente mulheres e crianças. O local já foi atingido cinco vezes desde o início da guerra.
A agência apelou a todas as partes no conflito para nunca utilizarem escolas ou áreas circundantes para fins militares ou de combate. Entre os mortos estava o gerente do abrigo Unrwa e outros membros da equipe que presta assistência aos deslocados.
Destruição econômica
Os danos causados às infra-estruturas de saúde e aos abrigos humanitários em Gaza são acompanhados por “profunda destruição económica”, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.
Num relatório divulgado esta quinta-feira, a agência revelou que no início de 2024, entre 80% e 96% dos activos agrícolas de Gaza tinham sido “dizimados”.
Os danos abrangem sistemas de irrigação, explorações pecuárias, pomares, máquinas e instalações de armazenamento, paralisando a capacidade de produção da região e agravando os já elevados níveis de insegurança alimentar.
A Unctad afirma que a destruição também atingiu duramente o sector privado, com 82% das empresas, um importante motor da economia de Gaza, danificadas ou destruídas.
De acordo com o estudo, o Produto Interno Bruto de Gaza despencou 81% no último trimestre de 2023, levando a uma contracção de 22% durante todo o ano. Em meados de 2024, a economia tinha encolhido para menos de um sexto do seu nível de 2022.
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